16 de setembro de 2010

Ouvindo (e amando) Legião Urbana

As Quatro Estações é o melhor CD da banda (na minha opinião).
Letras falam de amor, compaixão e esperança.
Além disso, Renato Russo dá um show de interpretação

Falei noutro dia ao meu amado, mais que amado primo/irmão Flávio Augusto, que escreveria no Blog A Católica sobre Courtney Love e Kurt Cobain, vocalista da banda Nirvana. "Ué, Ana Paula... Não é um Blog católico? Não combina falar disso...". Expliquei que "Combina sim!" - posso falar de (quase) qualquer coisa no Blog, desde que seja sob um enfoque diferente, nada mundano, quase... Santo!

Pois então.

Acabei de estender roupa no varal, meu almoço tá esquentando e enquanto o tempo passava, resolvi colocar no meu CD Player (não gosto de iPod. Gosto de CD, com encarte explicando quem compôs a música, quem tocou a bateria e pra quem o artista dedicou o trabalho), enfim, coloquei pra tocar e ouvir pelo headphone As Quatro Estações, que a Legião Urbana lançou entre 1989 e 1990.

Uau. Mais de vinte anos depois, o CD - que adquiri nesta semana - soa impactante, envolvente, bem realizado e, especialmente, atual. E o melhor é degustar a interpretação deste grande artista chamado Renato Russo (1960-1996), líder da banda, que também compunha.

Me peguei dançando entre a cozinha e a área ao som de Meninos e Meninas:

Acho que gosto de São Paulo
Gosto de São João
Gosto de São Francisco e São Sebastião

Como eu amo essa música! (Que meu marido não leia isto.) É que nos tempos de escola, com meus 13 anos de idade, eu era gamadinha em um colega que se chamava "Tião"!... Coisa de adolescente. Mas, independentemente das lembranças, é uma ótima composição-desabafo:

Estou cansado de bater e ninguém abrir
Você me deixou sentindo tanto frio
Não sei mais o que dizer

Te fiz comida, velei teu sono
Fui teu amigo, te levei comigo
E me diz: pra mim o que é que ficou?


Há Tempos traz uma receita, que não pode passar despercebida pelos fãs e ouvintes - mesmo que a vibração da guitarra de Dado Villa-Lobos e da bateria de Marcelo Bonfa pareça soar mais alto:

Disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem

E o que dizer de Pais e Filhos?

Meu filho vai ter
Nome de santo
Quero o nome mais bonito...

É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã

E, mais à frente:

Você me diz que seus pais
Não entendem
Mas você não entende seus pais...

Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo


São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer


Graças a essa canção, comecei a querer (e tentar) compreender a "tirania" dos meus próprios pais!... Mas, as obras-primas do CD, para mim, são Quando o Sol Bater na Janela do Teu Quarto e Monte Castelo:

Quando o sol bater
Na janela do teu quarto
Lembra e vê
Que o caminho é um só


Por que esperar
Se podemos começar
Tudo de novo?
Agora mesmo

A humanidade é desumana
Mas ainda temos chance:
O sol nasce pra todos

Só não sabe quem não quer...

"O caminho é um só". Inevitavelmente, quando ouço Renato Russo cantar esse verso, lembro-me da passagem do Evangelho de São João:

"'Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais. E vós conheceis o caminho para ir aonde vou'. Disse-lhe Tomé: 'Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?' Jesus lhe respondeu: 'Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim. Se me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já o conheceis, pois o tendes visto'" (Jo 14, 1-7).

Em Monte Castelo, Renato Russo mescla - e muito bem mesclado! - um poema do artista português Luís Vaz de Camões (1524-1580) e a Primeira Epístola aos Coríntios, de São Paulo:

Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria...

É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade

O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja
Ou se envaidece...

O amor é o fogo
Que arde sem se ver
É ferida que dói
E não se sente
É um contentamento
Descontente
É dor que desatina sem doer...


O nome da música é uma incógnita para mim.

Quando fazia um curso de Estudos Diplomáticos em 2007, o professor mencionou uma tal "Batalha de Monte Castelo". Na hora, levantei a mão e perguntei-lhe se havia relação entre esse evento e o título da canção da Legião Urbana. O professor - seu nome era Daniel - não sabia ao certo, mas achava possível.

Conforme encontrei no site da cidade de Catanhede, no estado do Maranhão (Brasil):

A Batalha de Monte Castelo foi travada ao final da Segunda Guerra Mundial [1939-1945], entre as tropas aliadas e as forças do Exército alemão, que tentavam conter o seu avanço no Norte da Itália. Esta batalha marcou a presença da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no conflito.

A batalha arrastou-se por três meses, de 24 de novembro de 1944 a 21 de fevereiro de 1945, durante os quais se efetuaram seis ataques, com grande número de baixas devido a vários fatores, entre os quais as temperaturas extremamente baixas. Quatro dos ataques não tiveram êxito, por falhas de estratégia. Situado a 61,3 km sudoeste de Bolonha (monumento ai Caduti Brasiliani), via Località Abetaia (SP623), próximo a Abetaia.

No texto do site, há ainda este trecho:

Em 5 de dezembro, [...] depois de duas tentativas frustradas, Monte Castelo ainda era o objetivo principal da próxima ofensiva brasileira, a qual havia sido adiada por uma semana. Mas em 12 de dezembro de 1944, a operação foi efetivada, data que seria lembrada pela FEB como uma das mais violentas enfrentadas pela tropas brasileiras no Teatro de Operações na Itália.

Assim, neste ano de 2010, celebra-se os 65 anos da conquista do cume do Monte Castelo. Voltando à letra da música, confira o capítulo da Primeira Epístola aos Coríntios que inspirou a composição de Renato Russo. Nota: amor e caridade, na Bíblia, são sinônimos.

"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!

A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá.

Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade." (1Cor 13)

Caro internauta: vou parar por aqui. Melhor do que eu escrever, é ouvir o CD. Melhor do que você me ler é providenciá-lo pra você também! Viva a Legião!! É uma pena que, desde a morte de Renato Russo, não tenha havido um artista tão sólido, culto e carismático quanto ele no rock brasileiro, você não concorda?

P.S. A última canção do CD, Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar, termina com o artista cantando, em súplica:

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,
tende piedade de nós!

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,
tende piedade de nós!

Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo,
dai-nos a Paz!...

P.S.2 A edição de dezembro de 2010 da revista Billboard Brasil trouxe na capa a Legião Urbana. Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfa explicaram o significado do nome do CD: como ele demorou a ser realizado, cerca de 12 meses, teria abarcado, por isso, todas as estações do ano. Daí, o título: As Quatro Estações.


Fotografia de Petr Kratochvil (Click The Image)

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