3 de março de 2011

Eu amo o carnaval: I LOVE carnival

Neste Post, a minha história com o carnaval e
por que é importante viver este período de Folia e Alegria.
Extravase VOCÊ também!

Imagem: máscara do carnaval de Veneza (Itália) - Fotografia de Twice25 & Rinina25

Máscara do carnaval de Veneza (Itália) - Fotografia de Andrea

Meus pais me levavam para pular carnaval nos salões dos clubes. Eu adorava. Minha mais remota lembrança desta contagiante época do ano sou eu engolindo confete (os foliões o jogavam para o alto e, como eu estava todo o tempo gritando ou cantando, acabava mastigando alguns) e ajoelhada no chão para catar essas bolinhas de papel coloridas - rosa, verde, amarelo e azul -, a fim de lançá-las de novo para cima.

Mamãe Gali sempre foi costureira "de mão cheia" - como dizemos aqui no Brasil - e confeccionou inúmeras fantasias para mim e minha única irmã, Andréa Cristina: havaianas, baianas, melindrosas, mulheres maravilhas (Wonder Women). O máximo de maquiagem que recebíamos na cara era um batom vermelho. Talvez uma sombra azul e um blush rosa. E só. Mamãe também fazia máscaras com lantejoulas e até colares.

Pela televisão, eu via TODO O BRASIL sintonizado em um espírito: a alegria. Em um movimento: a folia. Parecia que todo o mundo estava reunido em torno de uma única missão: extravasar.

Ala das Baianas da escola de samba Portela - Rio de Janeiro (Brasil)

Fotografia de Ygorrj359

O ano todo muitos de nós trabalham, lutam pelo pão de cada dia - ou como Papai Tuti gosta de dizer: "matam um leão por dia" -, enfrentam chuva, calor, trânsito engarrafado, vizinho chato, chefe impertinente, relatórios complexos, reuniões enfadonhas, comida ruim de restaurante, gente que fura fila no cinema e no supermercado... Tem que haver um período em que nos seja permitido brincar, sair na rua mascarado de Carmen Miranda, pirata, pierrot, o que for!... Esse período se chama CARNAVAL.

Há muitos anos, eu não vou a um salão extravasar. Como isso me faz falta!... Meu último baile foi em um clube tradicional aqui em Belo Horizonte (Brasil), onde só era permitido fantasiar-se nas cores branca ou azul. Fui todinha de azul. Passei purpurina azul nos olhos e vermelha na boca. Fiquei iluminada. Dancei ao som de uma banda animada que tocava ao vivo inúmeras marchinhas que levantavam o público: Allah-La Ô, Cabeleira do Zezé, Marcha do Remador, Lata D'Água, Linda Loirinha, Aurora...

Não vou mais a bailes - por pura falta de oportunidade. Porém, vivo esta época gostosa do ano acompanhando com entusiasmo, pela televisão, os desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro. A minha favorita é a Mocidade Independente de Padre Miguel.

Se você não mora no Brasil, deve saber que são dois dias de desfiles na Marquês de Sapucaí ("a passarela do samba", no Rio) que atraem milhares de turistas - bote milhares nisso - todos os anos.

Na verdade, não se trata de uma mera exibição das escolas de samba: elas são julgadas nos quesitos Bateria; Samba-Enredo; Harmonia; Evolução; Enredo; Conjunto; Alegorias e Adereços; Fantasias; Comissão de Frente; Mestre-Sala e Porta-Bandeira. Aquela que receber a maior pontuação na soma desses dez quesitos fatura o título de "Campeã do Grupo Especial do Carnaval do Rio de Janeiro". "Especial", porque há outras escolas, menores, do chamado "Grupo de Acesso".

Minha irmã já assistiu aos desfiles in persona de uma das arquibancadas na Marquês de Sapucaí. Foi junto a dois primos: Christian e Cynthia e à Tia Glória. Disse que nem se compara: a tela da TV, de plasma ou não, não faz jus à beleza que é assistir a tudo de lá, in loco. Andréa me contou que chorou ao ver a Estação Primeira de Mangueira passar e que é emocionante avistar tão de perto a imensa águia (símbolo) da Portela - a escola de samba que mais vezes venceu no carnaval carioca: 21 títulos ao todo.

Carro alegórico da Mocidade Independente de Padre Miguel - Rio de Janeiro

(Fotografia de Sergio Luiz)

O Galo da Madrugada - carnaval do Recife, Pernambuco (Brasil)

Fotografia de Antônio Cruz - Agência Brasil/ABr

Eu não estou "morta para o mundo".

Adoro fazer parte dele e participar do calendário da sociedade na qual estou inserida, acompanhando as festas do meu Brasil Brasileiro. Gosto de ser como as árvores, cuja folhagem responde a cada estação do ano: primavera, flores e frutos; outono, folhas ao chão. Não quero pensar em Quaresma por ora, quando no ar ressoam o farfalhar do confete e da serpentina; a batida do pandeiro e do tamborim; o gemido da cuíca. Não dá para me fingir de surda. É tempo de festejar. De balançar. De muito barulho.

Algumas pessoas associam o carnaval à "perdição". E, em nome de uma religiosidade estranha e triste, execram esta data. Alegam que a festa desperta o que há de pior no mundo: imoralidade, sexualidade desregrada, o beber desenfreado. Tenho algo a dizer a esse respeito.

Não é o comportamento censurável de alguns foliões que me levará a tapar os ouvidos e fugir para um lugar bem longe nesta época do ano. Não posso deixar que a atitude de alguns - que não medem as consequências e exageram na bebida e no sexo - governe o que penso do carnaval. Porque, sinceramente, se eu fosse levar em conta o modo de proceder de muitos católicos, eu não seria católica apostólica romana.

Em suma: porque algumas pessoas extrapolam durante o carnaval, eu não deixarei de amar este período do ano. Assim como porque há muitos católicos-fariseus*, que acham que Ser Católico consiste (apenas) em seguir os preceitos de assistir à missa e vestir-se com modéstia, mantendo um coração inflexível e sem compaixão, eu não abandonarei a Igreja Católica Apostólica Romana. Amo o carnaval, apesar do excesso de alguns foliões, e amo a Igreja, embora haja tantos fiéis e religiosos hipócritas.

É isso.

Desejo que, como eu, você também extravase - com sobriedade - neste carnaval. Fantasie-se, "solte a franga" (como brincamos aqui no Brasil), libere-se. Pule, grite, dance muito. Quem vive um carnaval com intensidade - sem exageros - certamente estará mais preparado para desfrutar do que vem logo depois, começando na Quarta-Feira de Cinzas: a Quaresma. Saúde e Paz!!

Baiana em uma rua do Pelourinho - Salvador, Bahia (Brasil)

Fotografia de Antônio Cruz - Agência Brasil/ABr

Ritmistas do grupo Sambadeiras - Olinda, Pernambuco (Brasil)

Fotografia: Prefeitura de Olinda

P.S. *Fariseu é um "membro de uma seita de judeus que ostentava grande santidade exterior na sua vida" (Dicionário Priberam). Segundo a nota da Bíblia Vozes (Editora Vozes, 2005), Jesus condenava não a doutrina, mas a hipocrisia e soberba dos fariseus, que os levavam a desprezar a massa "ignorante".


~Ana Paula~A Católica
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