No auge da carreira, esta atriz sueca isolou-se. Teria sido um protesto à frivolidade social? |
Aí, veio a Faculdade, nem estávamos no mercado de trabalho ainda, mas a hostilidade e a competição eram táteis e sujavam as mãos... Meu funil afunilou-se e conto nos dedos de apenas uma das mãos as pessoas com quem não me sinto sozinha.
É engraçado. Lembrei agora uma festa, melhor: um evento, em que havia muita gente. E eu estava sozinha, num canto, com uma revista, me perguntando por que ninguém vinha conversar comigo. Tem uma frase manjada... Que diz que "a pior solidão é aquela sofrida numa multidão". É batido, mas é verdade.
Engraçado. Deve ser assim com você também - afinal, viemos todos do mesmo lugar: das mãos de Deus -, bem, quando eu bato o olho em alguém sei de pronto se vamos nos dar ou não. E as pessoas com quem me dou são raríssimas.
O primo de um primo meu tem uma esposa adorável. Eu simplesmente a adoro. Temos muito pouco em comum, mas quando nos encontramos, não fechamos a boca!... E não são só as cordas vocais que vibram: nossos corações também. Eu adoro me sentir desse jeito ao lado de uma pessoa!... É tão raro, tão genuíno, que me traz lágrimas aos olhos! Como é difícil nos identificarmos com alguém.
Parecemos todos blocos de concreto que se movem, que vêm e vão, e nosso assunto preferido, na maioria das vezes, é falar mal da vida uns dos outros. Discutir ideias - como meu avô paterno fazia - é proibido. Ou entediante.
Que mundo é este em que as conversas mais empolgantes são as que envolvem julgamentos precipitados e negativos sobre a vida de alguém? Quando vamos nos dar conta da pobreza de espírito que é ficar em rodinhas em festas ou almoços de família "etiquetando" quem é ou não é boa mãe, quem deveria ou não deveria estar trabalhando?
Não é possível que sejamos tão insensíveis para não nos darmos conta de que saímos desses encontros, dessas rodinhas, mais tristes, com a respiração pesada, um aperto no peito... Ninguém se sente bem falando mal da vida alheia. É impossível. Numa de suas memoráveis palestras, Padre Léo descreveu o Inferno como um monte de língua de gente fofoqueira, emendadas umas nas outras.
Mas o tema deste Post é... Solidão. E andei me sentindo solitária nesses dias. Como um pássaro que queria cantar, mas não conseguia, não via por quê. Pensei na atriz sueca Greta Garbo (1905-1990). Magnífica atriz. Suprema. Mas que, no auge da carreira, descontente, deixou o proscênio, afastou-se das luzes e viveu reclusa até morrer (ou tentar morrer) anônima.
Entre outras razões - como a estonteante beleza de seu rosto -, Garbo ficou conhecida por (quase) haver dito "Leave me alone!", em inglês "Deixe-me em paz!". Engraçado. Eu não disse isso. Mas parece que alguém achou que sim e saiu por aí espalhando o boato. E eis-me aqui... Mesmo sem querer... Em paz.
Imagem: Fotografia promocional de Greta Garbo para o filme Susan Lenox (1931)
~Ana Paula~A Católica