29 de abril de 2011

Lembrando Diana - a rosa da Inglaterra

O Casamento de William e Kate me fez pensar na Grande Ausência
da mãe do herdeiro do trono britânico: Princesa Diana.
Relembre as circunstâncias de sua morte e confira um editorial

Fotografia de Vojko Kalan

Dizem que cerca de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo se postaram em frente à TV, a fim de assistir, nesta sexta-feira, ao casamento do Príncipe William - que (conforme a imprensa) recebeu da avó, a Rainha Elizabeth II do Reino Unido da Grã-Bretanha, o título de Duque de Cambridge - com Kate, que se tornou Duquesa Catherine. Eu fui uma delas. Uma dos 2 bilhões de telespectadores.

A cerimônia na Abadia de Westminster, da Igreja Anglicana, que fica em Londres (Inglaterra), foi belíssima. Destaco duas coisas: as tomadas de câmera, que começavam lá do alto e sobrevoavam os chapéus coloridos das elegantes convidadas (nobres ou não), e também o coral de meninos, que entoou várias canções as quais, mesmo sem entender nadinha dos versos, me emocionaram. O irmão da noiva, James Middleton, leu trechos de uma das epístolas de São Paulo, a Carta aos Romanos. Alguns versículos:

"Que vossa caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem. Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos outros. Não relaxeis o vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor. Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração. Socorrei às necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da hospitalidade.

Abençoai os que vos perseguem; abençoai-os, e não os praguejeis. Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram. Vivei em boa harmonia uns com os outros. Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com as coisas modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos.

Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens. Se for possível, quanto depender de vós, vivei em paz com todos os homens. Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor.

Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem" (Rm 12, 9-21).

Analistas disseram na TV que se trata de um texto religioso com forte mensagem política, adequada para um mundo globalizado e multiculturalista, urgentemente necessitado de respeito mútuo, entendimento e tolerância quanto o que vivemos.

Porém, este Post d'A Católica é para "chorar", digamos assim, uma ausência sentida no evento desta sexta-feira: a da Princesa Diana, mãe do Príncipe William, recém-convertido em Duque de Cambridge. Revirando anotações antigas, encontrei um editorial que escrevi para o Jornal Mural exibido na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich-UFMG), onde estudei Comunicação Social-Jornalismo.

Diana morreu aos 36 anos de idade na madrugada de 31 de agosto de 1997. Sua agonia, que durou cerca de três horas, começou em um túnel próximo ao rio Sena, em Paris (França).

Fotografia (sem data) de Nick Parfjonov

Segundo matéria da revista IstoÉ (10 de setembro/1997), a princesa (ela não perdeu o título, apesar de haver se separado do Príncipe Charles) estava com o namorado, o herdeiro Dodi Al-Fayed, de 42 anos, e um guarda-costas em uma "Mercedes 280S preta, dirigida por Henri Paul, funcionário da segurança do [hotel] Ritz", onde o casal tinha se hospedado. Em alta velocidade, o automóvel fugia de paparazzi - "fotógrafos que perseguem celebridades e figuras públicas para obterem imagens inéditas".

A determinada altura, conforme a reportagem, a Mercedes-Benz "bateu no décimo terceiro pilar à esquerda do túnel, capotou e chocou-se com o muro do lado direito. O carro estava completamente destruído e a buzina disparara. Bastava olhar a parte da frente para perceber que dificilmente alguém poderia ter saído vivo. Dodi Al-Fayed e o motorista morreram na hora". O texto continua:

O médico Fréderic Maillez, que passava pelo túnel, parou para prestar os primeiros socorros. "A princesa estava inconsciente, gemendo e agitando os braços em todas as direções", relatou Maillez, que colocou uma máscara de oxigênio no rosto de Diana. (...) Foi preciso uma hora de trabalho dos bombeiros para retirar os corpos e resgatar os dois feridos: a princesa e o guarda-costas Trevor Rees-Jones. (...)

[Ela] chegou ao hospital [La Pitié Salpêtrière] já em estado desesperador. (...) Os médicos fecharam a ferida no tórax e, durante duas horas, tentaram reanimar Diana com massagens cardíacas internas e externas. O coração da princesa não voltou a bater. (...) O guarda-costas Rees-Jones sobreviveu (...).

Outra matéria, agora da revista Veja (10 de setembro de 1997), elucida o que ocorreu no organismo de Diana: com o choque e a fratura de costelas, "o pulmão esquerdo se enchera de líquido e a cavidade torácica estava encharcada de sangue em razão do rompimento da veia pulmonar esquerda. (...) Sem sangue para alimentar o músculo cardíaco, o coração de Diana estava morrendo (...)".

Dois anos depois da fatalidade, outra reportagem da revista Veja dava conta de que, para a Justiça francesa, o que ocasionou a morte da princesa foi a combinação de álcool - Henri Paul dirigia a Mercedes-Benz bêbado: fora convocado por Dodi Al-Fayed no meio de sua folga -, drogas - o motorista também tomaria antidepressivos - e excesso de velocidade. Assim, "os nove fotógrafos e um motociclista detidos no local do acidente foram inocentados da acusação de terem contribuído para sua morte".

Recordei todos esses detalhes aqui, a fim de contextualizar o editorial que escrevi nos idos do ano de 1997 - no calor, portanto, da comoção mundial ante a perda de Diana, chamada de "rosa da Inglaterra". Aproveite a leitura, a seguir. Saúde e Paz.

Princess Diana dancing with John Travolta in the entrance hall
at the White House - 9 November 1985 - United States Federal Government

Sobre a Morte da Princesa

Diana é um símbolo. Uma mulher alta, loira, de olhos azuis. Diáfana. Cada aparição sua era, por si só, um evento. Os vestidos sobre o corpo delgado, os acenos simpáticos à multidão, o sorriso doce e contido, o olhar franco - que denunciava alegria (e também tristeza). Diana era uma Princesa. Condição mais do que suficiente para povoar o nosso imaginário.

E ela fez jus, ao encarnar toda a nossa expectativa de beleza e de generosidade. Natural que a amássemos, que fantasiássemos a respeito dela. Que quiséssemos abrir os jornais, as revistas, ligar a TV, conectar a Internet e saber o que for possível sobre ela. Mas, a mídia não é o castelo encantado apropriado para uma princesa. E Diana pagou um preço alto, por habitá-la amplamente.

O que matou Diana foi a realidade. Ainda estamos atordoados, mas o impacto da Mercedes no túnel nos acordou do conto-de-fadas: ela também era de carne e osso. Onde já se viu, correr por uma via urbana a 196 km/h? Só um louco ou um imortal correria o risco. E nós acreditávamos na irrealidade, na imortalidade dela. Tudo indica que ela também. Estávamos todos, enganados.

O excesso de amor e a voracidade por informação (sobretudo fotográfica) exerceram uma pressão quase antropofágica sobre Diana - que, antes de ser um símbolo, era um ser humano. A atriz Marilyn Monroe - o maior sex symbol que Hollywood já teve - lamentou, em sua última entrevista, que ninguém se dá por satisfeito com uma fotografia, uma declaração: "É como se quisessem pedaços de você", desabafou.

Aqueles paparazzi, no túnel de Paris, cercando a carruagem de Diana, reclamavam dela a sua condição de Princesa da Mídia. A velocidade do carro indicava o desejo de privacidade. A realidade, que a aguardava nas pilastras da curva, reduziu a fantasia de todo mundo a pó.

Princess Diana on a royal visit for the official opening of the community centre
on Whitehall Road, Bristol in May 1987 - Fotografia de Rick


~Ana Paula~A Católica
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