O exemplo do irmão de São Pedro nos estimula a esquecer, por ora, os de fora e voltar a nossa evangelização para nossa família, nossos parentes |
Um dos textos mais interessantes que li sobre o irmão do 1º Papa (São Pedro), está na edição deste mês da ótima revista Canção Nova, da comunidade católica de mesmo nome que, certamente, você já ouviu falar. Padre Fabrício Andrade - um dos melhores padres-pregadores desde que Padre Léo nos deixou em 2007 - escreveu um texto tão primoroso sobre Santo André, quanto suas palestras e homilias. Êpa! Antes de prosseguir, seria bom refrescar a nossa memória sobre quem ele foi, certo? (Não, não o padre, e sim o irmão de Pedro.)
O nome desse santo, um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo, sem querer querendo inspirou o da minha irmã Andréa Cristina. Segundo o excelente livro - que você não pode deixar de incluir em sua biblioteca católica - Os Cinco Minutos dos Santos (Editora Ave-Maria, 2006), André significa "varonil", "robusto".
Um primeiro ponto interessante em sua história é que ela é a prova de que os evangelhos não são tão parecidos como muito gente pensa.
Conforme o Evangelho de São Mateus (Mt 4, 18-19), Jesus foi ao mar da Galileia, onde o viu junto a seu irmão Simão - o futuro "Pedro" - e chamou ambos, naquele mesmo momento, para segui-lo. Contudo, no de São João (Jo 1, 35-42), a coisa foi bem diferente: André, instigado por João Batista, que apontou para o primo Jesus como o "Cordeiro de Deus", foi quem se dirigiu até Simão, a fim de avisá-lo dessa Boa Nova. Acompanhe como isso se deu:
"No dia seguinte, estava lá João [Batista] outra vez com dois dos seus discípulos. E, avistando Jesus que ia passando, disse: 'Eis o Cordeiro de Deus'. Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: 'Que procurais?'. Disseram-lhe: 'Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?'. 'Vinde e vede', respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era cerca da hora décima. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que o tinham seguido. Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe: 'Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo)'. Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: 'Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)'".
Tendo em conta a versão de São João, o evangelista, veja a deliciosa análise desse fato histórico no também imprescindível livro Um Santo para Cada Dia (Paulus, 1996):
Os dois primeiros chamados [André e o evangelista João] haviam já respondido ao apelo do Batista [primo de Cristo], cujo grito os havia arrancado da pacífica vida do dia a dia para prepará-los para a iminente chegada do Messias. Quando o austero profeta lhes indicou Jesus, André e João se aproximaram dele e com emocionante simplicidade limitaram-se a perguntar-lhe: "Onde moras?", sinal evidente de que em seu coração já haviam feito a escolha.
Os autores, Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini, seguem ressaltando a importância deste apóstolo e santo, cujo dia a Igreja Católica celebra em 30 de novembro:
André foi também o primeiro a recrutar novos discípulos para o Mestre: "André encontrou primeiro seu irmão Simão e lhe disse: 'Achamos o Messias'. E o conduziu a Jesus". Por isso André ocupa um lugar eminente no elenco dos apóstolos: os evangelistas Mateus e Lucas colocam-no no 2º lugar, logo depois de Pedro.
E aqui retomamos as primeiras linhas deste Post: o texto do Padre Fabrício, da Canção Nova. Lembrando essa primazia de André, consideremos assim, eis o que o adorável sacerdote nos propõe:
Aprendamos com Santo André, que em nada reteve sua experiência de encontro pessoal com Jesus, mas foi impelido a já anunciar a outros o grande tesouro recém-encontrado. É em direção da própria família que André encontra seu primeiro campo de missão, pois ao anunciar o Cristo a seu irmão mais velho, tornou-se instrumento humano de grande eficácia. Também nós, a exemplo de Santo André, temos um vasto campo de missão entre os de nossa família que precisam conhecer a Jesus.
Cara(o) internauta d'A Católica -
e aqui quero me dirigir particularmente a você, que também é Bloggueiro e escreve em um Blog católico:
Algumas vezes, estamos preocupados e empenhados excessivamente (e quase exclusivamente) em "evangelizar" os de fora - nossa pretensão chega ao cúmulo (!!) de querer ensinar doutrina católica a padres, bispos e até ao próprio Papa - como se Bento XVI não fosse iluminado pelo Espírito Santo o suficiente. Cometemos a blasfêmia de duvidar das retas intenções do nosso Sumo Pontífice, pondo em risco a nossa própria salvação, ao questioná-lo em Posts de Blogs. (Já escrevi sobre isso no Post Eu amo o Papa.)
Ficamos decepcionados e pensamos seriamente em "abandonar" os nossos Blogs, porque não conseguimos transformar a Igreja, a nossa (Arqui)diocese nem a nossa Paróquia naquilo que, pelo Catecismo da Igreja Católica, a Tradição e o Magistério, acreditamos ser O Certo. Olhamos para fora e o nosso fracasso em mobilizar outros fiéis ou em entender as atitudes de nossos sacerdotes, bispos ou do Papa nos indigna, desanima e frustra. Pois afirmo: nós é quem estamos errados. Erradíssimos.
De nada adianta, por exemplo, uma psicóloga que "ajuda" diversos clientes a entenderem e a desculparem seus pais que lhe causaram, por ventura, algum trauma, SE ela mesma, a profissional, não perdoa seus próprios pais e os retalia, ausentando-se do convívio com eles. Uma psicóloga assim fica na base do "Faça o que eu digo, e não o que eu Faço". E o próprio Cristo, no Evangelho de São Mateus, nos exorta (passagem equivalente se encontra em Lc 11,37-12,3):
"Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar, sem contudo deixar o restante.
Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo. Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Limpais por fora o copo e o prato e por dentro estais cheios de roubo e de intemperança. Fariseu cego! Limpa primeiro o interior do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão. Assim também vós: por fora pareceis justos aos olhos dos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniqüidade.
Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Edificais sepulcros aos profetas, adornais os monumentos dos justos e dizeis: 'Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos manchado nossas mãos como eles no sangue dos profetas...'. Testemunhais assim contra vós mesmos que sois de fato os filhos dos assassinos dos profetas. Acabai, pois, de encher a medida de vossos pais! Serpentes! Raça de víboras! Como escapareis ao castigo do inferno?
Vede, eu vos envio profetas, sábios, doutores. Matareis e crucificareis uns e açoitareis outros nas vossas sinagogas. Persegui-los-eis de cidade em cidade, para que caia sobre vós todos o sangue inocente derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel, o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o templo e o altar. Em verdade vos digo: todos esses crimes pesam sobre esta raça. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te são enviados! (Mt 23, 23-37)".
Palavras fortes, não? Pois em vez de mirarmos o Papa, os bispos e nossos padres, e nos desapontarmos com o comportamento, as palavras ou as escolhas que eles teriam feito ou dito, vamos dirigir a nossa vocação evangelizadora não a eles, mas a nós mesmos e, especialmente na véspera do Ofício Festivo de Santo André Apóstolo, a nossos próprios parentes.
Queremos mudar o mundo (como a psicóloga do exemplo pretendia interferir na atitude de seus clientes), porém nos esquecemos de que os primeiros que necessitam de salvação, ou no mínimo da nossa atenção e das nossas preces, são nossos pais e nossos outros parentes!
Bem...
... Depois da Ascensão de Nosso Senhor, a Escritura nada mais fala a respeito de Santo André.
De acordo com a obra Os Cinco Minutos dos Santos, "segundo as tradições conservadas por Eusébio, o apóstolo (...) pregou na Bitínia, na Cízia, na Macedônia e na Acaia [regiões entre a Europa e a Ásia], onde morreu crucificado em uma cruz em forma de X".
Conforme Um Santo para Cada Dia, "a única notícia provável é que o santo tenha anunciado a Boa Nova em uma região de bárbaros, a selvagem Sícia, na Rússia meridional, como refere o historiador Eusébio. Também a respeito do seu martírio não há informações certas. A morte na cruz (uma cruz de braços iguais) é referida por uma Paixão apócrifa". Apócrifo, no dicionário, significa um escrito "que não foi reconhecido como devidamente inspirado".
Enfim, é essa a mensagem que eu queria deixar neste Post. Para você, que o lê, e também para mim! Saúde e Paz!!
Como despedida, deixo-lhe aqui uma bela oração a ser dirigida ao santo que nos ensina a evangelizar de verdade, alguém cujo exemplo temos tanto que refletir e aprender. Até a próxima!
Pescavas outrora peixes,
aos homens pescas agora:
das ondas do mal, André,
retira-nos sem demora.
Irmão de Pedro no sangue,
também o foste na morte:
morrendo ambos na cruz,
tivestes o céu por sorte.
A iguais coroas chegastes,
seguindo idênticos trilhos:
a Igreja vos tem por pais,
a Cruz vos tem como filhos.
Primeiro a escutar o apelo,
ao Mestre, Pedro conduzes;
possamos ao céu chegar,
guiados por tuas luzes!
Do teu irmão companheiro,
mereces iguais louvores,
mas desse segues a voz,
pois é o pastor dos pastores.
Amigo de Cristo, dá-nos
correr contigo à vitória,
e um dia, chegando ao céu,
cantarmos de Deus a glória.
(Os Cinco Minutos dos Santos, extraída da Liturgia das Horas.)
Fotografia de Andreas F. Borchert
~Ana Paula~A Católica