22 de novembro de 2024

Jesus e as mãos calejadas

Tela: O Chamado de São Pedro e Santo André
(1886-94), James Tissot

Quando li o livro "Casa-grande e Senzala", do sociólogo Gilberto Freyre, soube que os senhores dos engenhos de cana-de-açúcar no Brasil colonial tinham "mãos de moça", ou seja: mãos macias de quem não se dava aos afazeres manuais. Fico imaginando se o tetrarca Herodes Antipas também não tinha as mãos assim: mãos de quem não faz nada. Seria a ociosidade um empecilho para acolher Jesus? Parece que sim. Primeiro, porque quando esteve frente a frente com Jesus, Antipas não O reconheceu. Desdenhou. (Mãos macias implicariam um coração duro?) Segundo, porque Jesus chamou alguns de Seus discípulos justamente enquanto trabalhavam. E eles fizeram o quê? Imediatamente O seguiram.

Jesus não veio a passeio. Do começo ao fim da Sua vida pública, trabalhou à beça, percorrendo localidades onde pregava e curava endemoninhados, epiléticos, paralíticos e afins. Aliás, é sintomático que entre Suas curas esteja a da sogra de Pedro. Assim que a febre dela passou, a mulher fez o quê? Pôs-se a servir. Foi ocupar as mãos.

Uma das passagens que me comovem na Bíblia é justamente o chamado do genro Pedro. A sua dedicação ao seu ofício, a pesca, certamente encantou Jesus: certa ocasião, ele havia trabalhado duramente a noite toda, sem pescar nada. Desistiu? Não: por causa de Uma Palavra de Jesus, palavra essa para que fosse a águas mais profundas, jogou pela enésima vez as redes e foi bem-sucedido. Pedro estava exausto, mas o encontro com Jesus reacendeu a motivação que era parte da sua natureza. Como ele, os também pescadores André, Tiago e João e o coletor Mateus não tinham "mãos de moça", e sim mãos calejadas, mãos que servem, mãos prontas para acolher e edificar o Reino dos Céus. Tijolo por tijolo.

Licença Creative Commons
Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
Este trabalho está protegido
por uma LICENÇA CREATIVE COMMONS.
Clique no Link para conhecê-la.