19 de agosto de 2012

Mudei de casa de novo. (Falta mudar a alma)

Levei para a nossa nova casa a velha Ana Paula.
Invejo Zaqueu, que mudou de vida "logo" -
ou será que essa é apenas a impressão que a Bíblia me dá?

(Fotografia de Marina Fuzaro)

São quatro anos de casada e é a nossa terceira casa. Começamos com um quarto, fomos para dois e agora estamos com três. Mudança (como você deve saber), dá um trabalho... Sem contar o stress de chegar ao novo lar e encontrar móveis queridos, adquiridos com tanto esforço, danificados. (Eu juro que nunca mais contratarei a mesma empresa.)

Há pilhas de caixas vazias empilhadas na copa, tapando a nossa visão das janelas alheias e os olhares curiosos dos nossos vizinhos. Levou uns 20 dias para desempacotarmos tudo. Pôr todas as coisas no devido lugar. Fiz questão de lavar todos os nossos utensílios. Casa nova, vida nova, tudo limpo. Reluzindo a... Inox.

Apesar de tudo, mudar é bom. Afinal, salvo algumas exceções, dificilmente a gente se dispõe a ir para um lugar pior. Sempre corremos atrás do melhor. Daquilo que julgamos ser o melhor. Para nós, para nossos filhos (se os temos).

Debati outro dia com Mamãe Gali que seria ótimo se pudéssemos mudar as disposições da nossa alma do mesmo jeito com que deixamos uma casa e montamos outra, em outro lugar. Mas não é assim, não é mesmo? Por incrível que seja, deslocar cadeiras, estante, poltrona, berço, etc., etc., etc. e pôr roupas e objetos de cama, banho e mesa em armários e gavetas despendem bem menos trabalho (bote "bem menos" nisso) do que deixar de ser fofoqueira, deixar de ser "reclamona", deixar de ser rancorosa...

Eu queria mudar a mim mesma com a mesma presteza com que mudei (mais uma vez) de casa.

Porém, dou cabeçada em muros e pontas de faca, incorrendo nos mesmos erros, percorrendo vias e vielas que sei que dão em... Lugar nenhum.

Tenho - ou melhor, tive. Ou melhor: ainda tenho - dois avós que, me disseram, mudaram drasticamente de personalidade: Vovô Raul e Vovô João. Já escrevi sobre os dois aqui n'A Católica: Cartinha ao Vovô Raul e Meu avô tinha nome de santo. Contaram-me que o primeiro era severo, ciumento. E que o segundo era pirracento. Não os reconheço nessas descrições. O tempo os tornou pessoas doces e agradáveis. Foi com esses novos homens que convivi.

O tempo.

A mudança dos meus avós deu-se com o tempo.

Contudo, deu-se especialmente depois de eventos que marcaram suas vidas: Vovô Raul ficou cego e Vovô João perdeu a esposa, minha avó Nelita Fausta Ribeiro, num trágico acidente de carro. Ele ficou mais de 8 meses literalmente preso em uma cama: havia fraturado ambos os fêmures (ossos das coxas). A cegueira, a perda da amada e o hospital deixaram meus avós paterno e materno seres humanos burilados, que exalavam amor e serenidade em alto grau.

Na Bíblia, a impressão que tenho é que a mudança de algumas pessoas que tiveram um encontro com Jesus Cristo se deu não com o tempo, com o passar dos dias ou dos anos, e sim de uma hora para a outra. Como no caso de Zaqueu.

Zacchaeus being called down from the tree - Obra de 1908, por William Hole

Nosso Senhor o vê em cima de uma árvore e "Se convida" para jantar na casa daquele cobrador de impostos. O Evangelho de São Lucas (Lc 19, 1-10) nos relata que após aquela ilustre e sagrada visita, Zaqueu mudou de vida: decidiu dar metade de todos os seus bens aos pobres e devolver "o quádruplo" àqueles de quem havia roubado. Parece que ele se tornou um homem generoso e honesto logo depois do encontro com Cristo.

Será mesmo?

Nem com Pedro, São Pedro, o primeiro Papa, a rocha sobre a qual a Igreja Católica está edificada, aconteceu dessa maneira. Ele teve não somente um, mas N encontros com Jesus e, ainda assim, foi capaz de negá-Lo três vezes quando da prisão d'Aquele a quem chamou de "Cristo, o Filho de Deus vivo!" (Mt 16, 16). Conforme sabemos, São Pedro mudou mesmo em seguida ao Pentecostes - cinquenta dias após a ressurreição de Nosso Senhor.

Isso me dá esperanças...

Talvez Zaqueu não tenha se tornado um homem melhor de uma hora para a outra. Apenas o evangelho sintetizou a mudança dessa forma, dando-me a sensação de "celeridade".

No meu caso, serão necessárias muitas (bote "muitas" nisso) orações, Santas Missas e novenas e demasiada atenção de minha parte para alcançar o ponto aonde Zaqueu e São Pedro chegaram. A transição da minha alma do estado em que se encontra para outro iluminado e evoluído, melhor, enfim, vai se dar com o tempo. E já exige de mim mais paciência e muito mais cuidado do que tive durante os 20 dias em que desencaixotei e coloquei cada objeto meu, do meu marido e do nosso filho no devido lugar, na nossa nova casa.

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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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