28 de outubro de 2010

Eu encontro prazer no trabalho braçal!

Fora de moda não é gostar de lavar, lustrar e organizar.
Fora de moda é achar que Amor tem tempo, peso e medida,
no tempo e no espaço. Ame!

Hoje foi um dia de pôr a mão na massa. Ficar com elas pretas. Ops. Melhor não exagerar: cinzas. Como uma boa dona-de-casa, peguei meu conjunto de panelas inox e, com uma pasta especial, apropriada, saí lustrando uma a uma. Depois, espanei o resíduo escuro, lavei-as, enxuguei-as e guardei-as uma a uma.

Trabalho braçal. Desses que nos faz sentir que bíceps e tríceps não são conversa fiada de livros de Biologia ou de Anatomia: eles existem mesmo. E o suor na testa, então? Que calor. Fazer força dá calor.

Bonito isso, não? Esforçar-se para limpar, para organizar, para pôr tudo em ordem...

... Ei! Você aí pode estar comentando consigo mesma (ou mesmo): "Deus me livre! Eu que não servia pra pagar uma de 'Amélia' em casa, fazendo limpeza. Melhor trabalhar fora e pagar uma empregada!".

É um direito seu pensar assim. Mas nunca na minha vidinha inteirinha de 34 anos de existência deixei de achar que, da minha casa, eu mesma cuidaria. O que eu não pensava (de jeito nenhunzinho) era em me casar. E quis Deus que o Farney existisse, saísse lá do Norte de Minas e viesse me apanhar aqui, na capital.

Meu casamento estava fora dos meus planos de adolescente. Jamais eu imaginei que fosse entrar de braço dado com meu pai na igreja. E Igreja Católica Apostólica Romana!!! Surprise, surprise! (Pra quem ainda não sabe, o meu retorno à igreja de Roma só se deu em 15 de setembro de 2007.)

Tem um poeminha ótimo do poeta paranaense Paulo Leminski (1944-1989):

não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino

É por aí. E tanto esforço para polir tanta panela me deu uma sensação de fazer algo de bom da minha quinta-feira... Pensei até em gente que já vi suar!

Por exemplo: meu avô João, capinando (do jeito dele, claro!...) aquele sítio de que tanto gostava. Ou a Mãe-Ita, horas e horas se concentrando para não errar o contorno dos cogumelos, sinos e carneirinhos dourados que ela pintava. E, depois, com aquelas agulhas prateadas e fiiinas de crochê, emoldurando paninhos que mais tarde distribuiria a cada filho, a cada neto, a cada comadre.

Já vi meu pai suar com as compras do sacolão. Ou suar com a furadeira na mão, cavando outro buraco na parede para pendurarmos mais uma lembrança ou uma beleza: um quadro, uma paisagem. Mamãe Gali, então. Mas, nunca "vi" o seu suor. Aliás: só uma vez, em que ela varria a casa com uma faixa estreita e branca na cabeça, qual o Cazuza ou um roqueiro qualquer, dos anos 1980.

É que mamãe sempre foi elegante. E olhe que ela, durante toda a minha infância e adolescência, foi dona-de-casa (como eu, agora). E não foi dessas de dar pausa ou pit stop no serviço pra descanso não. Ela era pau pra toda obra: costurava, fazia broas de fubá insuperáveis e roscas incomparáveis. Além de rechear a minha irmã Andréa Cristina e eu de muitos carinhos. E muitas surras também!...

Hoje, vejo o meu marido suar. Seja aqui em casa, qual o meu pai com a furadeira cavando furos para pendurarmos belezas e lembranças. Seja com os pais dele: desdobrando-se para dar conta do seu papel de filho e, também, do papel de quem não quer mais cumprir o seu, porque acha que "já fez o bastante".

Alguma vez você viu isto: um filho (ou uma filha) largar os pais para lá, porque acha que, anos atrás, fez a sua parte? Pois é. Quando achamos que já vimos de tudo nesta vida, sempre aparece um cidadão (ou uma cidadã) para nos surpreender com uma desta: transformar amor filial em "plano de carreira", com direito a "aposentadoria". (!!!)

E tem gente que acha que absurdo sou eu optar pelo trabalho braçal de uma dona-de-casa em pleno século XXI. Pois absurdo, para mim, é assistir (de camarote V.I.P) a alguém desprezar os pais conscientemente e ainda ter a frieza de expor seus "motivos" para isso! Dar amor aos pais - dever de todo filho e de toda filha que se prezem - está fora de moda para algumas pessoas... Paciência.

E eis que cheguei ao fim deste Post.

Quero dedicá-lo às donas-de-casa, às mulheres caprichosas com sua casa (mesmo trabalhando fora) e às filhas amorosas. SE você se encaixa em uma dessas descrições, este Post é para você! E que Deus tenha MISERICÓRDIA de todas as demais, para que "acordem" enquanto ainda há tempo. Amem (do verbo AMAR). Saúde e Paz!!

Oração a Santa Zita, italiana (1218-1278)
(Orações Particulares, Editora São Cristóvão)

Ó Santa Zita, que vos santificastes
no humilde trabalho do dia a dia dentro de casa,
servindo aos semelhantes com muito amor e dedicação,
lembrai-vos de todas aquelas pessoas
que dedicam a sua vida, trabalhando nos afazeres domésticos.

Assim como Marta servindo a Jesus,
fazei que eu possa suportar com muito amor e paciência
o que minha [ocupação] exige.

Ajudai-me a tratar todas as pessoas como se fossem meus irmãos.
E fazei que todos saibam valorizar o serviço que faço com tanto carinho
e que haja justiça para todas as pessoas que lutam pelos seus direitos.

Ajudai-me, minha padroeira,
para que eu seja uma pessoa justa para com todos. Assim seja.


Fotografia: mulheres lavando roupa em Djenné, no Mali, por Ferdinand Reus

~Ana Paula~A Católica
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