25 de janeiro de 2011

E Saulo virou... Paulo

Cavalo? Que cavalo? A Bíblia não menciona nenhum quando
o perseguidor de cristãos foi ao chão. E mudou de vida e de nome.

Dia 25 de janeiro, a Igreja Católica recorda e celebra a Conversão de São Paulo. Chamado de 13º Apóstolo ou Apóstolo dos Gentios. Ao ler as 13 cartas que ele escreveu (ou ditou), e que estão elencadas no Novo Testamento da Bíblia Sagrada, temos a impressão de que se trata de uma pessoa severa e determinada, certíssima daquilo que quer e daquilo que precisa ser feito.

Mas, também, de alguém muito amoroso e que se esforça para demonstrar a sua amabilidade e compaixão pelos seus semelhantes - basta ver os beijos que distribui logo no início de algumas epístolas e a preocupação com o bem-estar das pessoas que conheceu e das comunidades que fundou ou visitou.

Analisar o conteúdo das suas cartas, que estão organizadas na Sagrada Escritura das maiores até as menores (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Filêmon), nos enche de motivação para lutar, a fim de nos aproximarmos o máximo possível do seu exemplo de destemor, alegria, entrega e, sobretudo, do tamanho e firmeza da sua fé.

Fotografia de Peter Griffin

A história de Paulo com a fé cristã começou, decisivamente, naquele dia em que, obstinado em perseguir e deter os seguidores dos ensinamentos de Cristo (fariseu* que ele era), caiu. Poft. Caiu no chão. Não do cavalo, como nos levaram a crer. Basta conferir as três passagens dos Atos dos Apóstolos (Novo Testamento), nas quais São Lucas nos conta a sua "reviravolta radical", que ocorreu em uma estrada perto de Damasco, na Síria: At 9, 1-19; 22, 5-16; 26, 9-18.

Caído, Paulo - que até então se chamava Saulo -, ouve o próprio Jesus Cristo indagar-lhe: "Saulo, Saulo... Por que me persegues?". Prostrado e rendido pela autoridade e o amor de Deus, sintetiza a perplexidade daquele momento com uma outra pergunta: "Senhor, que queres que eu faça?". O Post de hoje d'A Católica quer se reter nesta "experiência de transformação total do Apóstolo".

Conforme o excelente livro Um Santo para Cada Dia (Paulus, 1996), "em poucos segundos de contato direto Jesus o transformou de um ferrenho perseguidor no maior Apóstolo do seu Evangelho em todos os tempos". Os autores, Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini, chamam a atenção:

Nas suas 14 epístolas [13, na verdade] que escreveu percebemos o efeito da graça do caminho de Damasco, impossível de se entender como alucinação ou simples fato psicológico. Aí está o dedo de Deus, o milagre.

J. Alves, em Os Cinco Minutos dos Santos (Editora Ave-Maria, 2006), afirma: "Sua conversão não foi resultado de uma busca racional, mas fruto do poder de Deus em sua vida (Gl 1, 12-15; ...)".

Enzo Lodi, em Os Santos do Calendário Romano (Paulus, 2007), ressalva: "Deve-se compreender essa experiência de transformação total do Apóstolo, devida à intervenção de Deus na personalidade de Paulo, na dinâmica de uma descoberta progressiva". Ele continua:

Ser testemunha da verdade de Cristo como Paulo (...) significa, portanto, aceitar também a paciente descoberta da fé no soltar-se dos fatos e das experiências da vida tanto individual como eclesial. Paulo, depois da fulguração de Damasco, retirou-se, por cerca de três anos, para a Arábia (...), a fim de que amadurecessem as dimensões concretas de sua vocação (cf. Gl 1,17).

Imagem de São Paulo - fim do século 18 - Foto de Jojojoe

Ou seja: ele caiu no chão, ouviu a voz de Cristo e não saiu imediatamente a testemunhá-Lo e proclamá-Lo entre os gentios. Recolheu-se, orou - aprofundou-se por alguns anos antes de transbordar a verdade cristã, que lhe foi revelada. Paulo não teve a epifania do encontro com o Redentor e pôs-se a correr, apressado e desnorteado, a fim de anunciá-Lo. Refletiu. Frutificou essa experiência única em seu coração primeiro.

"Senhor, que queres que eu faça?" - hoje, (re)lembrando essa sua mudança de vida, de fariseu para cristão, podemos repetir essa mesma pergunta a Jesus. O que será que Ele quer de nós? De você? De mim? Não é possível obter a resposta se não lemos a Bíblia, se não paramos para rezar, se não silenciamos o alarido da nossa prepotência e, às vezes, da arrogância de achar que já "dominamos" a resposta.

E aqui, encerro este Post d'A Católica. Com a seguinte colocação de Enzo Lodi:

Um traço da espiritualidade paulina (...): Cristo era o centro da vida de Paulo. Por isso o encontro com ele em Damasco não foi só um momento transformante e fundante, mas também o ponto unificador de referência de toda a sua ação apostólica. "Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro" (Fl 1, 21...); "Eu vivo pela fé em Cristo" (Gl 2, 20...).

Só me resta desejar a você, caro internauta, Saúde e Paz e convidá-lo a meditar comigo as preces a seguir. Vamos juntos? São Paulo, Rogai por Nós!

Prefácio
(Os Santos do Calendário Romano, Paulus)

Tu, manifestando o admirável poder de Tua graça,
em providencial desígnio escolheste o apóstolo Paulo
para levar aos pagãos o alegre anúncio
da salvação de Teu Filho.

Aquele que no passado,
perseguindo os cristãos, havia combatido a Igreja,
tornou-se apóstolo forte e fiel,
para que Jesus Cristo completasse nele Sua paixão
para a salvação dos crentes.

Oração
(Orações Particulares, Editora São Cristóvão)

Ó grande apóstolo São Paulo,
mestre dos gentios, corajoso seguidor de Cristo,
destemido evangelizador, fundador de comunidades,
dai-nos este espírito de apóstolo de Vosso Mestre Jesus,
a fim de que possamos dizer a todos -
"Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim".

Iluminai a todos os povos com a luz do Evangelho,
que com tanto amor testemunhastes,
procurando estabelecer no mundo
o Reino de justiça e de amor do Vosso Mestre.
Suscitai muitas vocações missionárias,
que a vosso exemplo levem Cristo a todos os povos.

São Paulo apóstolo, rogai por nós.

P.S. *Fariseu é um "membro de uma seita de judeus que ostentava grande santidade exterior na sua vida" (Dicionário Priberam). Segundo a nota da Bíblia Vozes (Editora Vozes, 2005), Jesus condenava não a doutrina, mas a hipocrisia e soberba dos fariseus, que os levavam a desprezar a massa "ignorante".


Fotografia do cavalo, por Vera Kratochvil


~Ana Paula~A Católica
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