20 de agosto de 2010

Sim

John Lennon com a artista que disse: "Sim".

Imagem: Internet
Não. Hoje eu ouvi "não". Aliás, trata-se da palavra que nós mais ouvimos, desde o começo da nossa vida. Nossa mãe se distrai, se descuida, quando vira, lá estamos nós com a mão prestes a puxar a toalha da mesa, enfiando um grampo na tomada, subindo no sofá e querendo saltar pela janela. "NÃO!" NÃo. Não.

A vida é uma coleção de "Nãos". O que nossas mães, avós, babás ou "tias" mais fazem é nos ofertar um monte de... Não.

Vi uma vez num filme (que infelizmente nunca mais passou na televisão) como John Lennon (o ex-Beatle) e o amor de sua vida, a artista plástica Yoko Ono, se conheceram.

John foi visitar uma das exposições dela e, ao se deparar com uma escada - dessas que a gente costuma ter em casa -, com uma lupa pendurada na lateral por um tipo de corrente, subiu os degraus e lá em cima, escrito no teto, bem miudinho, com a ajuda da lupa, ele leu: "SIM".

Li uma vez que o ex-beatle garantiu que se apaixonou pela artista japonesa naquela hora. E que se tivesse subido a escada para ler "não", teria ido embora na hora.

SIM: "três letrinhas, todas bonitinhas, fáceis de dizer", como diz a canção cantada por Marisa Monte. Todavia, a gente prefere, ou usa mais, o seu oposto: NÃO. E como é doído aquele "Não" quando a gente jurava que seria um "Sim"...

Tá aí: a maior lição que os pais podem passar para os seus filhos é educá-los para ouvir um "Não". Reconheço a importância disso, apesar de toda a dor que o "Não" provoca. Veja todos estes casos de homens matando suas companheiras ou ex-companheiras. Na maioria, eles ouviram "Não": "Não quero mais viver com você, vá embora!" e, como não foram preparados pelos pais, não aceitaram esse "Não". Decidiram se vingar e mataram-nas.

Entretanto, enquanto ensinam com os seus "Nãos", os pais também deviam nos ensinar a dizer "Sins". "Sim, eu posso"; "Sim, conte comigo"; "Sim, eu rezarei por você"; "Sim, eu vou aparecer lá". "Sim, eu te perdoo". SIM.

Eu entendo o John Lennon e acho que não foi exagero dizer que se apaixonou pela Yoko Ono naquela hora: aquele sim miudinho, escondido no alto do teto da sala de exposição, era um "sim" quase místico: "Sim, John, Respire... É possível"; "Sim, John, você pode ser você mesmo"; "Sim, John, se você quiser, você pode 'voar', ir além, muito além de si mesmo"; "Sim, John, você pode".

Hoje, eu fui até lá de peito aberto, sorriso na cara... E ouvi um "Não". E aquilo foi duro de ouvir, de engolir. Será que não existe digestão possível para um "não"? SIM: existe. Chama-se tempo. "Tempo, tempo, tempo, tempo, tempooooo", como Maria Bethânia canta.

As horas se passaram e aquele "Não" medonho, horrível, que eu ouvi, foi diminuindo de tamanho, até caber... Na palma da minha mão.

Aí, eu me dei conta de que não sou a dona deste tabuleiro de xadrez chamado "Vida". Sou apenas uma peça. E porque acredito que Deus está a par dos acontecimentos - o que não implica negar o nosso livre-arbítrio -, fui me tranquilizando, tranquilizando... A tristeza persiste. Porém, decidi transformá-la neste post. Pra você ler.

Vou dormir com o "Não", na esperança de que, por detrás dele, na verdade verdadeira mesmo, Deus quis me dizer "Sim". Deus tem o Seu jeito de dizer "Sim" - ainda que nos aborreça por se parecer muito com um "Não"...

~Ana Paula~A Católica
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