Jaime Augusto completou 6 meses, A Católica fez 2 anos
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Todos nós temos N questões pendentes a resolver: um regime a ser feito, uma contabilidade a ser concluída, uma monografia a ser entregue, um vazamento pra consertar. Dentre elas, acabamos elegendo uma ou duas que são mais prementes. A minha é: preciso ser mais leve. A aparente fragilidade do meu aspecto físico contrasta bravamente com o peso da minha alma. Não no sentido de "sabedoria" nem de "profundidade", e sim no de levar tudo, como dizemos aqui no Brasil, "a ferro e fogo".
Quase tudo para mim é pesado, complicado, intenso. Bastam uma desordem, uma dificuldade ou mero um contratempo para eu despender horas, dias, semanas a fio em debates com os outros e comigo mesma... Até esgotar a questão.
Estou cansada.
Cansada de levar tudo e todos tão a sério. De riscar com pincel atômico vermelho (ou preto) tantas coisas, dando a muitas delas uma importância, uma gravidade, que não têm.
Decidi ser leve. Lutar para ser leve.
Essa é uma questão que já abordei em pelo menos 2 Posts do Blog A Católica: A sustentável leveza do ser e A sustentável leveza do ser - parte 2.
A Lu Monte, responsável pelo delicioso Blog Dia de Folga, publicou recentemente um Post no qual relata que vem abrindo mão de roupas, CDs e maquiagens que acumulou ao longo de sua vida. A cada ponderação das centenas de coisas que adquiriu, ela concluía: "a felicidade não estava ali".
Eu também preciso me livrar de inúmeros "bens materiais".
Dentre eles, toneladas - e não estou exagerando - de papéis, xerox, recortes de jornais e de revistas. Agora, decidi guardar textos e trechos interessantes que li somente na memória e no coração, em vez de no meu armário - que já não comporta mais nada. Igualmente, quero me livrar de várias roupas - embora minha mãe ache que as tenho bem poucas e meu marido, que uso "sempre as mesmas"...
The Ballerina (1899), Pierre Carriere-Belleuse |
... Porém, o que me pesa mesmo, como escrevi no início deste Post, é tudo aquilo que amontoei na minha alma: mágoas, ressentimentos, raiva... Minha alma parece um closet cheio de cabides onde estão dependurados sentimentos e lembranças inúteis, uns sobre os outros e que só me fazem entristecer e sofrer. Como a Lu Monte, preciso me desfazer de um batalhão de supérfluos. Só que aqueles que mais me incomodam não são concretos, palpáveis, e sim abstratos. Não é tão simples me desfazer deles.
Essa reflexão me lembra pelo menos dois trechos dos Evangelhos.
No primeiro, de São Lucas, Jesus Cristo ensina o que devemos fazer para segui-Lo:
Enquanto caminhavam, um homem lhe disse: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que vás. Jesus replicou-lhe: As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. A outro disse: Segue-me. Mas ele pediu: Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai. Mas Jesus disse-lhe: Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus. Um outro ainda lhe falou: Senhor, seguir-te-ei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa. Mas Jesus disse-lhe: Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus. (Lc 9, 57-62)
No segundo, de São Mateus, famoso pela citação do "é mais fácil um camelo passar no buraco de uma agulha do que um rico se salvar", o Filho de Deus indica o que fazer, a fim de alcançarmos o Reino dos Céus:
Um jovem aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: Mestre, que devo fazer de bom para ter a vida eterna? Disse-lhe Jesus: Por que me perguntas a respeito do que se deve fazer de bom? Só Deus é bom. Se queres entrar na vida, observa os mandamentos. Quais?, perguntou ele. Jesus respondeu: Não matarás, não cometerás adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, amarás teu próximo como a ti mesmo. Disse-lhe o jovem: Tenho observado tudo isto desde a minha infância. Que me falta ainda?
Respondeu Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me! Ouvindo estas palavras, o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens. Jesus disse então aos seus discípulos: Em verdade vos declaro: é difícil para um rico entrar no Reino dos céus! Eu vos repito: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus. (Mt 19, 16-24. Também: Mc 10, 17-25 e Lc 18, 18-25)
O Mestre, há mais de 2 mil anos, já nos mostrava que juntar bens, sejam os concretos - como no caso do jovem rico -, sejam os abstratos - como na primeira passagem citada, na qual Ele diz para deixarmos o passado para trás, desembaraçando-nos do apego emocional e de recordações inúteis -, bem, Ele já nos mostrava que não há salvação para os acumuladores. Que é preciso literalmente perder para ter a vida eterna.
Pierre Carrier-Belleuse - 19th Century - Fonte: Own work AndreaFisherFineArt |
Na mesma linha, em uma de suas maravilhosas palestras proferidas em acampamentos na Canção Nova, Padre Léo instigava a audiência: "Cortem a galhada!".
Ele se referia às pessoas que são como "árvores de Natal": cheias de galhos, de enfeites, de acessórios. Trazem coisas demais. São carregadas, incômodas.
Esse tipo de gente, o sacerdote afirmava, precisa podar vários "galhos" de suas próprias vidas. Dentre eles, apontava, estão os relacionamentos que não acrescentam nada, que não nos fazem bem, que só nos causam uma sensação boba de culpa, do tipo: "Ah, você não me telefonou..." ou "Ah, até hoje você não me chamou para ir a sua casa...". Relacionamentos, enfim, cheios de cobranças, de um senso tolo de "dever favor", de obrigação...
Padre Léo também citou aqueles relacionamentos de interesse: "Ah, não posso deixar de procurar [lê-se: bajular] aquela pessoa de jeito algum... Vai que um dia eu preciso dela, né?". E assim, mantemos "amizades" com segundas intenções (como dizemos aqui no Brasil). Gente de quem nem gostamos tanto assim, de quem até falamos mal pelas costas, mas de quem muitos de nós vamos atrás, esperando ganhar algo em troca - no futuro próximo ou muito em breve mesmo.
Existe um "galho" em especial, que tem muito a ver com o "galho dos relacionamentos que não nos acrescentam nada": trata-se do galho do "eu me importo demais com o que os outros pensam".
Devido a esse galho - na verdade, um galhão -, fazemos escolhas que não têm coisa alguma a ver conosco, nos ligamos a pessoas (parentes ou amigos) que não nos fazem bem algum, acumulamos objetos e até abraçamos um modo de ser só para "agradar", "seduzir", "cativar", atrair uma pseudoadmiração dos demais. Acabamos escravos da ideia que fazemos do que os outros acham de nós, do nosso comportamento, das nossas posses. (A propósito, passei ao largo desse tema no Post d'A Católica Você tem medo de ser diferente?.)
Por tudo isso, quero ser leve. Leve como as bailarinas são. Porque a leveza delas, a leveza que demonstram ao dançar, não é fruto do acaso, e sim de muito esforço, de muita luta. Horas de treino diárias para exibir diante do público movimentos quase perfeitos, braços e pernas que parecem flutuar, que desafiam a gravidade, que impressionam pela delicadeza, pela precisão. Pela elegância.
Quero a minha alma e o meu corpo desafiando a gravidade da dor, do preconceito, da insignificância. Quero a minha alma se desprendendo do solo intrincado e arenoso do medo, do apego, da falta de perdão. Quero subir às alturas do relaxamento, da alegria, rodopiar segura de que se eu fizer aquilo em que acredito, como disse certa ocasião a atriz norte-americana Katherine Hepburn, pelo menos uma pessoa no mundo ficará feliz: eu.
Por falar em FELICIDADE, o Blog A Católica completou 2 anos de existência!
Meu trabalho por aqui resiste apesar das minhas atribuições de dona-de-casa e de mãe. Mãe desta fofura chamada Jaime Augusto, que completou 6 meses de vida! Duas celebrações de uma só tacada!
Dois tesouros: Jaime Augusto e o pai, Farney,
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A todos os demais ADORÁVEIS Gourmets, a quem venho agradecendo nominalmente a cada aniversário do Blog (confira a categoria Celebração), o meu muito obrigada por continuarem... Adoráveis!
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Para encerrar, convido você, internauta d'A Católica, a clicar e ouvir uma canção da Rita Lee que tem tudo a ver com a minha meta de Ser Leve como as bailarinas, de... Dançar. Enjoy it!
Dançar Pra Não Dançar
Dance, dance, dance
Gaste um tempo comigo
Não, não tenha juízo
Dê-se ao luxo de estar sendo fútil agora
Dance, dance, dance
Faça como Isadora
Que ficou na história
Por dançar como bem quisesse
Um movimento qualquer
Sobe à cabeça e os pés
Sinta o corpo
Você está solto
E pronto pra vir...
Dance, dance, dance
Passe as horas comigo
Nesse duplo sentido
No barato de ser um ser vivo, ainda
Dance, dance, dance
Num programa de índio
Vá rodar um cachimbo
Que é pra paz não dançar na tribo
Um movimento qualquer
Sobe à cabeça e os pés
Sinta o corpo
Você está solto
E pronto pra vir... Me amar
Ballettänzerin, obra de Ernst Oppler (1867-1929) |