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| Foto: Rita Lee em maio de 1972 - Fonte: Arquivo Nacional |
É só jogar no Google: conforme o site da Fiocruz, ovelha negra é "uma expressão popular para descrever uma pessoa que foge aos padrões. A ovelha negra da família pode se destacar pela rebeldia de buscar um destino diferente daquele programado para ela ou por ser um rebelde sem causa". Rita Lee, que nos deixou neste mês de maio, sagrou-se como cantora em carreira solo nos anos 1970, justamente com um hit intitulado "Ovelha Negra". Na Missa de Sétimo Dia pela sua alma, o padre que fez a homilia foi taxativo:
Rita Lee cantou tanto e gosto muito, porque, quem não tem uma ovelha negra na família? Jesus era ovelha negra. Ué: o povo de Israel queria só saber dos milagres, dos prodígios, mas não queriam saber da palavra. Não queriam entender o que é que aconteceu. E foi crucificado. Não é uma ovelha negra? É. É uma ovelha negra: é deixado de lado, é separado, não é compreendido...
Jesus era um rebelde. Desde ante as expectativas familiares, quanto diante das expectativas messiânicas.
De acordo com o evangelho segundo São Marcos, ao vê-Lo cercado por um monte de gente, Seus parentes dizem: "Ele está fora de si", ou seja, enlouqueceu. Por quê? Porque em vez de se assentar, casar-Se e ter filhos como a maioria dos judeus, Jesus andava por aí na companhia de 12 homens e muitas vezes também de uma multidão, pregando, curando as pessoas e expulsando espíritos imundos de algumas delas.
Há inclusive uma passagem bíblica em que Lhe avisam: "Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e desejam ver-te". Mas, Jesus lhes diz: "Minha mãe e meus irmãos são estes, que ouvem a Palavra de Deus e a observam". Ou seja: diferentemente da sociedade de Seu tempo, que preconizava os laços sanguíneos, Jesus institui um outro tipo de família: aquela que se reúne em torno de Si. Que está ou anda com Ele.
Quanto às expectativas messiânicas, quando finalmente Seus 12 apóstolos e mesmo alguns dentre o povo entenderam que Jesus era o Messias, esperavam que Ele os libertasse da opressão romana, ou seja, que agisse feito um rei-guerreiro, tal e qual Davi. Só que Jesus não fez demonstração de força, a não ser quando realizava milagres. Ele não confrontou diretamente o poderio político, econômico e militar de Roma - para desapontamento de muitos seguidores.
Jesus fugiu dos padrões. Como o Ungido, o Filho de Deus, frisou que veio para servir. Em um de Seus últimos gestos, antes da Sua crucificação, cingiu a própria cintura com uma toalha, lavou e enxugou os pés de Seus apóstolos - gesto esse, de acordo com historiadores, reservado a um escravo. Gesto esse, que Ele pediu para imitarmos.
Pensei em algo. Quando Rita Lee cantava: "Foi quando meu pai me disse: Filha/ Você é a ovelha negra da família/ Agora é hora de você assumir e sumir"; gosto de pensar no batismo de Jesus...
... Ele devia ter por volta dos 30 anos de idade e vivia aparentemente sossegado, no anonimato em Nazaré. Então, vai até o rio Jordão, batiza-Se e do céu vem uma voz que diz: "Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição". Ou seja: neste instante, Deus-Pai legitima o início da Sua missão, do anúncio do Reino de Deus, do socorro aos fracos, aos oprimidos, aos doentes, às mulheres, às criancinhas. Ele Se tornaria o rebelde com causa. Era o fim da "sombra e água fresca" do galileu.
Portanto, o padre que fez a homilia da Missa de Sétimo Dia da Rita Lee estava certíssimo: Jesus foi uma ovelha negra sim.
Incompreendido pelos Seus, pelos saduceus, pelos anciãos, pelos fariseus, pelos escribas, por Pôncio Pilatos, por seus soldados, por Herodes Antipas, pelos herodianos, por parte dos judeus... Era tanta gente contra! Porém, graças ao empenho de Seus apóstolos e discípulos - incluindo mulheres, como Maria Madalena -, Seu exemplo e Sua mensagem nos alcançaram e nos servem de inspiração, pra vencermos expectativas sociais que não sejam a de estender a mão e dar-se Ao Próximo.
