23 de janeiro de 2024

Mais católicos do que o Papa

Foto: Korea.net (CC BY-SA 2.0)

Evangelho Segundo São Mateus (Mt 5, 20)

Toda a consideração que Jesus tinha pela Lei dos judeus fica nítida no Evangelho Segundo São Mateus, onde Ele diz: "Não julgueis que vim abolir a Lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição".

Isso pode nos deixar confusos, quando lemos sobre judeus repreendendo Cristo por haver supostamente desrespeitado um mandamento, como o do descanso no sábado.

Mas atentemo-nos ao que Jesus disse: levar a Lei à perfeição.

Escribas eram teólogos estudados e, na qualidade de juízes, tomavam decisões válidas em questões de direito religioso e penal.

Fariseus caracterizavam-se pela estrita observância de pagar o dízimo, seguir prescrições de pureza, rezar três vezes ao dia e fazer jejum duas vezes por semana. Autodesignavam-se "piedosos" ou "os separados".

Jesus nos ordena a ter uma justiça maior do que a desses dois grupos. No entanto, como isso seria possível, se escribas e fariseus eram cumpridores resolutos da Lei?

Quem estudou Direito sabe que uma lei deve ser interpretada. Muitas vezes segui-la ao pé da letra pode levar a um erro, a uma injustiça.

O Vaticano do Papa Francisco há pouco mais de um mês, pôs a ordem de Jesus em prática...

... Ao publicar o documento Fiducia supplicans, passou a autorizar os padres da Igreja a ministrarem bênçãos a casais homossexuais.

Sim: está no Catecismo da Igreja Católica que atos homossexuais são "contrários à lei natural" etc.

Porém, o Vaticano de Francisco resolveu levar a lei à perfeição. Em vez de se fiar na discriminação, penetrou no espírito do Catecismo, qual seja, o de aproximar de Deus quem quer que seja. Quem quer que o queira.

Nas palavras de Sua Santidade: "Quando alguém pede uma bênção, está expressando uma petição pela ajuda de Deus, um apelo para viver melhor e confiança em um Pai que pode nos ajudar a viver melhor".

O Vaticano de Francisco, sem alterar um iota do Catecismo, cumpriu-o em seu sentido profundo.

Sempre que o amor, a compaixão e a misericórdia prevalecem na interpretação de um preceito, fazemos justiça. Uma justiça muito maior do que a dos católicos que, semelhantes a escribas e fariseus, acham-se melhores do que os demais (do que o Papa!), por se apegarem à letra da lei.

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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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