9 de novembro de 2010

Eu quero me perdoar. E você? Está pronto a se perdoar?

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Não dá para voltar e apagar todos os nossos desacertos.
Mas nem por isso devemos olhar para trás e abaixar a cabeça, desolados.
Para Jesus, o que importa é o caminho que há à frente para se percorrer

O perdão mais difícil é aquele que devemos... A nós mesmos. Tive uma adorável professora de Português no 2º Grau - hoje, Ensino Médio -, que não nos deixava passar as redações a limpo: "Na vida, não há rascunho. Escrevam de uma vez", dizia. Guardei isso como uma preciosa lição e, ao mesmo tempo, com apreensão.

Quando a Rede TV! entrou no ar, no lugar da extinta Rede Manchete, a jornalista Marília Gabriela apresentava um programa de entrevistas. Um dos convidados foi uma ex-modelo e ex-atriz (preservarei o seu nome) que, diante da pergunta: "Você se arrepende de alguma coisa?", respondeu aparentemente serena: "Não. Não me arrependo de nada". Fiquei perplexa e decepcionada.

Decepcionada, porque tudo o que um leitor, ouvinte, internauta ou telespectador espera de uma entrevista é a sinceridade do entrevistado. Esta é a graça: a ciência de que ali, diante da câmera, do gravador ou do microfone, está alguém disposto a abrir o coração. E a resposta daquela celebridade deixou translúcido para mim que ela não só mentiu naquela hora, como, provavelmente, mentiu a entrevista inteira.

Perplexa, porque caso eu acreditasse ou ela me convecesse de que o seu "não me arrependo de nada" foi sincero - pôxa, vida! -, como assim não se arrepender de nada? Vai ser segura de si desse jeito lá na China!

Fazendo de conta que sou uma celebridade e que seria eu naquela bancada azul, de fundo azul, diante da loira Marília Gabi Gabriela; caso a jornalista me fizesse a mesmíssima pergunta, outra não seria a minha resposta, senão: "Sim, me arrependo sim. De muitas e muitas coisas". "Cite algumas...", ela poderia me perguntar. "Ah, Marília, prefiro não expor. Mesmo porque as coisas de que me arrependo não são acessíveis em segundos: estão no fundo da memória. Enfim, eu teria que me lembrar delas. Pero que las hay, hay".

É uma pena ser verdadeiro aquilo que minha querida ex-professora de Português afirmava!... Não passamos a vida a limpo.

Aquele relacionamento que acabou daquele jeito, está feito. Não há como voltar, agir de uma maneira mais madura. Aquele curso que fizemos de qualquer jeito, mal frequentando nem prestando a atenção nas aulas, está feito. Não há como voltar no tempo e ser mais aplicada. Aquela má resposta a um colega de trabalho, aquela grosseria com um amigo, aquela frase mal dita diante da chefe, aquela fofoca espalhada entre os parentes... Está tudo feito. Ou até coisas mais graves: uma traição, um aborto, um desvio de dinheiro. Tudo, feito.

Agora: o que nos diferencia dos animais irracionais ou mesmo dos psicopatas (Graças a Deus!) é que nos condoemos e nos arrependemos. E a dor lancinante de haver feito o que não deveríamos é uma recompensa (que paradoxo!), porque nosso arrependimento é o gérmen da nossa mudança. Não dá para reescrever o que já escrevemos com nossas falas mal ditas, nossos atos mal feitos, nossos comportamentos reprováveis, nossas atitudes impensadas, nossos gestos mesquinhos. Mas é sim possível, deste ponto em diante, tentar fazer diferente.

Gosto muito da passagem do Evangelho de São Lucas, na qual Jesus Cristo deixa claro (claríssimo) a seus discípulos - provavelmente apenas os 12 apóstolos, não sei ao certo -, bem, que importa somente o que faremos daqui para frente ou deste ponto (no qual estamos) em diante:

"Enquanto caminhavam, um homem lhe disse: 'Senhor, seguir-te-ei para onde quer que vás'. Jesus replicou-lhe: 'As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça'. A outro disse: 'Segue-me'. Mas ele pediu: 'Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai'. Mas Jesus disse-lhe: 'Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus'. Um outro ainda lhe falou: 'Senhor, seguir-te-ei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa'. Mas Jesus disse-lhe: 'Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus'." (Lc 9, 57-62)

A Bíblia Sagrada está cheia de indicações para o nosso proceder. Tolo, aquele que a lê, mas não entende nem muito menos põe em prática o que ela diz. Aliás, quem lê a Bíblia e não a coloca em prática é porque não a entendeu. E muitas e muitas vezes, eu mesma ajo como uma autêntica anta (como o Amado e Saudoso Padre Léo gostava de chamar as pessoas que fazem tudo errado).

Este Post é sobre perdoar-se. A primeira pessoa em todo o mundo que deve tratar você com carinho e paciência... É você mesma (ou mesmo). Isso não é condescendência com os próprios descaminhos, mas pura questão de inteligência e sobrevivência. Eu mesma, antes de qualquer outro ser humano, mereço a minha própria misericórdia. A minha mão estendida, o meu amor e, especialmente, o meu próprio Perdão.

Ano passado, adquiri um livrinho chamado: Novena para Libertar-se do Remorso e do Sentimento de Culpa (Vozes, 2007). Sofro muito de sentimento de culpa e fico qual mula empacada, que não consegue ir para frente, condoída de tanto remorso. O livrinho foi uma tentativa de estender-me a mão: a minha mão para mim mesma. Ainda nas primeiras páginas, o autor, Felipe G. Alves, explica:

Há também outras pessoas que se arrastam por confundir arrependimento com remorso. Ora, o primeiro traz atitudes positivas de renovação interior, ao passo que o remorso traz atitudes negativas de autocondenação. O arrependimento provoca a busca de mudança de atitudes e correção do próprio erro. O remorso, porém, gera sentimentos de culpa e de revolta. O arrependimento é graça que vem do céu, ao passo que o remorso pode trazer depressão e até desespero.

Vamos experimentar nos tratar com mais afeto!

Vamos ser "bebês" de nós mesmos, tendo paciência e carinho com as nossas quedas, com as nossas falas inoportunas, com o nosso mau humor. No fundo, não passamos todos de crianças: como todas elas, tudo o que queremos é amor e atenção. Sejamos os primeiros a nos dar isso! Podemos (e devemos) ser pai e mãe de nós mesmos, nos estimulando, nos encorajando, nos dando abraços, passeios, roupas novas, aquele trato no visual e, sobretudo, no espírito: rezando mais e melhor.

Para encerrar, selecionei duas orações da Novena para Libertar-se do Remorso e do Sentimento de Culpa. Convido você a rezá-las comigo. Vamos lá?
Saúde e Paz!!

1ª Oração
Bom Pai, todo mundo nasceu para ser feliz.
No entanto, eu vivo a carregar angústia dentro de mim, porque pequei.
O peso do remorso me esmaga e meus olhos têm dificuldade de ver a luz.
No entanto, os ouvidos de minha alma ainda conseguem ouvir Sua voz,
que ainda me dá esperança de uma vida nova:
"Eu, sim, eu cancelei as tuas revoltas em atenção a mim
e de teus pecados já não me quero lembrar".

2ª Oração
Bom Pai, eu sei que o Senhor é só misericórdia
para com todos os seus filhos.
Mas, eu pergunto:
Como o Senhor pode esquecer nossos erros e considerar-nos sem pecado?
Só existe uma resposta: Seu nome é Amor.
Foi o Senhor quem afirmou:
"Pois terei misericórdia de suas iniquidades
e de seus pecados já não me lembrarei" (Jr 31, 34).


Imagem: Sorrow (1882), obra de Vincent Van Gogh (1853–1890)

~Ana Paula~A Católica
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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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