20 de julho de 2011

O jovem que VOCÊ é definirá o velho que VOCÊ será

Quem planta amor na juventude não pode colher solidão na velhice.
Um Post d'A Católica sobre idosos carentes e um (meu avô)
cercado de gente e de afeto. Confira.

Imagem: A coffee farmer in rural Brazil USAID-image (Cafe Bom Dia)

Sou do tipo que adora se confessar com o padre. Não tenho vergonha nem pudor algum de contar todos os meus pecados. E gosto de variar: às vezes me confesso com o pároco da minha paróquia; noutras, com sacerdotes que estão à frente de igrejas como a Capela Nossa Senhora do Rosário - a mais antiga de Belo Horizonte, cidade brasileira onde nasci e vivo.

Uma coisa sempre me intrigou: geralmente, e apesar de há muito ser balzaquiana, sou a mais jovem na fila da confissão. À minha frente ou atrás de mim, invariavelmente estão cidadãos de cabeça branca. Alvíssima. Levei um tempo para entender isso (sozinha), já que seria indelicado cutucar o senhor de cabeça "cor de algodão" diante de mim e perguntar: "Ei, velhinho! O que o senhor faz aqui?".

Eu imagino por que os mais jovens, geralmente, não estão na fila para deslindar seus pecados: muitos estão ocupados demais em ser... Jovens. A igreja, seu silêncio, seus rituais, códigos de conduta e aparente rotina são a última coisa com que querem se envolver. Eles deixam para levar Deus a sério quando (como dizemos aqui no Brasil) "dobram o Cabo da Boa Esperança" ou "descem a serra". Em outras palavras: envelhecem.

Mas, voltemos à fila da confissão.

Fotografia de Водник

Num dia, aguardando a minha vez e observando uma senhora negra, de cabeça branca, com várias sacolas à mão, requebrar seus quadris com dificuldade enquanto caminhava até o confessor, tive a seguinte intuição: "Já sei! Esses velhos todos na fila não estão aqui 'apenas' para contar suas faltas! Eles vêm tanto, porque muitas vezes o pároco é a única pessoa que os ouve. A única que têm para conversar!...".

Essa minha percepção não se embasa em "pesquisa sociológica". Não é científica. Contudo, faz algum sentido para mim. Ela foi reforçada pelo fato de que, quando finalmente ficam cara a cara com o padre, os idosos permanecem com ele minutos infindáveis... Falando, falando... Sem objetividade alguma - a objetividade que a Igreja nos recomenda ter, ao procurarmos o Sacramento da Penitência. Aposto que alguns (ou vários) retornam todo mês ou toda semana. Só para se sentirem menos sozinhos.

Isso me fez pensar no meu avô paterno, Raul.