O que os 33 trabalhadores passam é uma metáfora eloquente da nossa vida: do "fundo do poço", eles emergem (de novo) para a LUZ. Tem jeito! |
Eu já estive em uma mina. Em Ouro Preto, antiga Vila Rica (capital do Estado de Minas Gerais, no Brasil, de 1720 a 1897). A extensão da Mina do Chico Rei é de 1.500 metros e os poucos metros que percorri me causaram mal-estar, náusea, uma vontade louca de estufar as paredes estreitas com meus próprios braços e sair correndo de volta, de encontro à luz.
Meu marido me disse que os 33 mineiros – 32 chilenos e um boliviano - que ficaram quase 70 dias a cerca de 700 metros de profundidade na mina de San José, no deserto de Atacama, no norte do Chile, estavam mais preparados do que qualquer um de nós para enfrentar essa situação. Afinal, são “mineiros”, acostumados ao escuro e isolamento dos subterrâneos da Terra.
Concordo. Mas, quase 70 dias! É um pouco demais, não acha? Setenta dias no “fundo do poço”. Literalmente.
Quando vi a cápsula construída por engenheiros navais chilenos (segundo a imprensa) submergir e emergir da fossa, pensei no caminho que muitos de nós percorremos para nascer. Refiro-me a quem veio a este mundo de meu Deus pelo Parto Natural. Aquela fossa me pareceu o canal por onde os bebês saem. Lá do escuro, por um caminho estreito, apertadinho, difícil de percorrer, cada um dos 33 mineiros está vindo à luz. De novo. Uma segunda vez.
Pra mim, a cena do resgate do primeiro trabalhador – Florencio Avalos, 31 anos –, a que assisti ao vivo pela TV, foi tão grandiosa e emocionante quanto as imagens borradas da descida do ser humano no satélite natural da Terra, a lua, em 20 de julho de 1969. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, resumiu direitinho todo esse processo:
Dissemos que não nos renderíamos, e cumprimos. Fizemos tudo humanamente possível, mas reconhecemos que a vida dos mineiros estava nas mãos de Deus.
Fotografia de Elisa Xyz |
O que ocorreu – e ainda está ocorrendo lá no deserto do Chile, já que enquanto escrevo este Post nem todos os mineiros foram salvos -, bem, é uma prodigiosa metáfora da vida. Da nossa vida.
Não posso afirmar que já estive “no fundo do poço”. Mas, passei por situações em que me senti bem ali. Naquele escuro, naquele frio, naquele “beco sem saída”, naquele sufocamento, naquela realidade que não tem como transpor, como transformar, como superar. Era eu e Deus. Mais ninguém.
Então, as minhas orações ou as preces de alguém por mim, somadas ao restinho de fé que nos sobra numa hora dessas juntam-se e sobem aos Céus suaves e leves como a fumaça do incenso.
Parecem poeira, parece que o vento vai levá-las a outros rincões, para onde não deveriam ir. Mas, por uma força superior, misteriosa, que não se pode mensurar, as orações e o cadinho de fé chegam aos ouvidos de Deus, ao colo do Nosso Senhor. Sim: Ele ouviu os nossos soluços. Ele se compadeceu do nosso desespero. Ele sentiu a nossa dor conosco.
Estamos sujos, não cheiramos bem. Queremos colo, queremos superfície, queremos o balançar da rede, queremos comida fresca, queremos... Luz.
Ela chegou! Meu Deus!! Mesmo a situação mais desesperadora, onde os prognósticos são todos “Morte!”, pode ser contornada, revertida, modificada. Que mensagem de esperança a vicissitude dos mineiros chilenos nos trouxe! Uma lição divina, translúcida, vigorosa de que... Tem jeito!
De acordo com a imprensa, todos os trabalhadores seguiram (e continuam seguindo) a um hospital na cidade de Copiapó, a 45 km da mina de San José. Devem ficar lá por duas noites – tempo em que se submeterão a vários exames.
Dá vontade de pegar um avião e pendurar na porta dos quartos, onde cada um deles ficará, um quadro bonitinho, desses que a gente só vê nas maternidades: Seja bem-vindo ao mundo, Florencio Avalos! Mamãe e Papai agradecem a visita ao seu novo bebê.
Todos os 33 mineiros estão retrocedendo no tempo, quando sua chegada à luz foi ocasião de êxtase para suas famílias. A diferença, agora, é que o mundo inteirinho se alegra (se alegra demais) com a vida deles!...
Fotografia da bandeira do Chile por Diego Salgado (Click The Image)
~Ana Paula~A Católica