Ontem, dia 14 de Setembro, a Igreja Católica celebrou a Exaltação da Santa Cruz. Hoje, dia 15, ela faz a justa memória de Nossa Senhora das Dores. Afinal, se nos deixa condoídos imaginar ou ver em filmes como A Paixão de Cristo (EUA, 2003) o tormento que afligiu Nosso Senhor, também nos aperta o coração tentar conceber ou assistir à representação do sofrimento de Sua mãe, Nossa Senhora.
A dor lancinante de Maria foi antevista por Simeão, o "homem justo e piedoso" que foi ao templo de Jerusalém, a fim de segurar nos próprios braços "o Cristo do Senhor", ainda bebê:
"Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos corações. E uma espada transpassará a tua alma" (Lc 2, 34-35).
E que espada! Ver o Filho atado com pregos a uma cruz, desnudo - Padre Léo garantiu que Jesus não tinha nem mesmo um pano para lhe cobrir as partes íntimas -, coroado de espinhos e achincalhado por judeus e soldados romanos. Conforme o evangelista São João (Jo 19, 25), Maria assistiu a tudo, de pé junto à cruz. No livro Os Santos do Calendário Romano - Rezar com os santos na liturgia (Paulus, 2007), Enzo Lodi expõe:
"Deus [...] quis que sua mãe estivesse de pé, junto à cruz, sofrendo com seu Filho" [...]. Como diz a encíclica Marialis cultus, essa memória [de Nossa Senhora das Dores] é uma ocasião propícia para revivermos "uma fase decisiva da história da salvação e para venerarmos a Mãe associada à paixão do Filho e próxima a ele, elevado na cruz". Maria fez o que é dever de todos os crentes: assemelhou-se a Cristo em sua cruz.
E lá, no Gólgota, ao participar de maneira singular da redenção da humanidade, ela nos foi dada como "mãe dulcíssima":
"Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: 'Mulher, eis aí teu filho'. Depois disse ao discípulo: 'Eis aí tua mãe'. E, dessa hora em diante, o discípulo a levou para a sua casa" (Jo 19, 26-27).
Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini explicam em Um Santo para Cada Dia (Paulus, 1996):
É junto à Cruz que a Mãe de Jesus crucificado torna-se a Mãe do corpo místico nascido da Cruz, isto é, nós somos nascidos, enquanto cristãos, do mútuo amor sacrificial e sofredor de Jesus e Maria. Eis porque hoje se oferece à nossa devota e afetuosa meditação a dor de Maria.
Internauta: refletir o padecimento de Nossa Senhora não significa "valorizar" a tristeza, o luto, a perda. Pelo contrário. Ainda de acordo com Enzo Lodi, eis uma verdade essencial de nossa fé:
"Na medida em que participais dos sofrimentos de Cristo, alegrai-vos" (1Pd 4, 25). É a alegria mística da cruz, a qual nos conforma a Cristo, obtendo-nos uma glória incomensurável, como canta para Maria a antífona [versículo que precede o salmo] do Benedictus: "Alegra-te Mãe Dolorosa, porque, depois de tantos sofrimentos, cercada de glória celeste, sentas-te ao lado do Filho como rainha do universo".
Depois das lágrimas, a alegria! Cristo e Sua mãe terna, humilde e, ao mesmo tempo, tão poderosa nos ensinam a passar pelas agruras da vida confiantes no júbilo que nos aguarda. Que espantosa - e, para muitos, incompreensível - lição!
Convido você a rezar comigo. Vamos juntos?
Nossa Senhora das Dores, Rogai por Nós!
Minha Mãe dolorosíssima,
não vos quero deixar sozinha a chorar,
mas quero vos acompanhar também com as minhas lágrimas.
Esta graça vos peço hoje:
alcançai-me uma compreensão sempre maior da paixão de Jesus e vossa,
para que em todos os dias de minha vida
eu possa ser solidário com as pessoas que sofrem,
vendo nelas vossas dores e as do meu Redentor.
Elas me alcançarão o perdão, a perseverança, o céu,
onde espero cantar a misericórdia infinita do Pai por toda a eternidade. Amém.
(Prece de Os Cinco Minutos dos Santos, Editora Ave-Maria, 2006)
Imagem: Our Lady, the Garden Enclosed - Fotografia de Broeder Hugo
~Ana Paula~ A Católica