14 de setembro de 2010

A arte de abraçar caladinhos a Nossa Cruz

Meu avô Raul Augusto seguiu o exemplo de Cristo e assumiu a sua cruz
com tranquilidade, sem desespero, obediente à Vontade de Deus

Já comentei no Post Espinho na carne a respeito da observação de uma amiga muito querida da minha mãe. Ela não entende por que os católicos exaltam a cruz de Cristo, sendo que "ele já saiu de lá há muito tempo: mais de 2000 anos...". O próprio Padre Léo (que vira e mexe, mexe e vira, menciono por aqui), bem, ele mesmo disse em entrevista ao apresentador de TV Jô Soares que a Paixão de Nosso Senhor, apesar de haver durado "apenas 18 horas", é mais lembrada do que a sua Ressurreição, que "dura até hoje".

De fato, é mais comum encontrar em lares católicos um crucifixo na parede do que uma imagem de Jesus Ressuscitado. Entretanto, isso não implica ignorar que Ele está vivo, em nós e no meio de nós. Conforme vem esclarecido no ótimo livro Um Santo para Cada Dia (Paulus, 1996):

Cristo, encarnado na sua realidade concreta humano-divina, se submete voluntariamente à humilde condição de escravo (a cruz era tormento reservado para escravos) e o suplício infame transformou-se em glória perene. Assim a cruz torna-se o símbolo e o compêndio da religião cristã.

A própria evangelização, efetuada pelos apóstolos, é a simples apresentação de Cristo Crucificado. O cristão, aceitando essa verdade, é crucificado com Cristo, isto é, deve carregar diariamente a sua cruz, suportando injúrias e sofrimentos, como Cristo.

Essa última frase põe fim à confusão que algumas pessoas fazem, ao acreditar que "católico gosta de sofrer" ou "católico é triste". Na verdade, a doutrina da Igreja e nossos párocos apenas nos levam a reconhecer e aceitar esta verdade: que o sofrimento, ou seja, a cruz está na vida de todo mundo. Sem distinção. E, em vez de nos rebelarmos, o melhor a fazer é abraçá-la. Como Jesus Cristo fez.

Na nossa vida, ao nosso redor, há pessoas carregando cruzes aparentemente mais pesadas e incômodas do que a nossa e de Maneira Digna. Meu avô, Raul Augusto, homem das letras, das artes, ficou cego aos 78 anos - o que o impediria de exercer três paixões: contemplar a natureza; ler e escrever.

Contudo, para espanto dos médicos e dos 12 filhos, ele "inventou" um jeito de continuar a criar os seus poemas.

Primeiro, através de uma tábua de madeira, sob a qual colocava uma folha de papel: cada ripa significava uma linha diferente (desse modo, ele não escrevia em cima do que acabara de compor). Depois, começou a gravar os seus textos em fitas cassetes. Para saber se uma fita já estava gravada ou era virgem, ele rasgava uma pontinha da folha que vinha em cada uma delas. E assim foi...

... Meu avô e eu - conforme já elucidei no Post Cartinha ao Vovô Raul - éramos Grandes Amigos. Trocávamos confidências e não havia limite para os assuntos que discutíamos.

O que se faz diante de um Grande Amigo? Nós desabafamos, abrimos o nosso coração e até choramos, não é mesmo? Pois bem: meu avô, ceguinho da Silva, nunca, nunca, nunca reclamou da sua nova condição para mim. Ele jamais murmurou. Nossos momentos juntos eram de Celebração à Vida, jamais de lamento. A vida, para ele, mesmo sem poder vê-la, continuava bela. Que Grande Homem! Que exemplo! Dezoito anos cego até morrer aos 96 anos incompletos, em 19 de abril deste ano, dia de Santo Expedito.

Noutro dia, eu conversava com a sua esposa, Vovó Antonieta. Tadinha!... A cruz dela é o intestino, a região do abdome. Vira e mexe, ela sente dores, não consegue se alimentar, enfim, uma verdadeira cruz. Pois bem. Conversávamos sobre isso e, de repente, começamos a enumerar cruzes maiores do que a dela. E, juntas, chegamos à conclusão de que qualquer problema é suportável, menos perder a consciência de quem somos!... E, rindo, minha avó disse: "O dia em que eu não souber mais quem eu sou, prefiro morrer!...".

Enfim, caro internauta, comparando com situações piores é que vamos levando a nossa própria cruz... Caladinhos, sem reclamar, cientes de que ela é realidade para mim, para você, para o vizinho, para o ateu, para todos nós. Neste dia em que a Igreja Católica celebra a Exaltação da Santa Cruz, espero que, pela intercessão de Nossa Senhora, sigamos confiantes, apesar dos pesares e mesmo que (às vezes) demos uma paradinha para, quietinhos, chorar. Saúde e Paz!

Vamos rezar?

Oração pela Graça de Cumprir a Vontade de Deus
(Orações de Poder II, Raboni editora)

Ó, Jesus, pregado na cruz,
suplico-vos:
concedei-me a graça de sempre, em toda a parte e em tudo,
cumprir fielmente a santíssima vontade de Vosso Pai.
E quando essa vontade de Deus me parecer
penosa e difícil de cumprir,
então suplico-Vos, Jesus,
que das Vossas chagas desça sobre mim
força e vigor
e que a minha boca repita:
Seja feita a Vossa vontade, Senhor!

Ó, Salvador do mundo,
amante da redenção humana,
que em tão terríveis suplícios de dor
Vos esqueceis de Vós mesmo
e Vos lembrais da salvação das almas,
Jesus, cheio de compaixão,
concedei-me a graça de me esquecer
de mim mesmo
para viver totalmente para as almas,
ajudando-Vos na obra da salvação,
segundo a santíssima vontade de Vosso Pai.


Imagem: Christ on the Cross, Rogier van der Weyden - Great Works of Art Dutch Masters

~Ana Paula~A Católica
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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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