Internauta d'A Católica: agora, neste momento em que começo a digitar este Post do Blog, são 00h47. Há cerca de cinco (isto mesmo: cinco) minutos, o comentarista do Jornal da Globo, Arnaldo Jabor, acabou de afirmar que o crime que o rapaz de 23 anos cometeu na escola no bairro de Realengo, no Rio de Janeiro, foi "religioso" e que a tragédia prova que "Deus está ausente".
Estou estupefacta por sua opinião, porque (caso você não saiba) Arnaldo Jabor é uma personalidade, digamos, respeitada no Brasil, cineasta famoso, etc., que costuma comentar fatos da atualidade no Jornal da Globo, que vai ao ar por volta da meia-noite na maior emissora de TV do meu país.
Engraçado que, mais cedo, em torno das 13h30, o professor Mário Sérgio Cortella foi a outro telejornal da mesma emissora, o Jornal Hoje, asseverar justamente o contrário: que é imprescindível sim, pesquisar e localizar uma causa, uma razão para o que ocorreu, mas que agora seria insensato e não recomendável apontar, isoladamente, este ou aquele motivo: "Ah, a culpa foi da religião" ou "Ah, a culpa foi da Internet".
Que diferença! Duas opiniões contrastantes no mesmo dia, digo, no mesmo espaço de 24 horas, na mesmíssima emissora de televisão.
Tive pena de Arnaldo Jabor. Nada, absolutamente nada contra ele ter uma opinião: afinal, a Rede Globo o paga (ou deve pagá-lo) para isso. Para se pôr diante das câmeras, filmado da barriga pra cima, para gesticular com seu terno escuro e sua gravata colorida as suas impressões aparentemente "sensatas" para milhares de telespectadores.
Porém, hoje, notei-o mais alterado do que de costume.
Parece que ele aproveitou o ensejo da carta suicida do rapaz, que menciona Deus e Jesus Cristo, para exibir toda a sua aversão à religiosidade e à fé na existência de Deus. Arnaldo Jabor se afigurava a qualquer coisa, menos a uma pessoa ponderada fazendo colocações fundadas em argumentos inteligentes. Falou destemperadamente como se (eu disse "como se") quisesse convencer o telespectador de que quem acredita em Deus é tão estúpido quanto o jovem atirador.
O comentarista/cineasta terminou insinuando que o massacre na escola - que vitimou fatalmente 12 pré-adolescentes e deixou outros 13 feridos - é prova contundente de que Deus não existe. "Ele está ausente", garantiu.
Não vou escrever este Post como se "conversasse" com Arnaldo Jabor. Sua posição inflamada me convenceu de que ele não estaria aberto a um diálogo. A mim, e acho que não estou enganada, ficou claro que ele não acredita em Deus. E ponto. Portanto, vou falar com você: meu importante e estimado internauta. A chacina na escola no Rio teve momentos decisivos que mostraram, ou melhor, que berraram que Deus estava presente sim.
Ele estava presente quando aqueles meninos feridos desceram correndo dois quarteirões para chamar os policiais que atuavam em uma blitz no trânsito, a fim de deterem o moço armado com dois revólveres, que pretendia matar muito mais gente do que já havia matado. Ele também estava presente quando um dos militares, Sargento Márcio Alves, conseguiu alvejar o atirador na perna*. A intenção era imobilizá-lo, mas Wellington Menezes de Oliveira preferiu se suicidar com um tiro na cabeça.
Deus estava presente ainda quando voluntários transportaram crianças feridas mesmo em uma carroceria de caminhão, o mais rápido possível, antes que as ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e do Corpo de Bombeiros pudessem chegar ao local do incidente. Deus estava presente quando médicos, enfermeiros e auxiliares se reuniram na emergência de um dos hospitais e, aos prantos, assustados com a brutalidade do crime, empenharam-se em salvar a vida de cada um dos feridos.
E sabe onde mais Deus estava, está e estará presente? Na vida dos parentes que ficaram com a dor da perda, da incompreensão e da saudade.
Embora seja difícil a ateus como (eu acredito que seja) o comentarista do Jornal da Globo entenderem, uma fatalidade como a que ocorreu no dia 7 de abril não abala a fé em Deus. Muito antes pelo contrário: só nos braços Dele todos nós encontramos o consolo, o amor e a perseverança para seguir em frente. Ele está conosco "todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28, 20).
Cada um vê o que quer.
Arnaldo Jabor, com seus olhos céticos, viu a ausência de Deus. Eu, com meus olhos de cristã, e cristã católica, vi e vejo Deus naquela escola a todo o momento. Ele estava lá. Só não impediu a ação do rapaz, porque existe algo chamado liberdade. Nós não somos marionetes de Deus. Somos "imagem e semelhança" Dele (Gn 1, 26-27) e, como imagem e semelhança, agimos com liberdade e pela própria vontade. Padre Léo esclareceu uma vez, em uma de suas maravilhosas palestras:
"Deus criou o mundo sozinho. A luz, a Terra, os animais, tudo. Porém, desde que criou o homem, Ele nunca mais agiu diretamente na história. Deus não pode mover este copo de água sem a minha mão, a minha vontade. O único lugar onde Ele põe o dedo é no ventre de uma mãe. E só".
Para ateus, fica difícil abarcar isso. Posso entendê-los. Não os recrimino. Só acho que não dá para considerar que o raciocínio de Arnaldo Jabor, dito como foi dito, tem o mesmo peso, a mesma força e a mesma credibilidade das ponderações sensatas, bem fundamentadas, tranquilas e inteligentes de Mário Sérgio Cortella, mais cedo, no Jornal Hoje. Saúde e Paz!!
P.S. Assista neste Link ao vídeo do Jornal Hoje com as colocações brilhantes e bem desenvolvidas de Mário Sérgio Cortella.
P.S.2 *No dia 12 de abril, o Instituto Médico Legal (IML) elucidou que o policial atingiu o abdome, e não a perna do atirador.
~Ana Paula~A Católica