6 de agosto de 2010

Rezando pelas Almas do Purgatório

Imagem: Internet

Conforme aprendi com a doutrina católica, há três destinos para os que partiram desta vida: o Céu, o Inferno e o Purgatório.

Para o Inferno, vão aqueles que morreram em desarmonia com o Criador, que O renegaram - assim, mesmo um assassino, se se arrepende do que fez e clama a misericórdia de Deus, mesmo que no último instante, escapa do Inferno. Basta nos lembrarmos do memorável caso que envolveu Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face (1873-1897) e Henrique Pranzini, acusado de matar uma mulher e sua filha de 11 anos de idade em 1887.

Pra quem não se recorda ou desconhece essa história, Pranzini, que tinha tendências anarquistas e era suspeito de niilismo - seita de comunistas russos que negavam Deus -, antes de ser guilhotinado em praça pública, beijou três vezes o crucifixo que lhe estenderam. Santa Teresinha, desde que soube do processo contra o jovem de 30 anos, rezou diariamente para que ele se convertesse. Os beijos de Pranzini, antes do suspiro final, foram para a santa francesa o sinal de que ele se deixara envolver pela misericórdia divina.

"Os pecados nada são confrontados com o braseiro que é o coração de Deus", concluiu Teresinha. Para ela, aquele criminoso foi "o lugar e símbolo da ternura de Deus à qual todo homem, seja quem for, pode aquiescer" (Teresa de Lisieux, Edições Loyola, 1997).

Para o Céu, vão os que morreram em estado de graça. Difícil definir isso, visto que (ainda) não sou teóloga nem padre - os seminaristas estudam oito anos para se tornarem um. Bem, estou engatinhando no conhecimento da magnífica doutrina da Igreja Católica. Digamos que, para o Céu, vão as almas puras ou purificadas. E aqui, recorro ao Catecismo da Igreja Católica para me ajudar. Nos págrafos 1023 a 1025, está escrito:

Os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo. São para sempre semelhantes a Deus, porque o veem "tal como ele é" (1Jo 3,2), face a face (1Co 13, 12). (...)

Essa vida perfeita com a Santíssima Trindade, essa comunhão de vida e de amor com ela, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados, é denominada "o Céu". O Céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva.
Viver no Céu é "viver com Cristo".


E quanto àqueles que pediram a misericórdia de Deus, buscaram viver em harmonia com Ele, mas que, como o condenado Henrique Pranzini, não morreram em estado de graça? O destino dessas almas é o Purgatório.

Professor Felipe Aquino, a quem tanto admiro, costuma brincar que, "com muita sorte", irá para o Purgatório: "Se Deus quiser!", emenda com um sorriso.

Padre Léo, sempre ele, meu saudoso diretor espiritual, uma vez explicou lindamente no que consiste o Purgatório. Ele comparou Deus a uma pessoa ilustre, importantíssima:

Você já se encontrou com alguém importante sem tomar banho? De roupa suja e fedendo?... Pois então. O Purgatório é a 'sala de banho' por que devemos passar, para ficarmos limpinhos e cheirosos antes de estarmos com Deus....

Nós, católicos e cristãos, queremos o Céu. Nosso lugar é o Céu. O Purgatório não é definitivo: de lá, as almas se tornam aptas a verem a Glória de Deus - no Céu.

E aqui chegamos ao objetivo deste texto: convidar você a rezar pelas Almas do Purgatório.

É que eu aprendi com a doutrina da Igreja Católica que, ao contrário de nós, vivos, que podemos rogar a Deus pela nossa saúde, etc., elas não podem mais rezar pelo seu próprio bem. Suas orações só podem ser feitas em nosso benefício, dos vivos. Dessa forma, quem pode (e deve) interceder pelo Bem das almas do Purgatório, para que estejam o quanto antes na Glória de Deus, somos nós.

Agora, pense naquele parente querido que se foi. Pense nele. Pode ser o seu pai, a sua mãe... Aquele tio engraçado e carinhoso que você teve... Talvez, um amigo.... Ou o seu próprio marido. Se Deus quiser, esse parente querido já está na Glória de Deus. Mas... E se não estiver?

Um dia, São Tomás de Aquino (1226-1274) foi surpreendido pela irmã, que era religiosa e já havia morrido. Ele rezava, quando ela aparece e diz que "está no Purgatório e pede o socorro de suas orações e sacrifícios para libertar-se daquele lugar de tormento. O santo, com muito empenho, reza várias missas, jejua e oferece as orações, suas e de seus irmãos em religião [da Ordem Dominicana], por ela. Dias depois a irmã de novo aparece, desta vez rodeada de glória, agradecendo-lhe por tudo quanto fez por ela e pela glória que agora goza no Céu" (São Tomás de Aquino, Artpress, 2005).

No livrinho Novena das Almas (Editora Santuário, 2001), Padre Hélcio Vicente Testa C.Ss.R. (Congregação dos Redentoristas) explica:

Quem sai desta vida não completamente purificado, deve ser purificado no Purgatório. Por outra parte, pelo intercâmbio vital da comunhão dos santos, cada fiel, e com maior eficácia a comunidade, tem um real poder de intervir junto de Deus com uma ajuda de sufrágio [oração pelos mortos] em favor dos defuntos. Para estes irmãos, que ainda depois da morte estão se purificando, a Igreja oferece os seus sufrágios, uma vez que há a comunicação de bens espirituais entre a Igreja peregrina [nós, os vivos] e a Igreja padecente ou purificante [o Purgatório].

Convido você a rezar por aquela pessoa querida que não está mais no meio de nós.

Imagine que a sua oração por ela, e por todas as almas do Purgatório, será equivalente à água quando se está com muita sede; uma onda de calor, quando se está tremendo de frio; ou um vaso de violetas quando se está num lugar inóspito. A sua prece é um bálsamo para aquela alma.

Agora, imagine que, em vez dela, é você quem está lá... Naquele "lugar de tormento", como descreveu a irmã de São Tomás de Aquino. Duro, não? Façamos, pois, pelas Almas do Purgatório o que gostaríamos que fizessem por nós: oremos por elas.

Pai de misericórdia e bondade,
nós Vos suplicamos que concedais às almas do Purgatório
o alívio de suas penas,
levando-as à Vossa divina presença
para Vos glorificarem junto com todos os Anjos e Santos.


Lembrai-Vos especialmente
das almas de nossos queridos parentes, amigos e benfeitores
e daquelas mais abandonadas.


Ó, meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas todas para o Céu
e socorrei principalmente as que mais precisarem.


Dai-lhes, Senhor, o descanso eterno
e a luz perpétua as ilumine.

Descansem em paz. Amém.

(Do livro: Orações Particulares, Editora São Cristóvão, 1999)

~Ana Paula~A Católica
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