30 de novembro de 2011

Vivemos a cultura do divórcio

IBGE divulga número de casamentos desfeitos no Brasil.
Vaticano celebra 10 anos do Primeiro Casal Beatificado na Igreja.
O que temos a aprender com tudo isso?


(A photograph of a wedding license from 1883, por David W. Crider)

Há três anos, quando pessoas próximas (parentes, amigos) ficaram sabendo que Farney e eu nos casaríamos após 8 anos juntos - seis de namoro e dois de noivado -, ele e eu ouvimos comentários "interessantes". O primeiro foi em 25 de maio de 2008 - guardei a data, porque ocorreu em uma feira de livros aqui em Belo Horizonte, quando adquiri a obra Teresa de Ávila, de Walter Nigg (Edições Loyola).

Naquele dia, uma conhecida do meu marido me perguntou se eu colocaria o sobrenome dele. Respondi que não, que o meu nome completo seguiria o mesmo. Ante a minha resposta, eis "a pérola" que ela soltou: "Melhor assim. Quando tiver que se separar será mais fácil...". Juro, internauta d'A Católica. Não estou brincando. Eu ouvi isso às vésperas do meu casamento.

Alguns meses depois, quando os convites já estavam distribuídos, recebi um telefonema no qual um conhecido meu me desejava Tudo de Bom... Teria sido uma ligação maravilhosa, se ele não tivesse feito questão de acrescentar aos seus votos de Felicidades esta observação: "Mas não se esqueça, Ana Paula. Casamento não tem que ser para sempre. Se tiver que se separar, separe!".

As lembranças desses comentários vieram à tona neste 30 de novembro, porque me deparei com as notícias sobre a nova pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. Os títulos dos artigos na Internet variavam entre Taxa de divórcios atinge seu maior valor em 2010 no Brasil e Taxa de divórcio sobe a 1,8 para cada mil brasileiros.

Fotografia de Frank Vincentz

Achei curiosa a coincidência, pois em 22 de novembro a agência de notícias Zenit publicou o seguinte artigo: Uma Segunda Chance Para o Matrimônio, cujo subtítulo é "Dicas de como reduzir os divórcios". Reduzir? Segundo o texto do site Exame.com, para Cláudio Crespo, gerente de estatísticas vitais do IBGE, "os números [da pesquisa do instituto] confirmam a consolidação da aceitação do divórcio pela sociedade brasileira".

É verdade: os comentários que Farney e eu tivemos que escutar ao anunciarmos o nosso matrimônio em 2008 demonstram que Crespo está com a razão.

O divórcio não somente é aceito aqui no Brasil, como já é esperado por alguns parentes e amigos. Parece que junto com o convite bonito, guardado com carinho em um envelope duro, com os nomes dos noivos e de seus pais em alto relevo e o endereço da paróquia onde se dará a cerimônia, aquelas pessoas conseguem "ver", embora em nenhum lugar esteja legível, a data da separação...

Eu não as culpo.

29 de novembro de 2011

Por que os jovens abandonam a Igreja?

Lembro por que uma vez abandonei a Igreja Católica
e sei muito bem por que eu voltei:
graças aos trabalhos de Padre Marcelo Rossi e da TV Canção Nova

(Padre Marcelo em 2006 - Fotografia de Sérgio (Savaman) Savarese)

Acabei de ler uma notícia recém-publicada no site de notícias Zenit, cujo título é o mesmo que dei a este Post d'A Católica. Ao terminar a leitura do artigo, que gira em torno do lançamento do livro You Lost Me: Why Young Christians are Leaving the Church... and Rethinking Faith (Você me perdeu: por que jovens cristãos estão deixando a Igreja... E repensando a fé), comecei a refletir por que eu, Ana Paula, no início dos anos 1990, com cerca de 15 anos de idade, deixei a Igreja...

... Mas, principalmente por que, já na casa dos 30, voltei. Decidi voltar.

Pelo que apreendi do texto da Zenit, são inúmeros os motivos pelos quais os jovens de cerca de 20 anos de idade abandonam a participação institucional, ou seja, deixam de comparecer às missas: "Ao analisar as causas do afastamento dos jovens das igrejas, Kinnaman [um dos autores do livro] admite que esperava encontrar uma ou duas razões principais, mas descobriu uma grande variedade de frustrações que levam as pessoas a esse abandono".

Uma dessas razões me chamou a atenção:

Em muitos casos, as igrejas não conseguem educar os jovens em profundidade suficiente. Uma fé superficial deixa adolescentes e jovens adultos com uma lista de crenças vagas e uma desconexão entre a fé e a vida diária. Como resultado, muitos jovens consideram o cristianismo chato e irrelevante.

No início da adolescência, comecei a achar a Santa Missa a "coisa mais chata do mundo". Tediosa, repetitiva, sem nexo. Também não entendia por que a gente tinha que levantar, sentar, ajoelhar, levantar de novo, sentar... Não via sentido nessa movimentação toda: morrendo de preguiça, eu só queria saber de ficar assentada até o padre dizer: "Vamos em paz e que o Senhor nos acompanhe". Ao que respondemos: "Graças a Deus". Para a jovenzinha que fui, era "Graças a Deus" mesmo. Literalmente: "Ufa! Acabou!".

Coincidentemente, desolada pela morte da minha avó inesquecível, a Nelita ou Mãe-Ita (sobre quem já publiquei um Post aqui n'A Católica), minha mãe se tornou espírita kardecista. Segundo suas próprias palavras, essa doutrina oferecia um consolo que ela não encontrou na Igreja Católica. Curiosa, aberta ao que é novo e motivada pelo entusiasmo da minha mãe e da minha madrinha, acompanhei-as nessa escolha e também passei a crer em "outras vidas", etc., etc., etc.

Surpreendentemente porém, com o passar dos anos, o espiritismo kardecista não me preencheu. Comecei a sentir falta do Santo Terço, das preces aos santos, dos rituais e de outros elementos que só a Igreja Católica tem.

A questão é: como essa espécie de "saudade do Catolicismo" foi tomando conta de mim? Resposta: foi me dominando, porque no final dos anos 1990 a Renovação Carismática Católica ganhou força no Brasil, sobretudo personificada na figura de um padre alto, de olhos azuis e extremamente animado: Padre Marcelo Rossi.

25 de novembro de 2011

Para entender (e viver) o Advento

Nesse tempo litúrgico, a Igreja se prepara para o Natal,
para se despedir da noite
e receber com festas e cânticos a Nossa Luz: Cristo Jesus!


(Imagem de Gustavo Rezende)

A Igreja Católica não celebra o nascimento do bebê Jesus assim, de qualquer jeito, só porque o calendário indica que 25 de dezembro chegou. Não. Há toda uma preparação que, de acordo com o Dicionário Católico Básico (Editora Santuário, 2002), "inicia-se no quarto domingo antes do Natal e termina antes da primeira prece da noite de Natal". OK. Mas, o que isso implica afinal?

Conforme os Reverendos John Trigilio Jr. e Kenneth Brighenti elucidam no ótimo livro Catolicismo para Leigos (Alta Books, 2008):

O Advento é o tempo em que os fiéis se preparam espiritualmente para o Natal, em meio a todas as compras, decorações, cozinha e festas. O Advento diminui a festividade para os católicos, para que a celebração verdadeira possa tomar lugar no dia do nascimento de Jesus, o Natal.

Assim, durante o Advento (os dois padres continuam):

- Os católicos tipicamente se confessam para prepararem-se para o Natal;
- Alguns vão à Missa todos os dias da semana;
- A maioria ora mais e pratica a paciência e tolerância - enquanto o restante do mundo enlouquece com as compras de Natal (...).

Na obra Para Entender e Celebrar a Liturgia (Cléofas, 2008), Professor Felipe Aquino - que já foi chamado de "Google da Igreja Católica", devido a seu vasto conhecimento - também enfatiza essa preparação:

O Tempo do Advento deve ser uma boa preparação para o Natal, deve ser marcado pela conversão de vida; algo fundamental para todo cristão. É um processo de vital importância no relacionamento do homem com Deus. O grande inimigo é a soberba, pois quem se julga justo e mais sábio do que Deus nunca se converterá. Quem se acha sem pecado não é capaz de perdoar ao próximo e nem pede perdão a Deus.

Outra pergunta se impõe: quais são os meios de que os católicos se valem para viver bem o Advento e efetuar essa preparação para "a Festa do Natal de Jesus"?

14 de novembro de 2011

O jantar dos bichinhos e o sentido da vida

A morte faz parte da vida e lhe dá sentido.
Nossa meta deveria ser acertar de primeira, em vez de
fazer a maioria das coisas com má vontade

(Imagem de David Wagner)

Nunca vou me esquecer daquele dia em que Mamãe Gali fez a minha irmã Andréa Cristina voltar pelo menos 4 vezes à padaria. Nós fazíamos um revezamento: num dia era a minha vez de ir; no outro, era a vez dela. Estávamos as duas entrando na pré-adolescência, naquela fase em que nosso corpo muda e tudo - absolutamente tudo - é motivo de vergonha. Principalmente andar na rua sozinha, com as pessoas nos olhando.

Naquele dia, Andréa Cristina estava "um poço de má vontade"... Chegou em casa com a quantidade errada de pães e sem o leite. Mamãe Gali a obrigou a retornar. Número 1. Depois, ela chegou com a quantidade certa de pães, mas se esqueceu do leite (de novo). Teve que voltar. Número 2. Em seguida, chegou em casa com o leite, mas a moça do caixa lhe deu o troco errado. Lá foi ela outra vez. Número 3. Por fim, ela tornou a não conferir o troco que a tal moça lhe deu. Meia volta para a padaria. Número 4.

A essa altura, meu estômago doía de tanto dar risada da cara da minha irmã, que era de pura desolação: morávamos no terceiro andar e ela subiu e desceu aquelas escadas zilhões de vezes!... Sem contar a vergonha ante os funcionários da padaria! Minha mãe só repetia o dito popular: "Preguiçoso trabalha mais". Pura verdade.

Algumas (ou muitas) vezes, temos uma tremenda falta de cuidado em fazer as coisas bem logo na primeira vez. Ou logo "de prima" - como na gíria do meu primo Carlos William, o Cacá. Damos muita moral à displicência. Uma coisa é errar querendo acertar. Outra bastante diferente é errar por desleixo, falta de concentração, preguiça mesmo.

Pensei nisso tudo depois de assistir no dia 5 de novembro ao programa Questões de Fé, da TV Horizonte.

Naquele sábado, o apresentador Padre José Cândido (da Paróquia São Sebastião, aqui de Belo Horizonte, no Brasil) refletia sobre o feriado de Finados* e afirmava que a função da morte é dar um sentido para a vida. De acordo com o pároco, a finitude dela nos oferece um foco, nos leva a reunir as nossas forças para atingir uma meta. Senão, viveríamos "de qualquer jeito", já que a nossa existência "não acabaria nunca"...

11 de novembro de 2011

Canção contra o Aborto


Nota: Este Post d'A Católica é dedicado a todas as mulheres que já abortaram. Tenho um profundo respeito e compaixão por cada uma delas. Desejo que a misericórdia de Deus as atinja de tal forma, que possam perdoar a si mesmas e seguir adiante. Apesar de tudo, somos todos filhos amados Dele. Que a Misericórdia Divina também chegue a seus filhos que não nasceram.

Este Post também é dedicado a meu primo Flávio Augusto, pai do Gabriel Augusto, que em 1999 me apresentou um dos melhores CDs que conheço: The Miseducation of Lauryn Hill (1998), no qual consta uma das mais lindas canções já gravadas: To Zion. Segundo li, trata-se de uma obra autobiográfica, composta e cantada pela norte-americana Lauryn Hill. Acompanhe.

9 de novembro de 2011

Maus exemplos de idosos

Quando se tem a fronte enrugada e muitos fios brancos na cabeça,
já passou da hora de levar o próprio crescimento a sério.
Chega de agir como se a vida não fosse acabar num dia

(Fotografia de צולם ע"י צביקה שיאון)

Acho que poucos de nós temos a consciência da MORTE. Ou de uma vida após a morte. Desde os mais jovens, a quem assistimos nos telejornais aqui no Brasil dirigindo automóveis embriagados e em alta velocidade, até os mais velhos. Não tratamos a vida como um bem precioso, se não por outra razão, ao menos por ela ser passageira. Agimos como se não temêssemos o Juízo Particular nem mesmo o Juízo Final*.

Como eu disse, parecemos gostar de rotular o comportamento dos jovens de "inconsequente". Geralmente, e conforme a mídia nos passa, são eles ousados e rebeldes o suficiente para se envolverem com drogas a ponto de colocarem em risco o futuro e a própria integridade física. Comentamos nas rodas de amigos ou em festas que a juventude de hoje "está perdida", "sem sentido": são egoístas e dão excessiva importância ao consumismo e às aparências.

Acontece, internauta d'A Católica, que o que me choca bem mais do que assistir ao exército de moças achando que um silicone nos seios será "A Solução dos seus problemas de autoestima" é ver idosos exibindo falhas de caráter que há muito já deviam ter superado. O que me choca não é assistir a alguns jovens desta geração esquecerem a solidariedade, desconsiderarem os regulamentos e desconhecerem os bons modos. E sim, os velhos fazerem tudo isso.

Vejamos.

Tempos atrás, o síndico (ou seria zelador?) de um prédio - um homem com a cabeça branquinha - ocupou descaradamente a vaga de um dos moradores, causando grande transtorno. Em vez de se desculpar e retirar prontamente o seu carro (que tinha o adesivo enorme de uma igreja cristã aqui de Belo Horizonte colado no vidro de trás), decidiu bater boca com o morador e ameaçá-lo. Tudo isso, diante da neta. Ele estava errado e não respeitou nem mesmo a presença da neta de menos de um ano de idade.

Soube desse fato e fiquei pensando na tristeza daquele idoso, que teoricamente está mais próximo da morte do que o jovem morador, uma pessoa de idade agindo com tamanha falta de escrúpulo, demonstrando tanta ausência de bom senso e de civilidade, dando para uma criança tão novinha um exemplo tão vívido de intolerância e arrogância.