7 de outubro de 2010

Eleição: em meio à troca de farpas, que é do Amor?

Durante os anos de chumbo, Chico Buarque entoava que todo mundo parou
"pra ver a banda passar cantando coisas de amor"...
Nestes meses de chumbo, que antecedem a eleição presidencial,
quando estenderemos a mão a nossos irmãos, em vez de atacá-los?

A Banda, do compositor, cantor e escritor Chico Buarque, estourou no Brasil em plena Ditadura Militar (1964-1985): no ano de 1966. O clima estava tenso, o ar, quase irrespirável - só não dou mais detalhes, porque fui nascer dez anos depois.

No meio de tanta repressão, o artista carioca (e não paulista como muita gente acredita) aparecia com uma canção ultrassingela, cujo êxito se deveu provavelmente a isto: a oposição entre aquilo que é belo - e que Chico ressalta nos versos - e a feiura do momento político que o Brasil vivia.

Então A Banda, como li o dramaturgo Nelson Rodrigues (1912-1980) ressaltar, foi um sopro de ar fresco, uma retomada da inocência. Mereceu todo o êxito que teve e a repercussão que, até hoje, alcança no nosso coração. Verdade. Duvida? Acesse este link e constate por si.

Lembrei d'A Banda, porque nos últimos meses, na Blogosfera, temos vivido tempos pesados. Se o período que durou a ditadura no Brasil às vezes é referido como anos de chumbo, os últimos meses tem sido de chumbo também...

... São Blogs católicos, com todo o direito que têm, vociferando contra este ou aquele que apoia este ou aquele que apoia ou não a candidata à presidência da República Federativa do Brasil, Dilma Roussef. Um padre se manifesta aqui, o presidente de uma comunidade católica se manifesta ali, e está armado o embate: não há lugar para o meio termo. Ou se está de um lado ou de outro.

Não. Não vou me posicionar. E uso do direito que a Constituição brasileira me assegura - Artigo 14 - de não revelar o meu voto. Não no Blog. Não na Blogosfera.

Decidi escrever este Post, porque é tão triste ver um cristão esbravejando contra outros cristãos - aliás contra qualquer pessoa, de qualquer crença. Atacando ora a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ora o presidente de uma comunidade católica, ora outros católicos...

Não tiro a razão de quem se indigna contra toda possibilidade de agressão à vida humana no útero. Só não sei (não sei mesmo) se atacar quem está - ou "estaria" - no lado oposto é uma estratégia eficaz ou confiável. Porque louvável, sei que não é. Sei, porque está lá no Evangelho de São Lucas (Lc 9, 51-56):

"Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado deste mundo, ele resolveu dirigir-se a Jerusalém. Enviou diante de si mensageiros que, tendo partido, entraram em uma povoação dos samaritanos para lhe arranjar pousada. Mas não o receberam, por ele dar mostras de que ia para Jerusalém.

Vendo isto, Tiago e João disseram: 'Senhor, queres que mandemos que desça fogo do céu e os consuma?'. Jesus voltou-se e repreendeu-os severamente. 'Não sabeis de que espírito sois animados. O Filho do Homem não veio para perder as vidas dos homens, mas para salvá-las'. Foram então para outra povoação".


Como José Bortolini observa na excelente obra Meditando com Pecadores e Pecadoras do Evangelho (Paulus, 2003) - que mereceu um Post d'A Católica:

Apesar de rejeitado naquilo que era mais sagrado para um judeu (a hospitalidade), em vez de censurar os samaritanos, ele [Jesus] censura seus discípulos fanáticos que pretendiam arrasar os samaritanos.

Mais à frente, neste mesmo capítulo do livro, o autor assevera:

Enquanto não tivermos entranhas de compaixão, também para com os inimigos, nossa oração será puro vapor de vaidade, inconsistente como bolha de sabão. Não precisa ir à igreja para rezar, pois o melhor modo de exercer a religião é com entranhas de misericórdia, também por nossos inimigos.

Acho desnecessário prosseguir, certo?

Espero que tenhamos todos entranhas de compaixão para com aqueles que, da nossa perspectiva, estão "no lado errado". Em vez de atacar, pedir "boicote" contra os que julgamos "inimigos", vamos estender a mão. Vamos fazer o que Jesus ordenou (Mt 5, 44; Lc 6, 27.35): vamos amá-los!! Saúde e Paz!

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

(...)

A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor...


Fotografia de Peter Griffin (Click The Image)

~Ana Paula~A Católica
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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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