Foto: Marilyn Monroe (1953), por Los Angeles Times |
Meu avô João Câncio tinha uma boa coleção de revistas. Entre elas, uma edição da "Manchete" com uma reportagem sobre a atriz americana Marilyn Monroe. Em destaque, havia uma frase atribuída a ela: "Não estou interessada em dinheiro, só quero ser maravilhosa". Essa ideia causou profundo impacto na criança de nove anos que eu era. Mais tarde, agora por influência do meu pai, aprendi a cantar os sucessos de Toquinho e Vinícius de Moraes e um dos que mais me tocaram se chama "Testamento":
Você que só ganha pra juntar
O que é que há?
Diz pra mim, o que é que há?
Você vai ver um dia
Em que fria você vai entrar
Por cima uma laje
Embaixo a escuridão
É fogo, irmão
É fogo, irmão
Anos depois, aprendi que tanto a frase de Marilyn Monroe, quanto esse trecho da música de Toquinho e Vinícius eram bíblicos. Sim: de acordo com o evangelho de São Mateus e o de São Lucas, Jesus exortou Seus seguidores a não ajuntar tesouros na terra, "onde a ferrugem e as traças corroem, onde ladrões furtam e roubam". Aliás, foi exatamente a isso que Ele aconselhou o Jovem Rico, que Lhe perguntou o que devia fazer de bom para ter a vida eterna: "Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!".
Ou seja: é preciso sim primeiro despojar-se do materialismo, do consumismo, para só então estar habilitado a seguir Jesus. Aquele jovem não estava, e ao menos foi honesto em ir embora. Ao contrário de alguns de nós, que possuímos muitos bens guardados em nossos armários e despensas e ingenuamente, com nosso terço à mão, o crucifixo na parede, a Bíblia aberta sobre algum móvel e a novena repassada no Zap, acreditamos ser discípulos de Jesus. Não. No máximo, somos admiradores. Fãs.
Porque em discípulo se enquadram São Francisco de Assis e Padre Júlio Lancellotti - pra ficar em apenas dois exemplos. No dia em que optarmos por ser maravilhosos (como Marilyn Monroe se propôs), servindo a Deus em vez de ao dinheiro, aí sim não haverá escuridão embaixo da nossa "laje" (como Toquinho e Vinícius cantaram), ajuntaremos tesouros no céu e poderemos chamar São Francisco e Padre Júlio de companheiros, de iguais.