4 de janeiro de 2011

Sonhei com o Papa João Paulo II

O sonho (maravilhoso) me ensinou a parar de me dispersar
e me preocupar com coisas sem importância, para curtir o diálogo com DEUS

De domingo para segunda-feira, ou seja, da noite do segundo para o terceiro dia deste Novo Ano, tive um sonho com João Paulo II¹. Você pode se assustar com a provável "riqueza de detalhes" com que o relatarei: é que há anos guardo e anoto todos os meus sonhos marcantes. Desse modo, minha mente, digamos assim, já está meio treinada para memorizá-los, dada a importância que lhes atribuo.

Assim, no tal sonho, eu estava de biquíni (isto mesmo: biquíni), se não me engano, cor azul-claro e nadava em uma piscina ora funda, ora rasa, cheia de gente. Uma das margens da piscina tinha uma areia meio escura e úmida, que se assemelhava à beira de um mar. Eu mergulhava e tentava nadar com desenvoltura até o outro lado, mas havia muita gente (incluindo crianças e seus brinquedos) e estava difícil nadar mais livremente.

Por fim, decidi voltar à margem com a areia, onde estavam as minhas coisas.

Quando eu chego, pessoas começavam a aglomerar-se neste mesmo local.

Olho para cima com os cabelos molhados e vejo o Papa João Paulo II, logo a minha frente, atrás de um pequeno, porém radiante púlpito dourado e vermelho, sorrindo para mim. Fico maravilhada: simplesmente, estava prestes a começar uma Audiência Geral² dele bem ali, diante da piscina. O Papa estava com a aparência dos últimos tempos: um tanto fragilizado.

Na hora, fiquei entre três ações: 1) arranjar algo para me cobrir, pois estava de biquíni, 2) procurar e verificar se a máquina fotográfica estava com filme, a fim de tirar ótimas fotos de close-up dele e 3) não perdê-lo de vista, porque seu olhar para mim era extremamente amoroso e magnético. Seu rosto, embora envelhecido, estava lindo. Quase translúcido - se é que me expresso bem com esse adjetivo.

Então, enquanto procurava a melhor forma de me cobrir e verificava se havia filme na máquina, assessores do Papa transferiram o púlpito que mencionei para mais distante, mais lá para trás, à direita. Fiquei um cadinho transtornada (afinal, estava tão bom tê-lo ali perto de mim!), contudo ainda dava para vê-lo.

Nessa hora, internauta d'A Católica, ocorreu algo incrível. Avistando-me um tanto de longe, o Papa João Paulo II fez um gesto com o braço direito, levantando-o um pouco, e apontou o dedo indicador, de modo a solicitar a seus inúmeros assessores que o recolocassem exatamente onde estava, mais à beira da piscina. Fiquei mais maravilhada: o Papa fazia questão de ficar perto de mim!

Papa João Paulo II no Brasil - 5 de outubro de 1997.
Fotografia de José Cruz (Agência Brasil)

Assim que retornou, deu-me mais uma vez aquele sorriso caloroso, com sua face encantadora. Só que me atrapalhei ainda mais: cobri um pouco do colo com uma toalha cor de vinho, escura, tentei retirar o filme antigo da máquina, com várias fotos tiradas de igrejas e decorações sacras, acabei perdendo algumas poses, devido à incidência da luz, em seguida, procurei um filme novo para colocar nela e...

... Não prestei atenção alguma no que o Papa disse!

Quando dei por mim, a audiência acabou, seus assessores o afastaram de novo e ele começou a receber várias pessoas com deficiência física, a fim de abençoá-las. O curioso é que quem as levava ou as carregava até João Paulo II era uma gente com cabelo preto meio desgrenhado, de fios grossos, rugas bem marcadas no rosto, chapéu escuro, blusa de malha de manga comprida com finas listras em preto e branco, calça preta e maquiagem fortíssima: cara branca, cílios com rímel e nariz meio pontiagudo com tinta vermelha.

Foi aí que me disseram ou fui eu quem disse para mim mesma (não sei ao certo): "Sabe quem leva todas essas pessoas até o Papa? É o mal, a maldade". Acordei.

Não encontrei nada sobre sonhos no Catecismo da Igreja Católica. Aliás, no universo da Igreja, dois momentos em que se menciona sonhos, que me marcaram, referem-se aos magos e a São José. Eles vêm relatados no Evangelho de São Mateus, no Novo Testamento da Bíblia Sagrada.

"Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que ela concebeu por virtude do Espírito Santo. José, seu esposo, que era homem de bem, não querendo difamá-la, resolveu rejeitá-la secretamente.

Enquanto assim pensava, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos e lhe disse: 'José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel (Is 7, 14), que significa: Deus conosco'.

Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa." (Mt 1, 18-24)

Em relação aos magos e a São José:

"E eis que e estrela, que [os magos] tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino [Jesus] e ali parou. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.

Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes [chamado o Grande, rei da Judeia], voltaram para sua terra por outro caminho.

Depois de sua partida, um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse: 'Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito; fica lá até que eu te avise, porque Herodes vai procurar o menino para o matar'. José levantou-se durante a noite, tomou o menino e sua mãe e partiu para o Egito" (Mt 2, 9-14).

Apesar de desconhecer uma palavra da Igreja a respeito, prefiro acreditar que Deus pode falar conosco, incluindo através dos sonhos que temos. Sim, porque Ele usa de tudo para falar e, às vezes, (como dizia o saudoso Padre Léo) até mesmo berrar conosco. O que me fez lembrar a lindíssima canção do Márcio Todeschini (um dos meus compositores católicos preferidos): Fala, Senhor.


Deus quer falar comigo
em coisas tão pequenas,
nas coisas simples

Eu quero ouvir Sua voz...
Preciso estar atento
A todo movimento
do Céu em direção a mim

Fala, Senhor, preciso ouvir Tua voz
Eis aqui o Teu servo...
Fala no irmão, na Palavra, Senhor,
e no meu coração

Não entendi todo o sonho que tive. Porém, uma coisa é certa: o milagre, a grandiosidade de Deus estavam diante de mim - o Papa me sorrindo com tamanha alegria e tanto amor - e eu, preocupada com outros afazares: cobrir o meu colo quase nu com o biquíni azul e tirar retratos. Ou seja: em vez de curtir aquele momento, mergulhar na beleza e singularidade daquela situação, fiquei dispersa e perdi o que João Paulo II falou na "Audiência Geral".

Quantas vezes fazemos isso, não é mesmo?

Estamos ali, na Igreja, diante daquele encontro semanal ou diário com o próprio Cristo, no altar e em seguida dentro de nós, ao recebermos a Comunhão durante a Santa Missa, e, no entanto, nos deixamos dispersar com o nosso penteado, a roupa da mulher do banco à frente ou ao lado, a quantia que meu vizinho de banco doou no ofertório, pensamentos do que vou fazer logo depois que deixar a igreja e por aí vai...

Deus quer falar ou berrar conosco, todavia estamos ocupados demais com coisas tolas que julgamos importantes.

E isso vale inclusive para os momentos em que nos propomos a ler a Bíblia e fazer o nosso Diário Espiritual ou recitar o rosário. Também, rezar o Pai Nosso e a Ave, Maria. No mundo barulhento e cheio de afazeres no qual vivemos, não há espaço nem tempo apropriados para parar e... Ouvir o Senhor. Com o sonho que tive, aprendi que depende de nós criar a situação propícia para isso.

Saúde e Paz!!

Notas do Post:
¹Sumo Pontífice de 1978 a 2005. Segundo Richard P. McBrien (Os Papas - Os Pontífices: de São Pedro a João Paulo II, Edições Loyola, 2004):

O Papa que mais viajou até hoje e o primeiro papa eslavo e polonês, João Paulo II teve um amplo e profundo impacto na comunidade mundial, por intermédio de suas visitas pastorais a todas as partes do globo, suas encíclicas sobre temas morais, socias e tradicionalmente religiosos, seus escritos pessoais e o "Catecismo da Igreja Católica", publicado sob sua autorização.

Desempenhou papel significativo na derrocada definitiva do império soviético (...). Seu pontificado também tem sido marcado por denúncias proféticas de injustiça e opressão sociais em várias partes do mundo, o reconhecimento dos pecados da Igreja quando ela se aproxima do novo milênio, uma notável abertura às religiões não-cristãs (...).

²As audiências pontifícias são visitas ou recepções dadas pelo Papa a uma pessoa ou grupo de pessoas que visitam a Santa Sé (ou o Vaticano). Elas se dividem em gerais e públicas - que, muitas vezes, ocorrem na Praça de São Pedro - e semiparticulares ou particulares. No verão, "realizam-se na residência de verão do Papa, em Castel Gandolfo, distante 25 km de Roma [Itália]". Fonte: Os Papas - Os Pontífices: de São Pedro a João Paulo II (Edições Loyola, 2004).


Fotografia do Papa na Audiência Geral na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 17 de julho de 1985, por James G. Howes


~Ana Paula~A Católica
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