Segundo o genial, amado e saudoso Padre Léo, quem mente mantém segredo com o encardido |
Tenho centenas de palestras do Padre Léo - em CD e DVD. Elas me alimentam quando, por exemplo, estou limpando a casa. Ponho no CD Player e com meus headphones "vou varrendo, vou varrendo, vou varrendo" e enchendo o meu ânimo com suas palavras engraçadas, penetrantes e sábias.
Que pena que os oradores (pelo menos a maioria que escuto quando sintonizo, por exemplo, a TV Canção Nova) não têm 1/3 da inspiração do Padre Léo. E o mais lamentável: pelo que falam, você vê que não estudaram, não meditaram a Bíblia, não pediram a luz do Espírito Santo - ou pediram mal - e não dizem nada que nos acrescente o que quer que seja, a não ser pena. Pena de o Léo, meu conterrâneo de Minas Gerais, não estar mais aqui.
Que delícia você sentir, pelo que o padre falava, que ele se esmerou ao preparar aquela homilia, aquela palestra. Que delírio se dar conta de que ele descobriu um sentido novo na Sagrada Escritura e, com seu jeito hilário e às vezes duro, passou aquele conhecimento para nós, de modo que nunca mais nos esquecemos dele. E se você quer saber o que mais me emociona às lágrimas nesta vida de meu Deus é isto: alguém fazer BEM o seu trabalho.
Uma vez, eu voltava para minha casa (hoje, casa dos meus pais) e vi o trocador do ônibus 9414 separar os vales-transporte e colá-los em uma folha imensa e branca com tanto empenho - eu via a alegria dele de estar ali, empregado -, que chorei. Chorei dentro do ônibus. Para mim, aquela dedicação e entusiasmo eram tão bonitos quanto uma composição de Amadeus Mozart (1756-1791) ou um quadro de Auguste Renoir (1841-1919). Vovô Raul estava certo: a beleza está em todo lugar. É só ficar atento.
Contudo, este Post é para falar da mentira.
Ontem, ao ouvir pela enésima vez uma das palestras ou homilias do Padre Léo, ele disse esta frase brilhante: Mentira é você manter segredo com o encardido. Quantos de nós mantêm segredos com ele, não é mesmo? (Ah: para quem não sabe, encardido é como o padre se referia ao di...).
Nesta semana, li um texto sobre a importância do silêncio. De mantermos a boca fechada. Pensei comigo mesma: por que falamos tanto? Para aparecer para os outros? Para chamar a atenção? Falando tanto, acabamos mentindo. E muito.
Mentira, segundo o dicionário, é "engano propositado"; "história falsa"; "fantasia, ilusão". Já vi na TV, psicólogo argumentando que ela faz parte do "processo de crescimento". (Não entendi nem guardei por quê, mas está aqui, registrado.) Seria, portanto, algo típico, natural e aceitável nas crianças.
Fotografia de Peter Griffin |
Minha irmã Andréa Cristina foi a 1ª pessoa, que lembro, que mentiu para mim. Éramos crianças e morávamos numa casa na cidade de Betim. Um dia, ao me levantar da minha cama amarela, ela me disse bem séria: "O Super-Homem está atrás do armário". Eu acreditei piamente. E fui olhar atrás do pequeno armário amarelo de portas brancas. E não vi nada. Que decepção. Fiquei com muita raiva da Andréa me enganar daquele jeito.
Mais à frente, um tio querido começou a mentir, mentir e mentir. E que coisa feia um adulto mentir!
Na época do Menudo (grupo pop porto-riquenho que fez grande sucesso no Brasil em meados dos anos 1980), ele garantiu que "contrataria" o cantor Ricky Martin para ir à casa da minha avó a fim de cantar para nós. Nossa! Fiquei tão emocionada e acreditei (mais uma vez na minha vida) piamente. "Quando? Quando, tio?", eu perguntava aflita. Não me recordo da sua resposta. O correr dos dias me mostrou que seria nunca.
Anos depois, ele me prometeu que me levaria para ver os aviões pousando e decolando no Aeroporto da Pampulha, aqui em Belo Horizonte. Fiquei esperando o convite, que nunca veio. Mais outra mentira.
Uma amiga que tive ficou grávida durante os tempos de Faculdade e quis "trancar" matrícula na Comunicação Social. Aleguei para ela que gravidez não seria uma boa justificativa para dar ao colegiado do curso: barriga não impede a gestante de assistir às aulas. Ela então redarguiu: "Vou falar que são trigêmeos". Eu retruquei: "Amiga, e quando nascer? Vai aparecer só um bebê!". Ela replicou: "Aí, eu falo que os outros dois morreram no parto". Eu ri. Morri de rir: a mente humana é capaz de coisas... Do arco da velha!
Por falar em velha, se é feio adulto mentir, imagine gente mais idosa!
Há pouco tempo, uma senhora de quase 70 anos falou com a cara mais "limpa" e tranquila do mundo que sua primogênita, de 40 anos de idade, estava "noiva" e iria se casar no ano seguinte, porque o "noivo" vinha morar em Minas Gerais. Fique de olhos arregalados, porque eu não sabia que ela estava noiva nem muito menos que o namorado vinha para cá. Mentira tem pena curta? Curtíssima.
Semanas depois, um telefonema esclareceu que o tal namorado não era "noivo" coisíssima nenhuma - portanto, não havia casamento marcado para "o ano seguinte" - e que a empresa na qual trabalhava perdeu uma licitação e, consequentemente, ele não viria morar em Minas também coisíssima nenhuma.
Imagine só: uma idosa mentindo sobre a vida pessoal da filha, dando como certa uma mudança que era apenas uma "possibilidade". Criou uma "história falsa"; uma "fantasia, ilusão", tal e qual as crianças fazem. A senhora em questão pegou algo com que sonhava - a filha finalmente se casar -, distorceu-o e quis forçar uma realidade que não se cumpriu. E ficou tão feio para ela! Aliás, para ela e a filha, cuja vida privada expôs.
Não sou santa. Também já menti. Ganhei um monte de sabonetes verdes (como relatei em Você domina a ARTE de DAR presentes? Saiba mais neste Post.), que rejeitei, embora garantisse a quem me deu - diante da pergunta: "Você gostou?" - que... "Gostei". Entretanto, puxei Mamãe Gali, que também detesta mentiras. E vou além da minha mãe: eu as detesto E não as entendo.
Eu não entendo a nossa necessidade de "ludibriar". Para quê inventar casamentos que não existem e, possivelmente, nunca existirão? Viagens que nunca ocorrerão? Filhos que não nascerão? Festas que não acontecerão?
É terrível a probabilidade de alguém achar que sou ou tenho algo que não sou nem tenho. Me atormenta alguém supor que sou santa, rica, inteligente, quando não sou nada disso. Nem quero parecer ou agir como tal. Detesto criar ilusões. De todo tipo. Incluindo, levar uma pessoa a crer que "gosto dela". Não minto nem sobre meus afetos. Não faço alguém acreditar que é "especial" para mim quando não é. A propósito, essa é a mais cruel das mentiras.
Fico por aqui. Preciso retomar a varreção. A sujeira pensa que vai dominar o meu pedaço, porém está engana!... Saúde e Paz para você e sua família!! Quanto a mim, "vou varrendo, vou varrendo, vou varrendo"...
P.S. Se ficou curioso ou curiosa a respeito do Padre Léo, basta acompanhar a programação da TV Canção Nova às segundas-feiras, a partir das 20h30, ou adquirir alguma(s) das palestras dele em qualquer loja de produtos católicos, especialmente na própria loja da Canção Nova. Em BH, ela fica na Avenida Isabel Bueno, nº 400, Bairro Jaraguá.
Fotografia da moça fantasiada de encardido, por Petr Kratochvil
~Ana Paula~A Católica