23 de março de 2013

Fratello, hermano: o novo Papa e Francisco de Assis

Conheça a vida do italiano São Francisco de Assis
que, com a ajuda de um cardeal brasileiro,
inspirou o nome (e revela o perfil) do Pontífice argentino

Imagem: Papa Francisco - 18 March 2013 - Fotografia: Casa Rosada


Este Post do Blog A Católica é dedicado a minha irmã Andréa Cristina.

Graças ao telefonema dela, pude acompanhar ao vivo,
pela TV Canção Nova, a primeira aparição do Papa Francisco.
(O que me custou chegar bastante atrasada ao médico...)


Li uma vez que a mãe da cantora Simony adorava o nome Simone. Mas, como já havia uma cantora de sucesso aqui no Brasil com esse nome, decidiu trocar o E pelo Y, pois tinha a certeza, em seu coração, de que sua filha também seria famosa. Assim, optou por Simony, com Y. E não é que a filhota brilhou mesmo nos palcos e programas de TV brasileiros nos anos 1980? Coração de mãe não erra - é o que dizem.

Quando foi a minha vez de escolher um nome para o meu rebento, católica que sou, já determinei para mim mesma que ele teria nome de santo ou um nome bíblico. Porém, eu também queria homenagear algum parente querido, que se foi. Pesquisando, descobri que o nome do meu primeiro avô materno - isto mesmo: primeiro, porque tive dois -, bem, descobri que o nome do Vovô Jaime era JACÓ em espanhol.

Jacó, como sabemos, é um personagem bíblico: neto de Abraão e filho de Isaac.

Conforme o Guia Visual da História da Bíblia (National Geographic, 2008): "Com a ajuda da mãe [Rebeca], Jacó conseguiu ser abençoado pelo pai, Isaac, no lugar do seu irmão, Esaú. A bênção lhe prometia prosperidade e bem-estar, assim como dominação sobre o irmão. Qualquer pessoa que Jacó abençoasse receberia a bênção, e qualquer um que ele amaldiçoasse ficaria amaldiçoado".

Também homenageei outro avô, o paterno: Raul Augusto - que tem uma categoria dedicada a ele aqui no Blog A Católica. O nome do meu menino, então, ficou assim: Jaime Augusto.

Jaime (Jacó, em espanhol) significa "aquele que vem no calcanhar"; "o que suplanta"; "vencedor". Quanto ao segundo nome, Augusto, é uma variação do latim Augustus e significa "dignidade majestática; sagrado, sublime". No nome escolhido está impressa a expectativa de que meu filho seja um vencedor sublime de si mesmo. Que ele se suplante e conquiste o Céu.

Papas também têm que escolher o nome por que deverão ser chamados - basta conferir a pergunta de número 11 do Post d'A Católica Habemus papam! Ops. O que é um Papa?. O primeiro deles, São Pedro, chamava-se Simão.

Szene: Der Hl. Petrus empfängt die Schlüssel - Early 11th century -
Meister des Perikopenbuches Heinrichs II -
Fonte: The Yorck Project 10.000 Meisterwerke der Malerei, 2002

De acordo com Padre Léo, em uma de sua maravilhosas pregações, o nome Simão evocava algo "movediço", "instável". Cristo o trocou por Cefas, que é pedra em grego: "Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: 'Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas' (que quer dizer pedra)" (Jo 1, 42). Pedras são firmes. Estáveis. Dessa forma, Simão, o "inconstante", iria se tornar Pedro, o "inabalável".

Nosso novo Papa, eleito em 13 de março de 2013 e conhecido como Jorge Mario, também mudou de nome: agora é simplesmente Francisco ou Franciscum (na forma latinizada). Por que Francisco?

Em um primeiro momento, fui uma dos que acreditaram que a homenagem seria ao espanhol São Francisco Xavier (1506-1552), um dos primeiros membros da Companhia de Jesus, conhecidos como jesuítas. Isso, porque o então cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, é ele próprio um jesuíta. Contudo, na primeira coletiva de imprensa do Santo Padre, em 16 de março, ele esclareceu a razão da escolha, segundo texto publicado no site da CNBB:

Papa Francisco quis explicar porque "o Bispo de Roma quis se chamar Francisco". E contou, de modo informal, que a seu lado, no Conclave, estava sentado o arcebispo emérito de São Paulo, Cardeal Cláudio Hummes, "um grande amigo, grande amigo".

"Quando a coisa ficou 'mais perigosa' - prosseguiu - ele me confortava, e quando os votos chegaram a dois terços, momento em que há o aplauso habitual porque o Papa é eleito - ele me abraçou, me beijou e disse "não se esqueça dos pobres".

"Aquela palavra entrou aqui - disse, indicando a cabeça - 'os pobres, os pobres'. Aí, pensei em Francisco de Assis e depois, nas guerras. E Francisco é o homem da paz, o homem que ama e tutela a Criação... Neste momento em que nosso relacionamento com o meio-ambiente não é tão bom, né?". (...) "Ai, como gostaria de uma Igreja pobre e pelos pobres!".

Está aí: Jorge Mario se tornou o primeiro Papa de nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, o qual, conforme Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini na obra Um Santo para Cada Dia (Paulus, 1996), é "um dos santos mais amados pelo mundo inteiro". Nas palavras do monge beneditino Anselm Grün, autor de 50 Santos (Edições Loyola, 2005):

Os biógrafos concordam que nenhum outro santo fez brilhar tanto a imagem de Jesus neste mundo como Francisco. Ele é o santo do amor e da alegria, da pobreza e da liberdade interna.

Hl. Franziskus und Bruder Leo, über den Tod meditierend
(1596-1601), El Greco

No dia seguinte à eleição do Papa Francisco, pedi ao meu marido Farney que me providenciasse grandes jornais de circulação nacional, a fim de que eu - acreditando na qualidade da imprensa brasileira - pudesse me inteirar da vida pregressa do nosso novo Sumo Pontífice. E qual não foi a minha surpresa ao constatar que toda a simplicidade que ele demonstrou na sua primeira saudação à multidão de mais de 50 mil pessoas - número fornecido pelo jornal O Estado de S. Paulo - na Praça de São Pedro é genuína.




Notei que, mesmo tendo escolhido o seu nome como Papa apenas imediatamente depois do pedido do cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes, no final do Conclave do dia 13 de março; mesmo sem ter (aparentemente) plena consciência disto, Jorge Mario Bergoglio já vivia na Argentina sob a inspiração dos princípios que orientavam São Francisco de Assis: o rapaz rico que optou por se despojar de tudo, para desposar a "Senhora Pobreza".

Eis o que encontrei nos jornais acerca da simplicidade do Papa Francisco:

Cardinal Jorge M. Bergoglio, SJ (later to
become Pope Francis) celebrating mass at the
XX Exposición del Libro Católico, in Buenos Aires
- Sep. 2008 - Fotografia de Aibdescalzo

1) "Como arcebispo [de Buenos Aires, na Argentina], Jorge Bergoglio tentou se mostrar próximo dos pobres e adotou um estilo de vida modesto, em linha com o jovem medieval que buscou a santidade na pobreza."
(Folha de S. Paulo - Quinta-feira, 14 de março de 2013)

2) "... o novo papa, um jesuíta que prega a humildade e que, quando foi indicado cardeal, impediu conhecidos de irem a Roma acompanhar a cerimônia, pedindo-lhes que preferissem usar o dinheiro de suas passagens para ajudar os pobres.
É conhecido por seu trabalho nas villas (favelas argentinas) e por apoiar os chamados curas villeros, padres que se dedicam aos pobres dessas áreas."
(Sylvia Colombo para Folha de S. Paulo - 14 de março de 2013)

3) "O homem que faz sua própria comida, mora em um apartamento pequeno em vez de desfrutar de um palácio do arcebispado, que prefere o ônibus e o metrô em vez de carros oficiais (...)."
(Ariel Palacios e Marcelo Godoy para O Estado de S. Paulo - 14 de março de 2013)

4) "... seu ato público mais famoso foi lavar e beijar os pés de pacientes com Aids, em 2001."
(Reinaldo José Lopes para Folha de S. Paulo - 14 de março de 2013)

5) "Homem egresso da burguesia italiana medieval, são Francisco recusa a riqueza de seu pai e será identificado como um duro adversário das impurezas da Igreja em sua época (vida sexual indevida e intrigas palacianas). Ele também é lembrado como um defensor da pobreza da igreja (o próprio Bergoglio é conhecido por recusar luxos materiais dispensados aos arcebispos e cardeais) e do respeito a toda forma de vida."
(Luiz Felipe Pondé para Folha de S. Paulo - 14 de março de 2013)

6) "O novo papa é um homem identificado com o combate aos excessos da sociedade de mercado, ao lucro desmesurado. Advoga a defesa dos pobres, mas em um espírito bíblico e não político-partidário (...)."
(Luiz Felipe Pondé para Folha de S. Paulo - 14 de março de 2013)

7) "O religioso [Frade Gustavo Medella] acredita que o papa eleito ontem terá um pontificado muito próximo da espiritualidade franciscana. 'Chamou-me a atenção que em seu primeiro discurso oficial ele já citou duas ou três vezes a palavra fraternidade', analisa Medella. 'Fraternidade é um elemento central da vida de São Francisco de Assis. O novo papa demonstra que quer reforçar esta espiritualidade, enfatizando que todos vamos trabalhar juntos pela Igreja'."
(Edison Veiga para O Estado de S. Paulo - 14 de março de 2013)

Francisco ofrece un corderillo a Clara y sus hermanas -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

8) "Discreto, ele sempre recusou cargos na Cúria Romana e só ia ao Vaticano quando necessário."
(Bernardo Mello Franco, Felipe Seligman e Fabiano Maisonnave para Folha de S. Paulo - 14 de março de 2013)

9) "Em uma de suas raras entrevistas, o novo papa disse ao La Stampa em 2012 (...) [que] a vaidade de si mesmo (...) era um comportamento de mundanidade espiritual, 'o pior dos pecados na Igreja'. 'O carreirismo, a procura de favores, fazem parte dessa mundanidade espiritual'. E concluiu dizendo que 'o pavão é bonito quando olhado de frente, mas depois de alguns passos, vendo-o pelas costas, é possível ver a realidade'. 'Essa vaidade esconde uma miséria muito grande'."
(Ariel Palacios e Marcelo Godoy para O Estado de S. Paulo - 14 de março de 2013)

Pavo cristatus - Peacock Side (Pavão de perfil) - Fotografia de Para

Pavo cristatus - How not to impress the ladies.
Peahen getting a good glimpse of the less colourful end of a peacock
(Pavão de costas) - Fotografia de Callum Black

10) "Como provincial (chefe regional) dos jesuítas na Argentina, Jorge Bergoglio tentou evitar que seus colegas de ordem se tornassem meros militantes políticos. Em seus sermões e discursos, ele sempre enfatizou a necessidade de, antes de mais nada, reformar o coração dos indivíduos para alcançar uma sociedade mais justa."
(Reinaldo José Lopes para Folha de S. Paulo - 14 de março de 2013)

Quantos pontos em comum com o santo italiano, que inspirou o seu nome!...

Presidenta do Brasil Dilma Rousseff cumprimenta o Papa Francisco
após missa inaugural do pontificado na Praça São Pedro -
19 March 2013 - Foto de Roberto Stuckert Filho PR/ Agência Brasil

Nascido no ano de 1182, na cidade de Assis (Itália), Francisco era "filho de um rico comerciante de tecidos (Pedro Bernardone)". Eis a história de seu nome, narrada por Donald Spoto em Francisco de Assis - O Santo Relutante (Objetiva, 2003):

... Na primavera de 1182, Pedro juntou-se a uma das caravanas que partiam a negócios para a França, atividade a que se dedicava diversas vezes por ano, pois os grandes mercados de tecidos e feiras têxteis floresciam em Toulouse e Montpellier, na Borgonha e em Flandres. Deixando a mulher [que se chamava Pica] grávida (...), Pedro ainda estava ausente quando ela deu à luz um menino (...). A mãe escolheu o nome de João, em homenagem a São João Batista, que era popular na Itália medieval. (...)

Alguns meses mais tarde, Pedro regressou e enfureceu-se com a escolha do nome da criança. Na Europa medieval, assim como no mundo bíblico, dava-se enorme importância à escolha de nomes. (...) Pedro não queria que o patrono de seu filho fosse o antigo eremita do deserto, o qual (como Elias no Velho Testamento) vestia-se de pele de camelo e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre.

Não era possível revogar o nome batismal, mas Bernardone fez questão de que seu filho passasse a ser conhecido como Franciscus, ou Francesco, no dialeto da Umbria (...). Era uma designação pouco comum, mas não desconhecida, que significava "francês". O filho de Pedro recebeu, portanto, um nome caseiro derivado da França, onde seu pai estava ganhando dinheiro e de onde trazia as modas e as formas de elegância social que tanto admirava.

Birth of Saint Francis (from 1724 until 1733), Antoni Viladomat

Os autores dizem que Francisco viveu uma "juventude despreocupada e aventurosa" (Enzo Lodi em Os Santos do Calendário Romano, Paulus, 2007), que "gostava de alegres companhias e gastava com certa prodigalidade o dinheiro do pai" (Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini em Um Santo para Cada Dia), que "gozava de todos os luxos que seu pai podia lhe dar" (Tim Dowley em Os Cristãos - Uma História Ilustrada, martins fontes, 2009) e que "consumiu seu tempo vivendo na vaidade até quase os vinte anos de idade" (Jacopo de Varazze em Legenda Áurea - Vidas de Santos, Companhia das Letras, 2011).

Então, muda radicalmente de vida.

Tim Dowley conta que isso ocorreu "de repente". Jacopo de Varazze, que "o Senhor serviu-se do chicote da enfermidade para corrigi-lo e transformá-lo subitamente em outro homem". Enzo Lodi relata que "aos vinte anos participou do primeiro período de longas guerras e turbulências entre cidades (contra Perúgia, onde foi feito prisioneiro)", quando teria tido um "sonho misterioso". De acordo com Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini:

Aos vinte anos, quis alistar-se como cavaleiro no exército de Gualtieri de Brienne, que combatia pelo papa, mas em Spoleto, teve um sonho revelador no qual era convidado a seguir de preferência o Patrão do que o servo.

Os Padres John Trigilio Jr. e Kenneth Brighenti explicam no livro Catolicismo para Leigos (Alta Books, 2008) que "disputas locais entre cidades, principados, ducados e assim por diante eram comuns na Itália do século XII, isso porque o país foi apenas unificado no final do século XVI (sic) [na verdade, no final do século XIX], sob liderança de Garibaldi". Eles prosseguem: "Após passar um ano preso pelos rivais perugianos, que lutavam contra seus vizinhos, os assisianos, Francisco decidiu se acalmar".

Em seguida, o santo teria ido a Roma (Itália), por devoção, a fim de visitar o túmulo de São Pedro. Lá, "deu todas suas posses de valores - dinheiro, roupa e pertences - aos pobres e colocou roupas rasgadas de um homem pobre. Senhora Pobreza seria a sua noiva" (Catolicismo para Leigos, Alta Books, 2008).

Jacopo de Varazze pontua: "Ele amava a tal ponto a pobreza, em si e nos outros, que sempre chamava a pobreza de sua senhora, por isso quando via alguém mais pobre que ele ficava com ciúme e temia ser ultrapassado por outrem".

Francisco pide limosna mezclado con los pobres -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

San Francisco se menosprecia a sí mismo -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

O autor de Legenda Áurea - Vidas de Santos continua a narrativa:

[Depois de ouvir o Senhor dizendo: "Francisco, tome as coisas amargas como se fossem doces e despreze a si mesmo se deseja me conhecer"], encontrou então um leproso, e embora todos os que são afligidos por essa doença causem horror, lembrou-se do oráculo divino e correu abraçar o leproso, que logo depois desapareceu. Por causa disso ele se apressou a ir ao asilo de leprosos, beijou suas mãos com devoção e deu dinheiro para eles.

Mais tarde, ainda segundo Jacopo de Varazze, o santo "entrou na igreja de São Damiano para rezar e uma imagem de Cristo miraculosamente falou: 'Francisco, vá reconstruir minha casa que, como vê, está toda destruída'". O autor prossegue:

A partir desse momento sua alma fundiu-se de compaixão pelo crucificado, que ficou maravilhosamente impresso em seu coração. Ele pôs todo empenho em reconstruir a igreja, vendeu o que tinha e quis dar o dinheiro a um padre que o recusou por receio dos pais de Francisco; este então jogou o dinheiro no chão, como poeira desprezível.

A essa altura, o jovem santo estava com 25 anos de idade. Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ (sigla em latim de Companhia de Jesus), na obra Santos: vida e fé (Editora Vozes, 2008), dá a sua versão:

Francisco vendeu as mercadorias de seu pai, foi viver em São Damião, de onde o pai o tirou para castigá-lo, e o levou perante o Bispo de Assis. Francisco entregou ao pai o dinheiro da venda das mercadorias e, diante do povo reunido na Praça de São Rufino, tirou a roupa e a entregou ao pai. Completamente despido, foi coberto por uma túnica de um criado do Bispo. Foi um gesto simbólico de despojamento.

Legend of St Francis: Renunciation of Wordly Goods -
Between 1297 and 1299 - Formely attributed to Giotto di Bondone

Para Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ, ao ouvir a imagem de Cristo falar consigo, Francisco teria percebido que a mudança "que acontecia no seu interior deveria se projetar na Igreja".

O monge beneditino Anselm Grün concorda: "Francisco primeiramente reformou a igreja de San Damiano em perigo de desmoronamento. Mas logo sentiu que a missão de Jesus se referia à Igreja como um todo". O religioso, que escreveu 50 Santos, acrescenta: "Tornou-se célebre a sua saída de casa. Ele tirou suas roupas e as devolveu ao pai, dizendo: 'De hoje em diante não direi mais 'pai Bernardone', mas apenas 'Pai que estás no Céu'". (Nota: esse episódio é memoravelmente retratado na belíssimo filme Irmão Sol, Irmã Lua.)

Enzo Lodi, autor de Os Santos do Calendário Romano, conta o que se deu a seguir:

Na primeira fase de sua nova vida (1204-1209) andou à procura da vontade de Deus, depois de um período de existência solitária e errante em hábito de eremita ("o arauto do grande Rei"); ao ouvir, na igrejinha da Porciúncula [como é chamada a Igreja de Santa Maria dos Anjos, por estar construída num pequeno pedaço de terreno], um trecho do evangelho sobre a missão dos apóstolos (Lc 9, 3-5), descobriu sua vocação e decidiu-se abandonar tudo por uma pregação moral e penitencial.

Assim, reuniu em torno de si o primeiro núcleo da Ordem dos Frades Menores.

Eis o trecho bíblico que tocou o coração do santo:

"Disse-lhes: 'Não leveis coisa alguma para o caminho, nem bordão, nem mochila, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas. Em qualquer casa em que entrardes, ficai ali até que deixeis aquela localidade. Onde ninguém vos receber, deixai aquela cidade e em testemunho contra eles sacudi a poeira dos vossos pés'" (Lc 9, 3-5).

San Francisco predica en el mercado de Asís -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

Os primeiros frades foram, nas palavras de Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ, "dois homens de destaque na cidade": Bernardo de Quintavalle, "um rico negociante que distribuiu toda sua riqueza pelos pobres e aderiu ao grupo de seguidores de Francisco" e Pedro de Cattani, "Sacerdote, Cônego da Catedral de Assis, cheio de prebendas", ou seja, de rendas eclesiásticas. "Ele trocou a batina roxa pela veste parda dos companheiros de Francisco" - sublinha o jesuíta, que escreveu Santos: vida e fé.

Conforme Enzo Lodi, Bernardo de Quintavalle e Pedro de Cattani (ou Pedro Catânio) "ouviram e seguiram o texto de Mt 19, 28". Eis o trecho bíblico:

"Pedro então, tomando a palavra, disse-lhe: 'Eis que deixamos tudo para te seguir. Que haverá então para nós?' Respondeu Jesus: 'Em verdade vos declaro: no dia da renovação do mundo, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da glória, vós, que me haveis seguido, estareis sentados em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. E todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna'" (Mt 19, 27-29).

Francisco y sus hermanos programan su nueva vida -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

San Francisco y sus hermanos oran ante la cruz -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

Tom Dowley, em Os Cristãos - Uma História Ilustrada, apresenta a sua versão dos primórdios dos Frades Menores - como Francisco denominava a si e a seus companheiros:

Saiu de casa trajado em vestes pobres e adotou vida itinerante, seguido por alguns amigos de espírito igual ao seu. Eles mendigavam dos ricos, davam aos pobres, cuidavam dos doentes e pregavam a quantos encontravam. (...)

Com o tempo, os seguidores de Francisco foram reconhecidos como uma nova ordem: os franciscanos. Embora fizessem votos semelhantes aos dos outros monges, os franciscanos eram chamados "frades" e eram "mendicantes": não permaneciam num único local ou edifício, mas vagavam constantemente, pedindo esmolas para sobreviver.

Os frades se afastaram do ideal tradicional de vida monástica, que era o de viver longe deste mundo pecaminoso; antes, queriam fazer brilhar a excelência da vida cristã. Pretendiam levar a fé às pessoas comuns, não só pelas orações feitas no claustro, mas também vivendo no meio de todos.

Enzo Lodi resume: "Ele já tinha criado um novo tipo de vida evangélica, não mais pela segregação no recinto dos mosteiros, mas pela itinerância aberta à circulação e à comunhão".

Sobre a veste de Francisco e seus companheiros, o autor de Os Santos do Calendário Romano destaca: "Tinha substituído o cinto de couro (que na Idade Média era a parte mais importante do hábito, porque nele penduravam as várias fivelas, as quais eram sinais da profissão, do poder, da fortuna...) pelo cordão de cânhamo atado à cintura como um cilício do amor próprio (...)".

Hábito original de S. Francisco - Fotografia de Tetraktys

St. Francis of Assisi (circa 1182-1220), José de Ribera

A propósito: por que "Frades Menores"?

O próprio Francisco responde à questão. De acordo com Jacopo de Varazze, em Legenda Áurea - Vidas de Santos: "Meus frades são chamados menores a fim de que não tenham a pretensão de ser maiores". O santo radicalizou essa opção. O mesmo autor frisa: "O escravo de Deus preferia ser inferior a superior, obedecer a comandar. Por isso se demitiu do comando geral da Ordem e pediu um guardião, a cuja vontade estaria sujeito em tudo".

Enzo Lodi medita: "Aceitando a condição dos minores, isto é, dos últimos sem privilégios, sem autoridade, sem lugares estáveis e sem prestígios eclesiais e culturais, Francisco inaugurou há oito séculos um modelo de Igreja pobre (mais que dos pobres)".

Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ narra no livro Santos: vida e fé que, em 1210 (para outros autores, teria sido em 1209), "Francisco e seus companheiros foram a Roma [Itália] para se apresentar ao Papa Inocêncio III. Conta-se que o Papa teria tido um sonho no qual vira a Igreja de São João Latrão prestes a ruir, sendo sustentada por um jovem, no qual ele reconheceu Francisco".

Segundo Rudolf Fischer-Wollpert, em Léxico do Papas - de Pedro a João Paulo II (Vozes, 1991), a tradição afirma que a visão de Inocêncio III ocorreu na noite anterior à aprovação da Ordem dos Frades Menores.

Legend of St Francis: Dream of Innocent III -
Between 1297 and 1299 - Formely attributed to Giotto di Bondone

Legend of St Francis: Dream of Innocent III (detail) -
Between 1297 and 1299 - Formely attributed to Giotto di Bondone

Lembra a mensagem que Francisco ouviu do crucifixo da pequena Igreja de São Damião, que estava em ruínas? "Francisco, reconstrói minha casa que, como vês, está para cair." O sonho de Inocêncio III foi mesmo premonitório. Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ faz uma exposição sucinta em sua obra sobre a situação da Igreja Católica de então:

A Igreja é humana e divina, sujeita a tentações, mas acompanhada pela assistência divina, que sempre se fez sentir nos momentos difíceis da sua história e sempre utilizando os meios humanos mais pobres, mais humildes para mostrar que tudo é obra de sua graça (1Cor 1, 26-28). (...)

A Europa, particularmente a Itália, vivia um momento muito especial de sua história. O comércio com o Oriente enriquecia as cidades italianas, criava uma próspera burguesia (...).

A riqueza, a opulência, o luxo não deixavam de contaminar a Igreja. Era a grande tentação de um messianismo baseado na ambição, no desfrute dos bens materiais, com todas as consequências nefastas para a vida cristã autêntica - busca da riqueza, da usura, da avareza que inevitavelmente conduziram para o orgulho e a sede de poder.

O instrumento providencial que Deus enviou para mostrar outro caminho à Igreja foi o jovem Francisco.

Assim, Inocêncio III, ainda conforme Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ, chamou o santo "e a seus companheiros, abençoou-os, concedeu-lhes a permissão de pregar a penitência e aprovou, embora só verbalmente, o projeto de regra que Francisco lhe apresentara".

El Papa aprueba la forma de vida de San Francisco y los suyos -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

Jacopo de Varazze descreve:

Muitos nobres e plebeus, tanto clérigos quanto leigos, abandonaram o luxo do mundo para ligar-se a ele. Esse pai em santidade ensinou-lhes a praticar a perfeição evangélica, a abraçar a pobreza e a andar no caminho da santa simplicidade.

Ele escreveu uma regra evangélica para si e para seus irmãos presentes e futuros, regra confirmada pelo papa Inocêncio. Então, começou a difundir com mais fervor do que nunca a semente da palavra de Deus e a percorrer cidades e aldeias, animados por admirável zelo.

Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ relata: "Em Santa Maria dos Anjos [Francisco e os companheiros] viviam alegremente a pobreza, a penitência, num contato fraterno com a natureza. É conhecido o sermão de Francisco aos pássaros, sua amizade com animais como o famoso lobo de Gúbio".

Jacopo de Varazze explicita:

[O santo] caminhava sobre as pedras com reverência, em consideração por aquele que foi chamado Pedro. Tirava os vermes do caminho com medo de que fossem esmagados sob os pés dos passantes. (...) Chamava todos os animais de irmãos. Cheio de uma alegria maravilhosa e inefável em seu amor pelo Criador, contemplava o sol, a lua e as estrelas e convidava-os a amar o Criador.

Eis o sermão aos pássaros, tal como está em Orações de São Francisco (Paulinas, 2005):

Passarinhos, meus irmãos,
deveis louvar muito e sempre
o vosso criador, porque vos deu penas
para vestirdes, asas para voar
e tudo quanto vos é necessário.

Deus vos fez nobres entre todas as criaturas
e vos concedeu de planardes no límpido ar;
vós não semeais nem colheis,
e no entanto ele vos socorre e guia,
dispensando-vos de toda preocupação.

St Francis (1898), Albert Chevallier Tayler

Francis of Assisi and the Wolf of Gubbio - Fotografia de Bybierre

Com a palavra, Enzo Lodi: "Na segunda fase (1209-1224), de apostolado, Francisco anunciou o evangelho a todas as classes sociais (o lema era 'paz e bem') como poverello ('pobrezinhos') itinerante. Foi ao Oriente, pensando no martírio (1212); tentou a via das missões no Marrocos, no Egito e na Palestina, onde pregou aos muçulmanos (no Marrocos, os mouros tinham martirizado cinco frades)".

Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ relata que o santo "esteve no Egito, foi à corte do Sultão [Malik-al-khamil], visitou os lugares santos em Jerusalém e voltou à Itália, desiludido pela resistência dos sarracenos e o mau exemplo que vira entre os cruzados cristãos - dissolução e ambição".

San Francisco evangelizando a los sarracenos -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

O número de seguidores de Francisco havia crescido muito (por volta do ano de 1220, seriam em torno de 5 mil) e, durante a sua ausência, introduziram várias inovações, de modo a abrandar o rigor de sua regra - afinal, como o monge Anselm Grün observa em 50 Santos, "seus irmãos, é certo, mal conseguiam viver todo esse amor e pobreza tal como ele".

Em Orações de São Francisco, consta a prece que o santo fez ao notar "o lamento de alguns frades que pediam mais compreensão e dispensa de coisas já combinadas". Francisco, então, "emudeceu e, entristecido no fundo do coração, entrou em sua cela, recolhendo-se no refúgio da oração habitual; elevou as mãos ao céu e gritou com todo o amor ao Senhor":

Senhor Jesus Cristo,
eis, eu Te segui,
sem Te contradizer em nada,
e tudo o que me comandaste,
o executei com plena obediência.

Em verdade eu não sou tão grande
que esteja em meu poder cumprir
sem Tua ajuda
coisa alguma que Te seja grata e bem aceita
e para eles útil e salvadora.

Tu, que me deste ordem
de fazer e escrever estas coisas que,
por Teu louvor e para a salvação deles,
eu escrevo e escrevi,
responde a eles por mim
e mesmo lhes demonstre
que são Tuas palavras e não minhas.

O santo orou. E reagiu: conseguiu que o Papa Honório III designasse o Cardeal Ugolino como seu protetor e conselheiro da Ordem Franciscana. Sob a orientação do prelado, que se tornará o futuro Papa Gregório IX, "os Irmãos Menores foram divididos em Províncias com um irmão chamado Ministro, ao qual era confiado o cuidado da vida religiosa dos outros irmãos", de acordo com Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ.

Em torno do ano de 1221, Francisco escreveu uma regra "dentro do espírito primitivo", a qual, em 1223, "foi substituída por uma definitiva" e, não obstante a resistência dos frades, aprovada pelo Papa Honório III. Rudolf Fischer-Wollpert conta em Léxico do Papas - de Pedro a João Paulo II que o cardeal Ugolino "colaborou decisivamente na elaboração dessa regra. Seu mérito consiste em ter conferido à vida carismática de Francisco uma forma estável e tê-la desse modo salvo para o futuro".

San Francisco y Santo Domingo ante el Cardenal Hugolino -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

Enzo Lodi, autor de Os Santos do Calendário Romano, relata o que ocorreu nesse ínterim: "Em 1212, na igrejinha da Porciúncula, junto com Santa Clara (cujos cabelos loiros cortou), [Francisco] fundou a Ordem das Clarissas ou Pobres Damas de São Damião". Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ também narra esse fato importante na trajetória do santo:

Em 1212, uma linda jovem de Assis, de família rica e influente, Clara Offreduccio, vivamente tocada por um sermão de Francisco, resolveu fugir de sua casa, juntou-se ao grupo de Francisco. Este lhe cortou a bela cabeleira e lhe deu o hábito de penitente. Ela foi seguida por sua irmã Inês. Ambas resistiram à tentativa da família de levá-las para a casa dos pais.

Foi o início do ramo feminino, as clarissas, que se denominaram plantas do jardim de nosso pai Francisco.

Elas se tornaram para os companheiros de Francisco uma presença de fortaleza e do bom senso feminino e um apoio permanente, através da oração e da generosidade, seguindo uma vida de completa pobreza.

Clara de Asís es recibida por Francisco -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

Clara orando en el coro de San Damián -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

De volta a 1223...

... Segundo Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ, "no final daquele ano, Francisco, acompanhado pelo seu fiel amigo, Frei Leão, passou o Natal entre os pobres nas montanhas de Greccio, onde fez o primeiro presépio". Frei Jorge E. Hartmann, OFM (sigla de Ordem dos Frades Menores) escreveu no livro Francisco, o irmão sempre alegre (Editora Canção Nova - Edições Loyola, 2006) a história do primeiro presépio montado em todo o mundo:

Corria o ano de 1223. A encarnação de Jesus era o mistério que mais fascinava o coração enamorado de Francisco. Seu desejo maior era reviver, poder visualizar a grande humildade e pobreza do Natal de Belém. Ele tinha retornado, há pouco, de uma peregrinação à Terra Santa.

Assim, próximo à festa do Natal, em companhia do amigo João Velita, fizeram todos os preparativos. Acendeu-se a fantasia de Francisco, motivado pela ternura que nutria pelo Menino Jesus. Francisco quis mostrar a todos, de maneira visível, a grandeza e o amor do Deus-menino, que, sendo rico, se fez pobre por amor a nós.

A gruta, junto ao eremitério de Greccio, foi o local do primeiro presépio vivo do mundo. Havia o boi, o burro, as ovelhas, a manjedoura, o feno... E, é claro, Jesus, Maria e José devidamente representados. O povo acorreu, em grande número, para acompanhar a novidade inventiva de Francisco.

Francisco, que era diácono, estava solenemente vestido e cantou o Evangelho, com especial alegria e emoção. Sua pregação foi inspiradíssima. O povo e os frades acompanharam tudo com tamanho fervor e júbilo, que todos pareciam reviver o próprio Natal do Deus-menino, em Belém. Pelo rosto de Francisco, escorrem lágrimas de alegria, lágrimas de amor. (...)

Francisco, no seu amor, "inventou" o presépio. Nasceu, assim, a primeira representação sacra do presépio. Hoje, ele está nos lares, igrejas, escolas, praças públicas... E Greccio tornou-se a "Belém franciscana".

Se hoje exibimos Presépios em nossa casa, durante o Natal,
devemos à criatividade e devoção de São Francisco de Assis

Fotografia de Ana Paula~A Católica (acatolica.blogspot.com)

Chegamos, então, à última fase da vida do santo italiano (1224-1226). Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ continua: "De volta a Assis, após uma visita a São Damião, onde foi confortado pela Irmã Clara, Francisco se retirou para uma pequena cela, no Monte Alverne, para se dedicar à oração. Lá, no dia da Santa Cruz de 1224, recebeu os estigmas, passando a levar no seu corpo os sinais da paixão de Cristo".

Jacopo de Varazze narra a transformação mística pela qual o santo passou:

Em uma visão, o escravo de Deus viu acima dele um serafim crucificado que lhe imprimiu as marcas de sua crucificação de maneira tão evidente que parecia ter sido ele próprio o crucificado. Suas mãos, seus pés, e seu flanco foram marcados com as feridas da cruz; mas com cuidado ele escondeu dos olhos de todos esses estigmas. Alguns, no entanto, viram-nos enquanto ele vivia, e após sua morte muitos puderam examiná-los.

St Francis (circa 1420), Gentile da Fabriano

"Os dois últimos anos da vida de Francisco", conforme Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ, "foram de intenso sofrimento por causa da doença [o santo estava quase cego e tinha outras enfermidades], mas de profunda alegria espiritual. Liberto de tudo pelo caminho da pobreza material e espiritual, reencontrou a perfeita alegria que o abria para o completo amor ao Criador e nele às criaturas. Foi nessa ocasião que escreveu o Cântico das Criaturas". Enzo Lodi completa:

Francisco canta sua alegria (conferir o Cântico das Criaturas, que é o amor à paternidade de Deus e à fraternidade de Cristo) porque ela é fruto de sua liberdade total. É renúncia a todo poder, antes ainda de o ser a toda riqueza; é renúncia a toda segurança, com a recusa inicial também à posse coletiva de bens (como os conventos), mais que a toda renda (...).

O monge Anselm Grün intervém:

Francisco nos mostra que a pobreza pode libertar e alegrar o homem. Quem não se apega a mais nada pode se voltar com amor para todas as pessoas, para todos os animais e plantas. (...) Ele não junta provisões. Vive na confiança. Ele leva a sério as palavras de Jesus e mostra que um homem pode ser transformado quando se deixa guiar totalmente pela palavra e pelo espírito de Jesus. (...)

[Hoje,] não podemos simplesmente copiar Francisco, do contrário nos sobrecarregamos. Mas ele pode nos animar a ter uma vida na simplicidade, na pobreza, no amor e na alegria.

Retomando a reflexão inicial deste Post do Blog A Católica, é este, de fato, um dos significados do nome Francisco. Segundo J. Alves, em Os Cinco Minutos dos Santos (Editora Ave-Maria, 2006), "Francisco vem de Franco e quer dizer homem livre".

No ano de 1226, aos 44 anos de idade, debilitado fisicamente - especialmente pelas duras penitências que impôs a si mesmo desde a sua conversão -, o santo de Assis atingiu a liberdade suprema, ao se despedir desta realidade e alcançar a Pátria Definitiva, nos Céus.

Legend of St Francis: Death and Ascension of St Francis -
Between 1297 and 1299 - Formely attributed to Giotto di Bondone

Jacopo de Varazze arremata:

A vida de Francisco foi ilustrada por numerosos milagres. Com efeito, pães que abençoou curavam muitos doentes, transformou água em vinho que devolveu a saúde a um doente que provou dele, fez ainda muitos outros milagres.

Quando se aproximou de seu fim, enfraquecido por longa doença, pediu para ser colocado sobre a terra nua, chamou para junto de si todos os irmãos e fazendo a imposição das mãos sobre todos eles abençoou-os, e como na ceia do Senhor deu a cada um deles um pequeno bocado de pão.

Como era seu costume, convidou todas as criaturas a louvar Deus. Mesmo a morte, que é tão terrível e odiosa para todos, também era convidada a receber sua hospitalidade e era acolhida com alegria, dizendo-lhe: "Seja bem-vinda, minha irmã morte". Quando chegou sua hora final, adormeceu no Senhor. Um frade viu sua alma com forma de estrela, semelhante à lua em tamanho e ao sol em esplendor.

Tránsito glorioso del gran Patriarca San Francisco de Asís -
Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

Sobre o santo italiano, sua missão neste mundo e sua herança para a Igreja, Rudolf Fischer-Wollpert conclui: "Francisco e seus companheiros viviam a pobreza voluntária, sem detrimento da obediência à Igreja [ele havia se submetido ao representante do Papa Honório III, cardeal Ugolino]. Dessa maneira sustentou ele a Igreja ameaçada de ruína - como (...) Inocêncio III a vira numa visão (...)".

Dom José Carlos de Lima Vaz, SJ concorda: "Realmente São Francisco de Assis sustou na Igreja a tentação da riqueza, dos privilégios do poder e a sombria opressão das consciências com a ameaça dos castigos divinos. Ensinou aos cristãos a oração direta ao Pai, a gratidão ao Cristo Crucificado, cuja dolorosa figura levava os fiéis a suportar os males da vida como adesão à cruz do Salvador".

Bendición de San Francisco - Josep Benlliure y Gil (1855-1937)

Sobre a mensagem de simplicidade do santo de Assis, assumida pela nosso novo Papa Francisco - um jesuíta com alma de franciscano -, Enzo Lodi também reflete, em Os Santos do Calendário Romano:

Se Francisco imaginava uma irmandade religiosa de mendicantes, pedindo de porta em porta (essa concepção agradou a São Domingos, que, na presença do cardeal Ugolino, propôs-lhe unir sua ordem à dele), hoje em nosso mundo, no qual predomina o dinheiro, possuído muitas vezes pelas multinacionais, a escolha dos cristãos deverá recair sobre os meios mais pobres e menos comprometidos.

Minha expectativa é que o Papa Francisco faça como o cardeal brasileiro Dom Cláudio Hummes o exortou, no dia de sua eleição, em 13 de março de 2013: "Não se esqueça dos pobres!...".

São Francisco de Assis, Rogai por Nós!

Deixo agora com você, internauta d'A Católica, frases reunidas pelo Professor Felipe Aquino no livro Ensinamentos dos Santos (Cléofas, 2003) e também por Jacopo de Varazze em Legenda Áurea - Vidas de Santos. Desejo que o pensamento de Francisco toque o seu coração como toca o meu.

Em seguida, você pode conferir um vídeo do You Tube com Cantiga por Francisco, de Padre Zezinho, scj (sigla de Congregação dos Padres do Sagrado Coração de Jesus ou Dehonianos) - minha canção favorita de seu maravilhoso CD Um Certo Galileu.

Saúde e Paz!! Ou, como dizia o santo italiano, modelo do nosso novo Papa: Paz e Bem!!


Frases de São Francisco de Assis


- Sê inimigo do erro, mas amigo dos que erram.


- É tão grande o bem que espero, que todo sofrimento me é um prazer.


- Choro as dores e as humilhações do meu Senhor. O que mais me faz chorar é que os homens, por quem Ele sofreu tanto, vivem esquecidos Dele.


- Quem não se enamora de Deus, vendo Cristo morto na cruz, não se abrasará jamais.


- Se eu encontrasse um santo vindo do Céu e um pobre sacerdote, iria o mais depressa possível beijar as mãos do padre e diria ao santo: "Espere-me, São Lourenço, porque estas mãos tocam o verbo de vida e possuem alguma coisa de sobre-humano".


- Sobre a Eucaristia: Ó humildade sublime... Que o Senhor do universo, Deus e Filho de Deus, tenha querido humilhar-se a ponto de esconder-se sob a figura do Pão, por nossa salvação!


- Todo aquele que tem inveja do seu irmão por causa do bem que o Senhor por ele diz e faz, comete pecado de blasfêmia, porque tem inveja do próprio Altíssimo, que é quem diz e faz todo o bem.


- O servo de Deus não pode conhecer em que medida possui a paciência e a humildade, enquanto se sentir satisfeito em tudo e sem ser contrariado.


- Bem-aventurado o homem que suporta o seu próximo com as suas fraquezas tanto quanto quisera ser suportado por ele se estivesse na mesma situação.


- O homem vale o que é diante de Deus e nada mais.


- Ai do religioso que se deleita com palavras ociosas e fúteis e, por esse meio, leva os outros a dar risadas.


- Onde há paciência e humildade, não há ira nem perturbação.


- Onde há paz e meditação, não há nervosismo nem dissipação.


- Onde o temor de Deus está guardando a casa, o inimigo não encontra porta para entrar.


- Todos os irmãos sejam católicos e vivam e falem como católicos. Se porém um deles, por palavras ou por atos, se afastar da fé e da vida católica e não se quiser emendar, seja definitivamente expulso da nossa fraternidade.




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