Somos muito preocupadas com o que todo mundo pensa de nós. Difícil "relaxar" e desfrutar da vida com a leveza que só a risada dá. Concorda? |
Miraculosamente, acordei mais cedo hoje a tempo de assistir (quase na íntegra) ao Bom Dia Brasil, da Rede Globo. O grand finale do telejornal foi uma reportagem a respeito da pesquisa da excelente antropóloga Miriam Goldenberg sobre a risada. "Excelente", porque já li um trabalho seu, em torno da vida da maravilhosa atriz Leila Diniz: Toda mulher é meio Leila Diniz (Record, 1995).
Conforme a pesquisa da antropóloga, os homens riem mais do que as mulheres. Se não me falha a memória, mais de 80% deles gargalham ou admitiram rir muito contra menos de 70% delas. Nota: ninguém é obrigado a saber tudo. Antropóloga é uma mulher versada em antropologia, ou seja, no estudo do ser humano.
Ao longo da matéria, a repórter Renata Vasconcellos entrevistou anônimos e celebridades, como o cineasta e comentarista Arnaldo Jabor, sobre o que explicaria o resultado. Jabor foi ao cerne da questão - no meu ponto de vista. Talvez, a menor habilidade das mulheres em rirem alto, de tudo e de si mesmas seja resquício de antigamente. Segundo ele, seu pai não gostava que sua mãe risse, porque era sinônimo de mulher "livre demais".
A atriz Ingrid Guimarães também apontou o fator cultural. De acordo com ela, as mulheres aprenderam que, para ser sexy, é preciso rir menos, a fim de passar um ar de... Mistério. Uma anônima deu uma razão interessante: as mulheres riem menos, porque são muito críticas de si. E muito criticadas pelos outros: "A gente é muito julgada, se parecemos mais jovens, se estamos magras, se chegamos bem vestidas...". Ou seja: é quase impossível para nós "relaxar" e rir muito!...
Eu concordo com Arnaldo Jabor. A duras penas percebi que, para ter sucesso com os homens, era preciso parecer doce e quietinha - já falei disso no Post A árdua ventura de nos aceitar do jeitinho que somos. Agora, para conquistar aquele homem, que fará você feliz e que você fará feliz, aí, é preciso ser você mesma. (Em outras palavras: se sua natureza é a extroversão, nada de bancar a tímida do pedaço, pra não "levar para casa" o homem errado.)
É possível ainda que nós, mulheres, demos muito menos risadas, porque mais do que os homens sabemos que, no fundo, a vida não é brincadeira. Mesmo. Palavras, comportamentos, gestos... Tudo tem consequências. Homens parecem mais desligados e tranquilos. Além disso, e retomando a colocação da anônima acima, somos também muito "neuradas" com o que as outras pessoas pensam da gente. Senão, vejamos.
Como curtir a festa, se achamos que não escolhemos a roupa certa? Como prestar atenção na piada que estão contando, se estamos envergonhadas com as nossas mãos, que não tivemos tempo de fazer, de tirar a cutícula nem o resto do esmalte descascado? Como se entregar à alegria dos comes e bebes se precisamos manter a linha e lembrar o regime? Como dançar se vai atrapalhar o cabelo e o tomara-que-caia sair do lugar? Se eu tomar mais um copo de cerveja, não vou passar a ideia de "bebum"?
Isso tudo, provavelmente, é o que passa na cabeça da maioria de nós quando estamos em eventos sociais. E com tanta cobrança vinda de todos os lados - incluindo de dentro de nós mesmas - fica difícil ignorar a pressão e gozar a vida com a leveza que só uma boa gargalhada consegue dar. Não sei qual a solução para esse problema. Sei que rir é uma das coisas de que mais gosto. Queria mesmo poder exibir mais os meus dentes e a minha risada em alto, bom e (se possível) afinado som. Eu pergunto a você: como?
Fotografia de D. Sharon Pruitt
~Ana Paula~A Católica