14 de fevereiro de 2011

Você SECA as suas imperfeições?

Um defeito terrível: ansiedade. Outro: "armadura a toda prova".
Não sabe o que é isso?
É uma pessoa achar que só ela está certa e todo o resto, errado. (Deus me livre)

Acabei de ler uma reportagem sobre a ansiedade no jornal O TEMPO deste domingo (O cheiro da ansiedade alheia, Ana Elizabeth Diniz, 13 de fevereiro de 2011). Eu sofro de ansiedade. Talvez não em um grau que necessite de internação médica ou medicação, mas me aborreço bastante com isso. Eis a descrição do problema, conforme a matéria:

De uma forma geral, dizem os psiquiatras, a ansiedade é um sentimento incômodo vivenciado por pessoas que não se atêm ao momento presente e estão sempre pensando no futuro. O ansioso vive em um estado de alerta constante e sofre por antecipação por acontecimentos que ele nem sabe se vão se concretizar, mas que poderão gerar perdas, mágoas, sofrimentos, ressentimentos.

Esse é o drama que os ansiosos "de carteirinha" enfrentam. Ao longo da matéria do jornal, a ansiedade também é classificada como: "sensação indefinida [que] gera desconforto"; "sentimento desagradável, vago, indefinido"; "estado de excitação psíquica"... No meu caso, prefiro qualificá-la como a vejo: um defeito. Ou seja: uma imperfeição moral, algo que precisa ser debelado em mim.

Li uma vez, no ótimo livro de psicologia Mulheres que Correm com os Lobos (Rocco, 1994), que um meio eficaz de superar um defeito em nós mesmos é "secá-lo". Explico: já ouviu falar de gente que "seca" uma planta ou uma flor só com o olhar? Pois então. Reconhecer o defeito e pensar bastante nele, no tanto que ele nos incomoda, é um passo importante para sobrepujá-lo. Isso é secar. De tanto o mantermos sob a mira do nosso olhar, ele acabará morrendo.

É justamente isso o que faço com a minha ansiedade (e êta morte lenta, viu?). Sei direitinho quando ela me acomete. Fico triste, porém ponho logo em prática um conselhinho valioso da Magali, minha mãe: "Mude de pensamento". Tão logo eu começo a antecipar uma situação, a imaginar obsessivamente o que eu faria se isso ou aquilo acontecessem, corro para ouvir uma música (atualmente, Marisa Monte), a fim de me distrair. Ou me concentro e rezo.

Fotografia de Brunhilde Reinig

Como é importante esta habilidade de localizar e secar nossos defeitos. Chamo de "defeito" algo em nós que nos atrapalha a usufruir da vida. Que nos deixa para baixo e, às vezes, desmotivados a acreditar em nós mesmos e ir adiante. Se algo em você lhe dá esta impressão de melancolia, sufocação, atraso, derrota... Provavelmente, é um defeito. Como a ansiedade, a preguiça, o consumismo, o rancor (guardar raiva), tantos outros! Quem não tem ao menos um?

Você vasculha, encontra e seca as suas imperfeições morais? Ou não presta a atenção nisso?

Um defeito nas outras pessoas que me incomoda é o que chamo de "armadura a toda prova". Não conhece? É quando alguém se agarra a uma verdade (uma verdade particular) e, além de não estar disposto a abrir mão dela, quer impô-la aos outros (porque acredita que a sua verdade é a "verdade suprema").

Quem tem esse defeito não gosta de ouvir nem de dialogar. Vou usar uma metáfora: é como chegar de terno e gravata à praia. Além de fazer um calor de esturricar, não se trata do traje adequado para aquele lugar. Contudo, o cidadão-armadura não quer nem saber: para ele, independentemente de quaisquer circunstâncias, é dia de usar terno e gravata. E ponto final. Que tristeza!

Fotografia de Todd Hoogerland

Todo cidadão-armadura típico vem acompanhado de preconceito. Além de não estar disposto a ouvir nem a dialogar, o que os outros pensam não presta. Simples.

Noutro dia, contando a uma pessoa próxima, de outra religião, que eu tinha acabado de ler um livro interessantíssimo (Conversando com as Almas do Purgatório - sobre o qual escrevi aqui no Blog), ela mal me deixou completar a frase e foi logo emendando: "Ah, Ana Paula, tão estudada e esclarecida e lendo um livro desses...". Devolvi com esta: "Espere aí. Qual o problema? Você não acredita no vai e vem dos espíritos a este mundo? O que há de errado com a princesa católica do livro que também via almas?".

Ou seja, internauta: o preconceito da minha interlocutora - "Ana Paula é de uma religião diferente da minha, portanto o que ela diz não presta" - nem a deixou perceber que eu mencionava um livro sobre um tema comum e aceitável para nós duas: almas aparecerem a pessoas vivas. (Algo que ocorreu até mesmo com São Tomás de Aquino, como citei no Post Rezando pelas Almas do Purgatório.)

Procuro manter a mim mesma sob vigilância. Quem garante que já não agi (e não posso vir a me comportar novamente) como uma cidadã-armadura?

Lembra a ansiedade, que mencionei no início deste Post?

Segundo o psiquiatra Isaac Efraim, entrevistado pela repórter, ela é "um estado de excitação psíquica perante a perspectiva de uma situação de mudança, contato com o desconhecido, perigo e desespero". De acordo com a matéria, junto a esse "sentimento desagradável, vago, indefinido" pode vir "sensações como frio no estômago, aperto no peito, coração acelerado e tremores, podendo haver também sensação de falta de ar". E ainda: agitação, dor de cabeça e sudorese.

Incômodo demais, não é mesmo? Pois, para mim, muito pior do que sentir e driblar a ansiedade é (a possibilidade de) ser uma cidadã-armadura. Deus me livre! Deus me livre de me fechar na minha verdade, de não ouvir o outro, de não me colocar em diálogo com ele, de pôr pessoas que torcem para um time de futebol ou seguem uma religião diferentes dos meus na categoria não presta.

Proteger e cultivar a minha identidade (brasileira, católica apostólica romana, mulher, casada, cruzeirense*, etc.) não implica atacar e discriminar quem é diverso de mim. Assim sendo...

... Estrangeiros, evangélicos, espíritas kardecistas, muçulmanos, budistas, judeus, homens, homossexuais, solteiros por opção (ou não), atleticanos*: todos vocês são Meus Próximos. Meus Irmãos. E rezo a Deus para que eu esteja sempre disponível a ouvi-los e a dialogar com vocês. Se tem um defeito que preciso sempre secar, mais até do que a ansiedade, é a "armadura a toda prova". Definitivamente, não quero que ela sirva em mim. Saúde e Paz!!

Fotografia de Rainer Halama

*Nota: cruzeirenses são torcedores do Cruzeiro e atleticanos, do Atlético Mineiro, ambos times de futebol rivais do meu estado, Minas Gerais (BRASIL).


Fotografia no início do Post, por Yana Ray (Click The Image)


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