4 de maio de 2023

Cinco virgens ensinam a sermos recebidos pelo noivo

Imagem: Les vierges sages
(The Wise Virgins)
- 1886-94 - James Tissot

Os autores variam em como chamá-las. Ora são as prudentes versus as loucas; ora são as sábias versus as "avoadas". Fato é que elas representam duas atitudes diversas que os discípulos de Jesus podem tomar diante do anúncio do Reino de Deus ou ante a parusia, qual seja, a segunda vinda de Cristo.

Pra quem não se recorda, a parábola das dez virgens conta a história de dez mocinhas que esperavam o esposo. Todas elas tomaram suas lâmpadas, mas só cinco levaram consigo óleo (azeite) sobressalente. Porque o esposo se demorava, elas acabaram dormindo. Quando ele finalmente chega no meio da noite, só as que tinham óleo de sobra puderam reabastecer as lâmpadas e acompanhá-lo. As demais saíram para comprar, mas chegaram tarde às bodas e não puderam mais entrar: o esposo não as reconheceu.

Conforme nota da Bíblia Sagrada (Editora Ave-Maria, 2017), essa parábola narrada por Jesus refere-se a um costume judaico: "As núpcias eram celebradas em geral durante a noite e as moças, companheiras da nubente [noiva], formavam um cortejo diante do esposo que elas então acompanhavam até o lugar do banquete". Michel Gourgues, em As Parábolas de Jesus em Marcos e Mateus (Edições Loyola, 2004), observa: "Uma coisa é clara: uma parte ao menos das festividades nupciais se desenrolou à noite, pois as virgens devem se munir de lâmpadas para desempenharem sua função".

Para Giuseppe Barbaglio, em Os Evangelhos I (Edições Loyola, 2014), há elementos inverossímeis no relato contido no evangelho segundo São Mateus, como: o sono das mocinhas durante a festa, a compra do óleo à noite e a porta fechada da sala do banquete nupcial. Contudo, esse autor pondera: "O interesse didático deve ter de tal modo prevalecido, a ponto de superar essas arestas narrativas".

Há duas leituras possíveis para a parábola das dez virgens.

A primeira, conforme o teólogo Giuseppe Barbaglio, considera que se deva colocá-la no quadro do apelo urgente de Cristo para preparar-se para a vinda iminente do Reino: "Como as dez mocinhas deviam estar prontas para participar do cortejo do noivo, sob pena de exclusão, do mesmo modo os ouvintes da alegre mensagem eram solicitados a manter-se prontos para receber Deus, que vinha instaurar Seu Reino de graça e de salvação".

A segunda leitura é descrita pelo professor Michel Gourgues: "No contexto em que Mateus situou a parábola, a vinda do noivo remete, de maneira clara, à parusia do Filho do homem. E a parábola, talvez na intenção dos cristãos das primeiras gerações, preocupados por esse atraso da parusia, sublinha que os fiéis, apesar de tudo, não devem deixar de esperar por ela".

Para Giuseppe Barbaglio, o ponto central da história contada por Jesus é o comportamento das dez virgens que esperavam o cortejo do esposo. Michel Gourgues concorda: "Na parábola, a atenção é dada não ao atraso em si, mas às consequências que dele resultam para as virgens. O que é sublinhado não é se o noivo está atrasado, mas se as virgens estão prontas ou não para acolhê-lo quando chega". A sabedoria das cinco mocinhas prudentes se resumia, justamente, a estar prontas e equipadas para segui-lo.

"A vigilância não consiste em uma espera inerte e contemplativa, mas se encarna na realização de obras concretas que traduzam em ato o querer de Deus, isto é, a Sua suprema exigência de amor", Giuseppe Barbaglio pontua. Ele completa: "A verificação pois da autêntica esperança cristã acontece no plano da práxis, no cumprimento de gestos de amor. Evita-se assim degenerar em uma fuga do presente, no exílio deste mundo, na evasão das responsabilidades atuais da história, em um quietismo acomodado".

Sobre o sono que acometeu as dez virgens, mais do que um comportamento repreensível (afinal, ninguém "vigiou", todas dormiram), nas palavras de Michel Gourgues, ele aparece na parábola como o comportamento de alguém que deve levar a sua vida normal, na esperança. O importante, de acordo com o professor, "está alhures: no que se produzirá no momento do despertar, quando virá o noivo. Quer se tenha dormido ou não, o importante será então estar pronto".

O autor continua: "O que faz que se esteja pronto ou não é a reserva de azeite que se soube ou não prever. Então, mesmo que se durma, é a reserva de azeite que testemunha que se permanece à espera do futuro e, apesar de tudo, vigilante. Ora, a vigilância, para as virgens, consiste menos no fato de não dormir do que no fato de estar em condição de acolher o noivo em sua chegada".

Para esse professor, a recepção do Reino de Deus não pode se reduzir a um negócio de boas intenções. É preciso agir. Nesse sentido, as virgens imprevidentes lembram o construtor insensato que construiu sua casa na areia, representando os que ouvem a palavra de Cristo, mas não a põem em prática. Fazendo coro a Giuseppe Barbaglio portanto, Michel Gourgues afirma: "Vigiar é fazer, é trabalhar, é investir o melhor possível os recursos de que se dispõe; é alimentar, receber, vestir, visitar os 'pequeninos'".

Barbaglio arremata: "A resposta do noivo às insensatas ressoa nos mesmos termos da condenação infligida, no juízo final, aos crentes que na liturgia aclamaram Jesus como seu Senhor e foram dotados de carismas extraordinários, mas não fizeram a vontade do Pai". Pra evitar que o esposo não a reconheça, a comunidade cristã deve agir como as virgens sábias, preparando-se para o futuro salvífico, ao arregaçar as mangas e cumprir o querer de Deus expresso no que Cristo ensinou.

Licença Creative Commons
Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
Este trabalho está protegido
por uma LICENÇA CREATIVE COMMONS.
Clique no Link para conhecê-la.