27 de janeiro de 2011

Eu não acuso político de "corrupto"

Quando se trata de xingar alguém
de "ladrão" ou "sujo", sou cautelosa:
será que já não enganei também?
Internauta d'A Católica, Saudações!!

Este é um Post-Recado. Será breve. É sobre corrupção. E, também, falta de caridade.

Sempre que estoura algum escândalo de desvio de verbas, compra de votos no Congresso Nacional e outras vergonhas aqui no Brasil, ao contrário de algumas pessoas, eu não me exalto de dedo em riste, xingando (até com palavrões) alguns dos nossos deputados federais ou senadores: "Ladrão!", "Corrupto!", etc. Fico indignada sim. Contudo, muito mais triste. E pensativa.

Corrupção, segundo o dicionário, é "depravação"; "suborno"; "alteração". Depravação é perversão, do verbo perverter, cujo sentido é "perturbar a ordem ou estado das coisas"; "desvirtuar". Suborno é substantivo e o verbo é subornar, o qual significa "induzir a proceder mal"; "corromper com dádivas ou promessas". Por fim, alteração, cujo verbo equivalente é alterar: "perturbar"; "falsificar"; "desfigurar".

Agora, você vai entender por que não consigo me exaltar tanto com um novo escândalo de corrupção implicando políticos ou outros oficiais: porque perverter, subornar e alterar não são exclusividade deles. Alguns de nós (e se este não é o seu caso, dou-lhe Meus Parabéns), bem, praticam corrupção em pequenas ou médias doses algumas vezes por ano, por mês, por semana e até a cada dia.

Conheço história de gente, cidadão brasileiro, que nunca declarou Imposto de Renda. Isso mesmo. Nunca. Há outra mais comum: estudante que deixou de ser estudante, que não está vinculado a nenhuma instituição de ensino, nem mesmo um cursinho de inglês, e que manda fazer Carteira de Estudante (falsificada, claro), a fim de pagar meia entrada em espetáculos artísticos - cinema, teatro, shows...

Noutro dia, acompanhei pela TV, no programa Fantástico da Rede Globo, três ou quatro alunas do estado do Paraná (se não me engano), que simularam ao ProUni serem "carentes", a fim de conseguirem abatimento na mensalidade das faculdades particulares que cursam. A reportagem mostrou que uma delas seria filha do dono do bufê mais chique da cidade. (Você pode se inteirar do caso neste Link.)

Alguns de nós, de um jeito ou de outro, cometemos atos que nos põem em pé de igualdade ao que (algumas vezes) ocorre no Congresso Nacional envolvendo políticos que elegemos, que escolhemos e colocamos lá, para nos representar.

Como a idosa que preencheu uma papelada para justificar ao SUS, o Sistema Único de Saúde, por que deveria receber remédio de graça. Apesar de ter 3 rendas (duas aposentadorias e o aluguel de uma casa) e 2 filhos que recebem até R$ 16 mil por mês, ela "explicava" ao governo que "não tem condições de pagar pelos medicamentos". Isso me choca.

Fotografia de Anna Cervova

Porque o SUS garante "acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país". Porém, o Estado deve direcionar os recursos - que não são infinitos - para atender aqueles que, de fato, não têm a quem recorrer: nem renda(s) própria(s) nem filho rico. Senão, ele quebra. Isso é consciência, ética e caridade.

E aqui encerro este Post d'A Católica.

Antes de nos indignarmos com a próxima capa de revista semanal, denunciando casos de corrupção envolvendo as esferas públicas, deveríamos parar, respirar, olhar no espelho e nos perguntar: "Será que eu ou algum parente meu não somos 'tão sujos' quanto julgo ser alguns políticos que estão no comando do Brasil?"; "Será que as pequenas ou médias corrupções que cometo não me equiparam a eles?".

É isso. Saúde e Paz!!


Imagem no início do Post, por Matthias M.


~Ana Paula~A Católica
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