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Vi recentemente uma reportagem sobre a rua dos Aflitos, no bairro da Liberdade, em São Paulo. De acordo com um dos entrevistados, o historiador Wesley Vieira, nessa rua, durante os séculos 16 a 19, ficavam os desprestigiados da sociedade: pretos, indígenas, condenados e desvalidos. Imediatamente, pensei: "O tipo de gente com a qual Jesus andava...". É notório, bíblico: Jesus nasceu pobre, viveu sem ter onde repousar a cabeça, circulou nas periferias, relacionou-Se com os marginalizados e morreu feito um bandido, crucificado fora da cidade.
É por isso que me causa estranhamento quando, na festividade de Cristo Rei, abundam na Internet imagens de Jesus paramentado com coroa, cetro, um globo representando o mundo e um grande manto. O então papa Bento XVI teria dito que "ser discípulo de Jesus significa não se deixar fascinar pela lógica mundana do poder". Mas, parecemos todos embevecidos por essa lógica, ao exaltar e compartilhar imagens de Jesus suntuosamente vestido! Isso não combina com Ele. Aliás, quem O designou "rei" foram justamente Seus adversários, encabeçados pelo prefeito romano Pôncio Pilatos.
Quando Tio Freitas morreu, quiseram enterrá-lo com terno e gravata. Seu genro Hermógenes, porém, não permitiu, com o argumento de que Tio Freitas tinha de ser vestido exatamente como viveu, como era de seu feitio: com simplicidade, sem ornamentação. Certa vez, falando do profeta João Batista, Jesus perguntou: "Vocês saíram ao deserto para ver o quê? Um homem ricamente vestido? Mas os que se vestem ricamente estão em palácios de reis...". Por que, então, representamos Jesus com vestes suntuosas, se Ele não frequentou palácios, e sim tantas "ruas dos Aflitos" nas Suas andanças?