Todos temos aquele gesto especial que consegue nos tranquilizar nas horas mais incertas. Alguém supersticioso, por exemplo, faz figa com a mão: punhos fechados e o polegar apertado entre os dedos médio e indicador. Outra pessoa passa a mão no terço que traz na bolsa e o segura firme. Um terceiro olha para o céu e respira fundo. Eu, a Bloggueira que lhe escreve, sempre recito a Oração a São Jorge que minha mãe, Magali, me deu. Ela me dá força. Me faz me sentir imbatível.
Por isso, vou logo começando este Post d'A Católica, em plena Semana Santa, dividindo com você essa prece. Quero que, como eu, você também vá experimentando a intrepidez de Jorge. De São Jorge, cuja memória toda a Igreja celebra nesta semana, no dia 23 de abril.
Chagas abertas, Sagrado Coração. Todo amor e bondade, o sangue do meu Senhor Jesus Cristo no meu corpo se derrame, hoje e sempre.
Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge. Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me enxerguem e nem pensamentos eles possam ter para me fazerem mal. Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrarão sem ao meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão sem o meu corpo amarrarem.
Jesus Cristo me proteja e me defenda com o poder da Sua santa e divina Graça, a Virgem Maria de Nazaré me cubra com seu sagrado e divino manto, me protegendo em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com a Sua Divina Misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meus inimigos e o glorioso São Jorge, em nome de Deus, em nome de Maria de Nazaré, em nome da falange do Divino Espírito Santo, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza do poder dos meus inimigos carnais e espirituais e de todas as suas más influências e que, debaixo das patas do seu fiel ginete, meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós, sem se atreverem a ter um olhar sequer, que me possa prejudicar.
Assim seja, com o poder de Deus e de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo. Amém.
Saint George (1472), Carlo Crivelli |
Antecedentes
Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini em Um Santo para Cada Dia (Paulus, 1996) pontuam:
Se de São Jorge possuímos só os Atos do martírio e mais precisamente sua Paixão - considerada apócrifa (...) -, poderíamos até duvidar de sua existência histórica. Todavia não se pode apagar com um simples golpe de caneta uma tradição tão universal: a Igreja do Oriente o chama de grande mártir e todos os calendários cristãos incluíram-no no elenco dos seus santos.
Frei Jorge E. Hartmann OFM (Ordem dos Frades Menores) continua o relato: "Narra-se aí [na Paixão] que Jorge teria nascido na Capadócia, atual região da Turquia. Após a morte de seu pai, oficial do exército imperial, migrou com a mãe para a Palestina. Seguiu a carreira militar como seu pai". J. Alves, em Os Cinco Minutos dos Santos (Editora Ave-Maria, 2006), nos conta:
São Jorge teria sido o tribuno da guarda romana que se rebelou contra o edito de Diocleciano, que ordenava a destruição das igrejas cristãs, a queima dos livros sagrados e a redução à condição de escravo de todos os cristãos no exercício de algum cargo público.
Diocleciano, conforme já expus em três outros Posts d'A Católica (Falando em Olhos...; Não deixe para amanhã: grite HODIE! e Expedito: um santo pra quem tem pressa), foi o imperador romano que organizou a mais dura perseguição aos cristãos. Assim, "São Jorge sofreu o martírio, sendo decapitado em Lida, na Palestina, no início do século IV. Desde então começou a ser venerado com o título de 'Grande Mártir' e grande lutador em defesa da fé cristã", segundo Frei Jorge E. Hartmann OFM. Antes do martírio, o santo foi "longamente torturado". De acordo com Sgarbossa e Giovannini:
Foi condenado à morte por ter renegado aos deuses do império. Os algozes infligiram-lhe no corpo os mais atrozes tormentos. Ele parecia de ferro. Diante de sua invicta coragem e de sua fé, a própria mulher do imperador se converteu. Muitos cristãos, amedrontados diante dos carrascos, encontraram a força de dar o testemunho a Cristo com o extremo holocausto de suas vidas. Por fim, também São Jorge inclinou a cabeça sobre uma coluna e uma espada superafiada pôs fim a sua jovem vida.
Por que São Jorge é representado montado num cavalo e matando um dragão?
A painted historical document from Georgia from the 18th century - Autor Desconhecido |
Conforme a obra Um Santo para Cada Dia, "a imagem de todos conhecida, do cavaleiro que luta contra o dragão, difundida na Idade Média [período que foi do século V ao XV aproximadamente], faz ver a origem da lenda criada sobre esse mártir e contada de várias maneiras em suas muitas paixões". J. Alves resume a propalada história:
É representado empunhando uma lança em combate crontra o dragão que, segundo a lenda, habitava as águas profundas de um lago, alimentando-se de tenras ovelhas e delicadas virgens. Um dia, antes que fosse devorada, a filha do rei foi libertada por um corajoso cavaleiro, que atravessou o dragão com a lança, ou como diz outra versão, transformou o dragão em manso cordeiro a perambular dócil pelas ruas da cidade.
Na obra Os Santos do Calendário Romano - Rezar com os santos na liturgia (Paulus, 2007), Enzo Lodi escreve: "A lenda do dragão ferido pelo cavaleiro porque devorava seres humanos (...) pode ser interpretada em sentido simbólico, como a superação dos sacrfícios humanos naquela terra pagã (...)".
No livro 50 Santos (Edições Loyola, 2005), que mereceu uma resenha do Blog A Católica - "50 santos": um livro que ajuda você a ser bem-sucedido na VIDA -, o monge beneditino alemão Anselm Grün interpreta a lenda psicologicamente:
O dragão é uma imagem do mau e do perigo que sai do pântano de nosso inconsciente e ameaça tragar nossa força. Sim, ele também quer devorar a criança interna, nossa imagem original e não adulterada. (...)
Jorge é o padroeiro de todos aqueles que se sentem entregues sem proteção ao dragão. O sentido mais profundo de sua legenda [para definição de legenda, ver a página ABCatólica do Blog] nos diz que não somos desprotegidos e impotentes. Temos em nós uma força com a qual podemos nos defender. O dragão também representa os lados de sombra do ser humano. (...) Há em nós tendências que não podemos deixar à vontade. Temos de lutar constantemente contra elas e expulsá-las. (...)
Em você mesmo existe uma força com a qual você pode se defender. Defender-se não significa travar uma luta de poder com quem o ameaça. Trata-se de ser firme, de permanecer em você, de permanecer ao seu lado. E você precisa de agressão para se defender, a fim de que os ataques do outro não possam feri-lo. Quando você entra em contato com sua força interna, os outros não têm mais poder sobre você.
Frei Ildefonso Silveira, citado por Frei Jorge E. Hartmann OFM, pondera: "A arte figurou São Jorge de muitas maneiras. Entre nós, prevalece a representação dele na sua luta contra o dragão. (...) Seria de lamentar, se os católicos, na sua devoção a São Jorge, matador do dragão, não vissem em tal imagem o símbolo da proteção divina contra os assaltos dos inimigos da vida cristã".
Fico por aqui, internauta.
Espero que este Post d'A Católica tenha lhe trazido informações frutuosas que alimentem a sua devoção ou, caso não seja devoto de São Jorge, que o encorajem a pedir a intercessão desse valoroso santo. Recorrer a ele, recitando a oração que lhe apresentei no início deste Post, sempre me revigora e me torna inspirada pelo seu exemplo de defensor da fé cristã contra os inimigos - personificados no imperador Diocleciano.
Como fã ardorosa de Música Popular Brasileira (MPB), deixo-o com a maravilhosa canção Jorge da Capadócia, de Jorge Ben Jor. Uma música, interpretada pelo próprio autor, que é, ela mesma, uma oração. Saboreie a letra e o vídeo do You Tube.
São Jorge, Rogai por Nós!
Jorge é da Capadócia
Jorge é da Capadócia
Jorge sentou praça na cavalaria
Eu estou feliz porque
Eu também sou da sua Companhia
Eu estou vestido com as roupas
E as armas de Jorge
Para que meus inimigos tenham mãos
E não me toquem
Para que meus inimigos tenham pés
E não me alcancem
Para que meus inimigos tenham olhos
E não me vejam
E nem mesmo um pensamento
Eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo, meu corpo não alcançarão
Espadas, facas, lanças se quebrem,
Sem o meu corpo tocar
Cordas, correntes se arrebentem
Sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas
E as armas de Jorge
Jorge é da Capadócia, viva Jorge
Jorge é da Capadócia, salve Jorge
~Ana Paula~A Católica