Já estou no apartamento de frente para a Gameleira (lá no fundo, a Torre do Alto Vila e a Serra do Curral). Levei menos de quatro dias para pôr (quase) tudo em ordem. Agora estou aqui, digitando este Post pra você!
Como estivemos sem sinal de TV, almoçava assistindo ao DVD Mais, da cantora Marisa Monte. Fazia tempo que eu o assisti à primeira vez. Assustei. Fiquei meio perplexa por ver aquela artista – então com apenas 24 anos – cantando com todo o corpo. É que no seu penúltimo show, Memórias, Crônicas e Declarações de Amor, ela se mexia bem menos. Um pouco de pulso e de mãos. Nada de pernas, quadris ou braços.
Veio-me aquela admiração tremenda que ela despertou em mim ainda na adolescência. Que grande mulher! Em tudo: boca grande, dentes grandes, cabelo farto, sobrancelhas fartas, nariz grande, talento... Enorme. Fico me perguntando por que Deus fez só uma Marisa Monte: precisamos de mais. Mais – o nome do DVD.
Marisa só canta ao vivo – não aceita fazer playback (sabe quando o cantor dubla o disco nos programas de auditório? Pois então. Ela se recusa) e mantém a vida particular “particular” (não fica abrindo a casa para a revista Caras nem expondo a intimidade para o programa TV Fama). Dessa forma, direciona o foco para o que tem que brilhar: a sua voz, as suas músicas.
Depois de Marisa, apaixonei-me por outra cantora – que estourou no país em 2003. Vou preservar o seu nome, por uma questão de delicadeza. Comprei seus dois primeiros CDs. Tornei-me tiete, fã de carteirinha, apostava todas as minhas fichas na sua integridade – enfim, uma “nova Marisa Monte”.
Mas, aí veio o seu terceiro CD. E uma reformulação total na sua imagem. A cantora, antes pacata e discreta e que fazia questão de cantar descalça, com os pés no chão, começou a usar saltos altos altíssimos, vestidos curtos e justíssimos, grandes decotes e a dar entrevistas em que expunha a sua intimidade. Que decepção! Que de-cep-ção. Nem comprei o tal terceiro CD – e olhe que ele já custa R$ 9,99 nas Lojas Americanas.
Tenho birra de artista que expõe o corpo. Birra. Acho conversa fiada falar que “O que é bonito é para se mostrar”; “O corpo também é uma forma de se expressar”. Papo furado. Duas únicas razões justificam uma artista exibir parte dos seios, as coxas ou a bunda: exibicionismo e dinheiro. Chamam a atenção para as próprias curvas e a barriga enxuta e, depois, dão aquelas entrevistas cínicas em que “lamentam”: “Ai, eu queria tanto que prestassem mais atenção na minha música...”.
Como prestar, minha filha, se seus seios estão saltando tanto para fora da blusa que prejudicam a nossa audição?
Por falar nisso, é chocante assistir aos vídeos de algumas artistas estrangeiras no canal MTV. Vídeo após vídeo, elas se assemelham não a cantoras de gabarito, mas a dançarinas de Night Clubs (clubes noturnos), que se requebram na frente dos clientes a fim de receberem uns trocados. Será que sou a única a enxergar isso? Será que elas não veem quão ridículo é rebolarem só de biquíni ou de calcinha e sutiã, enquanto dublam suas músicas??
Marisa, a seu turno, é tão soturna, tão discreta, que seu traje preferido é qualquer um na tonalidade preta. Só a pele alva e a boca vermelha se destacam em sua figura. Como canta em Sou seu Sabiá, de Caetano Veloso:
Eu sou, sou sua sabiá
O que tenho eu te dou
Que tenho a dar
Só tenho a voz cantar
Cantar, Cantar, Cantar
Quando assisto a seus DVDs, quando ouço os seus maravilhosos CDs, chego a emocionar-me e a rezar baixinho:
Meu Deus, como eu queria ser assim! Como eu queria ser doce, talentosa, séria, compenetrada, leve, poética, intensa, discreta, amiga (Marisa tem grandes amigos na MPB) e bem-sucedida como a Marisa Monte!
Artistas como ela dão credibilidade à Música Popular Brasileira (MPB) e Orgulho às Artes.
Além de também compor, Marisa escarafuncha, pesquisa a história da nossa música, regrava grandes canções como O Xote das Meninas (de Zé Dantas e Luiz Gonzaga, o Gonzagão, Rei do Baião, de quem sou Fã), South American Way, imortalizada na voz da cantora e atriz Carmen Miranda (1909-1955) – outra de quem sou Fã -, e Rosa, de Pixinguinha e Otávio de Souza; produz um CD com músicas inéditas, que reúne a Velha Guarda da Portela (Tudo Azul), e grava outro, como resultado do aprofundamento de suas pesquisas do universo do samba: Universo ao Meu Redor.
A propósito, lembro-me de quando adquiri esse CD e o Infinito Particular, que ela lançou junto. Eu assinava o Estadão (jornal) e ao vê-la na matéria de capa do caderno de Cultura, saí de casa – literalmente - correndo, fui às Lojas Americanas, no Shopping Cidade, no centro de BH, comprei ambos e, em seguida, voei de volta pra casa!! Era 2006 e, há seis anos, a cantora não lançava um novo trabalho só seu. Estava curiosíssima pra ouvir. E não me decepcionei. Em sete dias, já sabia as músicas de cor!!
O que mais gosto na Marisa Monte são duas qualidades: a suavidade com que canta – sem precisar de agudos estridentes para “exibir” a sua potência vocal – e a sua modéstia. Sua importância na história contemporânea da música brasileira é tão grande quanto sua boca, seus dentes e o seu talento. Mas, ela age com tamanho recato, que chegamos a duvidar de que existe mesmo - não é mera “invenção de ótica”.
Afinal, existem artistas às pencas que afirmam: “Eu fiz... Eu criei... Eu ajuntei... Eu estorei em Nova York...”. Mim índio; mim jacu que se acha o máximo; mim me lichar para o público; mim gostar só de mim. Parecem um bando de índios dando entrevista, de tanto que abusam do pronome na primeira pessoa. Ops. Longe de mim ofender os índios, que não têm culpa disso.
Vou ficar por aqui...
... Lembrando que o Blog A Católica celebra 2 meses de existência!!
Ipi, Ipi, Urra!
Ipi, Ipi, Urra!
Ipi, Ipi, Urra!
Obrigada por seus olhos, pelo tempo que passa lendo os textos que “mim escrever”, e Deus o abençoe todos os dias de sua vida!!
Outro Obrigada à minha seguidora nº1, Teresa Moreno, e àqueles que deixaram comentários nos textos neste segundo mês de existência: Viviana Paula, Carlos William e Renato Romano. Merci! (Com “i”, viu, Larissa Cristina?)
E, para não perder a ginga no francês: À bientôt!
Até o próximo Post! Saúde e Paz!
É o Bonde do Dom que me leva
Os anjos que me carregam
Os automóveis que me cercam
Os santos que me projetam
Nas asas do bem deste mundo
Carrego um quintal lá no fundo
A água do mar me bebe
A sede de ti prossegue
A sede de ti...
(O Bonde do Dom, canção de Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte)
Fotografia de Nany Mata (Click The Image)
~Ana Paula~A Católica