Aprendi com a Canção Nova que: "O problema é meu, a minha cara é dos outros". Não sei se a frase é exatamente essa, mas ouvi dizer, acompanhando a programação da TV Canção Nova, que o fundador dessa comunidade católica, Monsenhor Jonas Abib, costumava ter a feição sisuda. Depois de muito treino - provavelmente diante do espelho! - finalmente conseguir transmutá-la para uma bem sorridente. E impôs isso a todos os seus consagrados: quem é Canção Nova tem que ter uma cara boa para o seu próximo.
Lindo isso, não?
Pode parecer "falsidade" ter um semblante alegre quando estamos chafurdados em problemas mal (ou simplesmente não) resolvidos. Contudo, pensemos juntos: quem não tem problema? Só quem está há sete palmos debaixo da terra, não é mesmo? O que me fez lembrar de um poeminha maravilhoso do saudoso poeta paranaense - um dos meus favoritos! - Paulo Leminski (1944-1989):
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.
Mário Quintana (1906-1994), poeta gaúcho que também é um dos meus preferidos, escreveu Dos Nossos Males:
A nós nos bastem nossos próprios ais,
Que a ninguém sua cruz é pequenina,
Por pior que seja a situação da China,
Os nossos calos doem muito mais...
Já pensou se todo mundo, porque tem um problema ou está insatisfeito com alguns (ou vários) aspectos de sua vida, resolvesse andar na rua de cara fechada, com a testa franzida? Não haveria espaço para a beleza, apenas para a feiura! Porque, como eu disse, TODO MUNDO TEM PROBLEMA. E a minha cara feia ou a sua cara feia não vão trazer a solução do que nos incomoda. Sabia disso?
Vou deslindar: cara feia não tem capacidade de fazer nossas questões resolverem-se. Simples assim. Ela só vai conseguir criar antipatia nos outros, em quem "é obrigado" a conviver conosco, além de afastar o nosso Anjo da Guarda: por que quem - quem, meu Deus? - quer ou consegue estar perto de alguém que só murmura e reclama? Alguém que tem sempre uma patada para dar em quem cruzar o seu caminho?
Os outros (por pior que nos pareçam) merecem o nosso melhor.
Provavelmente, podem passar por uma situação pior do que a nossa e vendo-nos abatidos e reclamões por tão pouco, isso pode até desestimulá-los a buscar a solução para o problema deles. E pode haver pecado tão grave quanto tirar a esperança de alguém? Quando desestimulamos nosso próximo com o nosso comportamento, Deus nos irá cobrar por isso mais tarde (ou mais cedo, porque quem garante que hoje não é, justamente, o nosso último dia de vida?...).
Reflita comigo: será que a minha cara feia não está abatendo o meu filho? Será que ela não está afastando o meu marido, namorado ou companheiro de mim? Será que, devido a isso, ele não está se distanciando de mim e buscando consolo e diversão em outro lugar, com outra pessoa?
Mais: será que a minha atitude de franzir a testa, cerrar os lábios e esbravejar, quando algo não sai como eu esperava, não está "cavando a minha cova" na firma onde trabalho? Será que meu comportamento não está minando a disposição dos meus colegas e do meu chefe? Será que, com tanto mau humor, daqui a um tempo, não me verei sozinha?
Para terminar, outra quadrinha de Mário Quintana: Do Riso. Saúde e Paz!! Para você e toda a sua família!
As setas de ouro de teu riso inflige
À sombra que te quer amendontrar.
Um canto muros erige:
Um riso os faz desabar.
P.S. Para botar de vez um sorriso em nosso rosto, nada como ouvir (e ver) os Beatles cantarem She Loves You ou o Kleiton e Kledir entoarem Deu Pra Ti: não há mau humor e cara feia que resistam! Experimente.
Fotografia de Steve Linster
~Ana Paula~A Católica