Me lembro bem daquele 11 de setembro de 2001. Eu havia acordado (eram cerca de 9h30 da manhã) e colocado na bandeja de alumínio colorida: pão, broa de fubá, talvez alguns biscoitos recheados e leite com Nescau - ou seria café com leite? Sentei no sofá do quarto de televisão, peguei o controle e liguei a TV. Parei na Rede Globo. A imagem estava "congelada" em um enorme edifício escuro, de onde saía fumaça preta. Atrás, o céu muito claro, quase branco.
Mordi o pão. Tomei o leite. "Que lugar é esse?"; "Por que a Rede Globo está mostrando isso?". Ouvi a voz simpática do excelente jornalista Carlos Nascimento (que atualmente trabalha em outra emissora, o SBT). Ele explicava que aquele edifício, de onde a fumaça preta saía, ficava em Nova York, nos Estados Unidos. Não recordo o que mais ele falou. Segui acompanhando a transmissão. E comendo.
Olhei para a bandeja, a fim de pegar um pedaço de broa. Ou um biscoito. Então, rapidamente, meus olhos se desviaram de novo para a TV, quando ouvi a voz um tanto aflita de Carlos Nascimento: "Outro avião. Olhem lá, outro avião! O que é isso??... Ele está muito baixo! Vai bater no outro prédio, vai bater...".
Foi assim, internauta d'A Católica, que assisti ao vivo ao segundo avião sequestrado por terroristas ligados à rede Al-Qaeda chocar-se contra a segunda das Torres Gêmeas do World Trade Center - até então, os maiores arranha-céus da cidade de Nova York: teriam 110 andares e cerca de 415 metros de altura cada um.
Naquela mesma manhã, um terceiro avião, também tomado por terroristas, atingiu o Pentágono - que abriga o Departamento de Defesa do governo norte-americano -, no Condado de Arlington. No total, conforme o portal de notícias G1, 2.973 pessoas morreram nos ataques naquele dia inesquecível - três delas eram brasileiros. Nos dias que decorreram, um nome seria pronunciado à exaustão: o de Osama Bin Laden.
O saudita, que teria nascido em 1957, era um rico herdeiro do ramo da construção que, no final dos anos 1980, fundou a organização terrorista Al-Qaeda. Segundo soube pela imprensa, ele tinha muito interesse em religião e seu objetivo era patrocinar a Jihad - a "luta santa". Primeiro, contra os soviéticos (que invadiram o Afeganistão em 1979) e, depois, contra os norte-americanos (que instalaram bases militares na Arábia Saudita, seu país, durante a Guerra do Golfo - atitude que o desagradou).
Além de uma série de outros atentados atribuídos à Al-Qaeda, como aqueles de 1998 contra as embaixadas norte-americanas na Tanzânia e no Quênia, na África, que deixaram 224 mortos e milhares de feridos, Bin Laden também é considerado o mentor da tragédia do dia 11 de setembro. Por isso, há quase dez anos, era o criminoso mais procurado em todo o mundo. Busca que terminou na madrugada desta segunda-feira (tarde de domingo, no horário de Brasília).
Osama estava em uma mansão na cidade de Abbottabad, próxima a Islamabad, capital do Paquistão. Conforme li na imprensa, a captura vinha sendo planejada há meses (o esconderijo teria sido localizado, com certeza, em fevereiro deste ano). A ordem do presidente norte-americano Barack Obama era de matá-lo. Junto ao terrorista, teriam morrido na operação dos Estados Unidos - que atuaram sozinhos, contando com o aval do governo paquistanês - um de seus mais de 20 filhos, uma de suas (quatro ou cinco) esposas e um assessor, que seria seu mensageiro de confiança.
O que me causou perplexidade, ou melhor, o que me fez refletir a ponto de escrever este Post d'A Católica, foi contemplar na TV as reações da população norte-americana.
A primeiras imagens mostraram sobretudo jovens muito bonitos, moças e rapazes, negros e brancos, com seus jeans e moletons cinzas, azul-marinhos e vermelhos, empunhando bandeiras de seu país enquanto gritavam: "USA! USA! USA!" - que são as iniciais de United States of America ou Estados Unidos da América (EUA), como escrevemos em português.
Entendo a euforia de todos eles: afinal, deve ser uma sensação muito ruim alguém encabeçar uma invasão a seu país, deixar um rasto de morte, dor e pânico... E não ser encontrado. Assim, muito da comemoração nas ruas em frente à Casa Branca, a residência do presidente dos Estados Unidos, em Washington, DC, e perto do local onde as Torres Gêmeas do World Trade Center ficavam, em Nova York, expressava um certo alívio: Osama Bin Laden já não existe mais.
Contudo, fiquei pensando que ele, o saudita terrorista e milionário que conseguiu se esconder do Exército norte-americano e da CIA (a agência de inteligência norte-americana) por quase uma década, não encarnava todo o mal. Em princípio, a sua morte é apenas uma morte. Pela TV, ouvi um analista dizer que a Al-Qaeda é uma rede que existe e se dissemina muito facilmente na Internet. Há outros Osamas. À espera apenas de um sinal ou de uma oportunidade.
Por isso, e apesar de entender a euforia dos jovens norte-americanos nas ruas na madrugada desta segunda-feira, a primeira deste mês de maio, a celebração tem um sabor meio amargo. Como aquelas balas que parecem doces, docinhas, mas que a gente acaba de chupar e deixam a boca azeda. Com gosto estranho.
A morte de Bin Laden não representou uma vitória derradeira contra o terror. Não foi o ponto final de uma guerra bem-sucedida.
No fundo, Barack Obama, seus assistentes, como a secretária de Estado Hilary Clinton, e até mesmo os cidadãos comuns norte-americanos sabem disso. Algumas vezes na vida, temos reações desproporcionais à situação que se nos apresenta. Explodimos de raiva diante de um mal-entendido, que se resolveria com uma simples conversa. E nos extasiamos de alegria ante um feito fugidio: amanhã, na luta contra o terrorismo, nos aguardam novos (e intrincados) desafios. Que Deus nos ajude.
Imagem de 1918, por Haskell Coffin |
P.S. Para ler mais:
1) Exame de DNA confirma morte de Bin Laden, diz agência (FolhaOnline);
2) Mundo está mais seguro com morte de Bin Laden, diz Obama (portal G1);
3) Bin Laden está morto, e Obama está mais vivo do que nunca para a disputa do ano que vem (coluna revista Veja).
~Ana Paula~A Católica