13 de abril de 2023

Meu ódio será sua herança

Tela: Christ and the young rich ruler (1889), Heinrich Hofmann

Meu pai instalou um aplicativo na TV que tem um imenso catálogo de filmes. Eu fui à seção Filmes anteriores a 1979, pois curto muito longas antigos. Pois bem. Uma coisa chamou a minha atenção: os títulos. Cada um mais dramático do que o outro! Entre eles, está o faroeste do ano de 1969 "Meu ódio será sua herança". Isso me remeteu a Jesus.

Alguns de nós acreditam que a grande novidade trazida por Ele foi o amor incondicional a Deus e ao próximo. Acontece que esse amor já constava no Antigo Testamento. Tanto no livro do Deuteronômio, quanto no livro do Levítico. Aliás, Jesus não só não foi o pioneiro a instar o amor, como nos aconselhou o ódio. Isso mesmo que você leu.

No capítulo dez do Evangelho segundo São Lucas, Jesus diz: "Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até sua própria vida, não pode ser meu discípulo". De acordo com o professor Élian Curvillier, o termo grego utilizado no texto original é o misein, que se traduz por "odiar" ou "detestar". Em outros termos: Jesus realmente sugeriu que deveríamos entender nós mesmos e os outros como odiáveis. (Essa é dura de engolir, não é mesmo?) Vamos por partes. 

Há um outro filme com título dramático. Trata-se de "Amar foi minha ruína", do ano de 1945. Esse título me leva à passagem bíblica do jovem rico, que procura Jesus pra perguntar o que deveria fazer pra ganhar a vida eterna. Após ele garantir que cumpre todos os dez mandamentos, Jesus expõe que lhe falta vender tudo o que tem, dar o dinheiro aos pobres e, depois, segui-Lo. O que faz o jovem rico? Simplesmente vai embora muito triste. Conclusão: o amor a seus bens, a seu status social, à sua vida era bem maior do que a ânsia de ganhar a vida eterna. Amar era sua ruína. Voltemos ao ódio.

Ainda conforme Élian Curvillier, as palavras duras de Jesus querem nos fazer compreender de uma vez por todas que a verdadeira vida está em outro lugar. Segundo esse professor: "Desde que nossa vida e os outros nos pareçam 'odiáveis', no sentido de que não podem nos dizer o sentido último da existência, estamos no limiar de podermos ser Seus discípulos, ou seja, de vislumbrar o Reino". Em poucas palavras: precisamos ser despojados e desembaraçados, para seguir Jesus.

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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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