Estou lendo um livro intrigante. Talvez seja cedo para eu falar dele aqui. Mas, o que a leitura está me revelando é forte demais, portanto, não vou conseguir resistir e esperar chegar até a página 219 - a última. Estou na 90. As pessoas se queixam, porque, ao lê-lo, é inevitável: vou logo soltando "Oh! Oh! Oh!", estupefata com o que vou descobrindo.
A essa altura, você deve estar curiosa (ou curioso): afinal, que bendito livro é esse?...
Pois bem. O título é Conversando com as Almas do Purgatório (Ave-Maria, 1996). Trata-se da transcrição do diário da princesa alemã Eugênia von der Leyen (1867-1929) que, entre 1921 até poucos dias antes de sua morte, em janeiro de 1929, recebeu visitas das almas.
Poucas, iluminadas; muitas, como ela descreve em suas anotações, "de aparência desleixada", "fisionomia desagradável" ou "que exala maldade", "olhos abomináveis", "cabelo desgrenhado", "aspecto repugnante" e que davam "gemidos pavorosos". Na página 69, a princesa relata: "Leva sempre algum tempo até que uma Alma do Purgatório não assuste mais, devido ao seu aspecto horroroso (...)".
Cometi a besteira de começar a ler o livro na noite de sexta-feira e custei a pegar no sono!... Nem para me levantar, a fim de ir ao banheiro ou tomar um pouco de água, tive coragem.
Porém, mais do que a feiura das almas (que chegavam a causar asco na princesa, além de grande pavor), o que me impressiona na leitura do diário é a resposta que elas dão, quando Eugênia von der Leyen as pergunta: "Por que estás vagueando por aqui em vez de encontrar paz?"; "O que é que tens feito? Responde, por favor"; "Por que tu sofres?". Vou enumerar algumas das respostas dessas almas, cujas aparições a princesa descreve como "repugnantes". Veja, por si, se não são estarrecedoras.
1 - De uma freira, Eugênia indagou: "O que queres que eu faça?". A aparição declarou: "Deixei de enviar vinte marcos às Missões". Eu (Ana Paula) fiquei pasma e até soltei uma exclamação! Ir para o purgatório porque desviou dinheiro?... Segundo a princesa, a alma da freira "tinha olhos grandes, escuros e muito tristes" e "parecia não ter braços". Eis a nota do livro:
Ao ler essas linhas, muitos ficam surpresos e comovidos ante o fato de alguém, por causa de vinte marcos, tivesse que sofrer tanto. Parece que tais leitores se enganam, pois não se esclarece qual a razão do sofrimento da freira nem se mencionam os pecados que a levaram àquela situação. Em todo caso, aqueles 20 marcos são sinal de sua maneira errada de viver.
Por ela, Eugênia enviou a quantia às Missões e "foram rezadas santas missas".
2 - A uma mulher, que a princesa descreve "de aspecto desagradável" e como uma "figura detestável", ela perguntou: "Em nome de Jesus, ordeno-te que me respondas: 'Por que estás vagueando por aqui em vez de encontrar a paz?' - 'Matei meu filho.' - 'Como te chamas?' - 'Margarida.' - 'Será rezada por ti uma santa missa. Não me esquecerei de ti. Não precisas vir nunca mais.'".
3 - Durante um verão, por três vezes, Eugênia von der Leyen viu "andar de um lado para o outro, uma senhora cujo rosto manifestava uma tristeza inexprimível". Ela continua: "Quando a interroguei, respondeu apenas: 'Ninguém reza por mim'". (!!) Uau, cara/caro internauta: quanto sofrimento às almas evitaríamos, se nos lembrássemos de rezar por elas, não é mesmo?
4 - Sobre a alma de uma governanta, de nome Babette, a princesa relata:
Anda de roupas rasgadas. E sofre da boca, mas não sei o que é, pois não o observei distintamente. (...) Sua fisionomia é muito desagradável. Ela curvou-se sobre mim. Sua boca abominável é como uma grande úlcera; o lábio inferior, totalmente preto; os olhos, sumamente antipáticos. (...) Ela gostaria de expressar-se por palavras, mas também não consegue. (...) Sua boca é um horror.
Poucos dias depois:
... Perguntei: "És uma condenada?" Fez que não meneando a cabeça. Continuei: "Eu te conjuro, dize-me o que queres! Não te quero mais ver". Saíram dela, então, alguns sons quase ininteligíveis: "Vigário... Sempre mentindo a ele". (...) Exclamei: "Dize-me outra vez o que disseste a respeito de mentiras!". Ela chega pertinho de mim e diz em voz bem clara: "Tenho de sofrer. Tenho caluniado, tenho mentido muito; dize isso ao vigário".
A respeito dessa mulher, eis a nota do livro:
O pároco Sebastião Wieser [confessor e diretor espiritual da princesa Eugênia, por cuja iniciativa ela escreveu o diário sobre seus encontros com as almas] conhecia bem a falecida (Bárbara Z.) quando viva. Disse ele que ela fora uma mulher solteira, aparentemente piedosa, mas muito histérica e sensual, que escrevia longas cartas aos padres e caluniara um deles do modo mais maroto e astuto possível. Por fim, ela morreu ao dar à luz [um ano antes da aparição à Eugênia].
5 - Sobre a alma de um homem que morreu de varíola, poucos anos antes de procurar a princesa:
Perguntei: "Por favor, o que tu queres?" - "Ajuda!" - "Por que tu sofres?" - "Porque não fiz bastante penitência dos meus pecados". À medida que os encontros dos dois e as orações que faziam se sucedem, Eugênia, por fim, interroga-o: "O que te aproveita mais da minha ajuda?" - "Tomar parte na missa."
Isso, eu já ouvi dizer: a melhor forma de ajudar as almas é participando do sacrifício da Santa Missa, onde a comunidade reunida, a Igreja peregrina, intercede pela Igreja padecente, o Purgatório.
6 - Às almas de duas mulheres que sempre estavam na igreja que frequentava, a princesa Eugênia indagou: "Por que estais sempre aqui?" - "Porque demos escândalos." - "Quem éreis em vida?" - "Éramos irmãs." A princesa continua: "Sumiram. Têm má fisionomia. Seus olhos parecem penetrar como punhais".
7 - A respeito de uma mulher chamada Catarina, Eugênia conta:
Essa mulher é abominável. É, sobretudo, sua boca que é horrorosa; está muito inchada e é simplesmente nojenta. Está furiosa; seu vestido é um farrapo cinzento. (...) Rezei com ela a oração da manhã e, em seguida, ela se foi. (...) A expressão de seu rosto é execrável. Não reage a nada, mas quando rezo, mantém-se tranquila. Sua boca é medonha; é apenas um inchaço vermelho purulento. Tem cabelo preto, desgrenhado. Todo o seu aspecto é sempre inominavelmente sinistro.
Com o passar dos dias, das visitas e das orações, a princesa escreve no diário: "Parece [a alma de Catarina] tornar-se mais clara e mais pura. Cresce minha coragem. Quanto mais sacrifícios faço por ela, tanto mais alívio ela sente e tanto mais se torna minha amiga".
Entretanto: "Finalmente, ela [Catarina] está em condições de falar. Recomeçou a andar pelo quarto, agitada, muito inquieta, quase como louca repetindo sem parar: 'Sem paz, sem paz!'". Um dia, essa alma interrogou Eugênia: "'Queres sacrificar-te ainda por mim?' - 'Quero; o que mais posso fazer para te ajudar?' - 'Dar-me a paz.' - 'Como posso te dá-la?' - 'Pelo amor!'". E então:
Catarina veio a uma [hora] da noite. Longamente, rezamos juntas. Perguntei-lhe: "Podes dizer-me o que tens na boca?'"- "Vês isso?"- "Sim. Dize-me por que tua boca sofre desse jeito." - "Eu sempre desuni os homens." E começou a soluçar terrivelmente. Disse-lhe: "Tenho muita compaixão de ti. Ainda tens que sofrer por muito tempo?" - "Tenho!"
Mais à frente:
Durante muito tempo esteve comigo minha querida Catarina. Perguntei-lhe: "Por que sofres no purgatório já há tanto tempo? Fizeste muito pecado por tua fala?" - "Fazia, e não me arrependia e não me confessava." - "Como foi que te salvaste [do Inferno]?" - "Eu costumava dar esmolas."
Cara/caro internauta:
Essas 90 páginas do livro, que degustei até agora, deram-me o que pensar... E eu convido você a fazer a mesma reflexão: que aspecto teremos, depois que partirmos deste mundo? Afinal, que cara terá a nossa alma?
Oração pelas almas
(Conversando com as Almas do Purgatório, Ave-Maria)
Misericordiosíssimo Senhor, Vós quereis que rezemos pelas almas.
Por isso, pelas mãos puras de Maria,
Vos oferecemos todas as santas missas
que hoje serão celebradas em Vossa honra
e pela redenção das Almas do Purgatório.
Humildemente Vos pedimos
que os méritos copiosíssimos de Vosso mui querido Filho
paguem as culpas das pobres almas
e que delas tenhais compaixão. Amém.
Saúde e Paz!!
Fotografia de Talia Felix (Click The Image)
~Ana Paula~A Católica