9 de novembro de 2011

Maus exemplos de idosos

Quando se tem a fronte enrugada e muitos fios brancos na cabeça,
já passou da hora de levar o próprio crescimento a sério.
Chega de agir como se a vida não fosse acabar num dia

(Fotografia de צולם ע"י צביקה שיאון)

Acho que poucos de nós temos a consciência da MORTE. Ou de uma vida após a morte. Desde os mais jovens, a quem assistimos nos telejornais aqui no Brasil dirigindo automóveis embriagados e em alta velocidade, até os mais velhos. Não tratamos a vida como um bem precioso, se não por outra razão, ao menos por ela ser passageira. Agimos como se não temêssemos o Juízo Particular nem mesmo o Juízo Final*.

Como eu disse, parecemos gostar de rotular o comportamento dos jovens de "inconsequente". Geralmente, e conforme a mídia nos passa, são eles ousados e rebeldes o suficiente para se envolverem com drogas a ponto de colocarem em risco o futuro e a própria integridade física. Comentamos nas rodas de amigos ou em festas que a juventude de hoje "está perdida", "sem sentido": são egoístas e dão excessiva importância ao consumismo e às aparências.

Acontece, internauta d'A Católica, que o que me choca bem mais do que assistir ao exército de moças achando que um silicone nos seios será "A Solução dos seus problemas de autoestima" é ver idosos exibindo falhas de caráter que há muito já deviam ter superado. O que me choca não é assistir a alguns jovens desta geração esquecerem a solidariedade, desconsiderarem os regulamentos e desconhecerem os bons modos. E sim, os velhos fazerem tudo isso.

Vejamos.

Tempos atrás, o síndico (ou seria zelador?) de um prédio - um homem com a cabeça branquinha - ocupou descaradamente a vaga de um dos moradores, causando grande transtorno. Em vez de se desculpar e retirar prontamente o seu carro (que tinha o adesivo enorme de uma igreja cristã aqui de Belo Horizonte colado no vidro de trás), decidiu bater boca com o morador e ameaçá-lo. Tudo isso, diante da neta. Ele estava errado e não respeitou nem mesmo a presença da neta de menos de um ano de idade.

Soube desse fato e fiquei pensando na tristeza daquele idoso, que teoricamente está mais próximo da morte do que o jovem morador, uma pessoa de idade agindo com tamanha falta de escrúpulo, demonstrando tanta ausência de bom senso e de civilidade, dando para uma criança tão novinha um exemplo tão vívido de intolerância e arrogância.

Há também a história de uma idosa, cujo esporte favorito - entra ano, sai ano - é falar mal dos outros. Ela não poupa ninguém: nem filhos, nem netos, nem filhos de netos. Seja quem for que se assentar a seu lado ouvirá (com perplexidade ou satisfação, vá saber) as suas opiniões picantes sobre membros da família. Não sei se me espanto com quem ouve as suas "fofocas" em silêncio ou com quem não a ajuda a mudar essa conduta tão lastimável. E sabe o que me assusta ainda mais? Essa senhora é religiosa.

Pego o seu exemplo e transfiro o problema para mim e para você: como nos atrevemos a nos chamar de "pessoas religiosas", de "seres humanos crentes e tementes a Deus", se encontramos tanto prazer em criticar os outros? Em falar mal da vida alheia por puro esporte? Jogando ao vento nossas palavras cheias do veneno da maledicência? Atraindo para nós e para as vítimas da nossa fofoca uma energia tão negativa, tão pesada, tão cheia de inferno? Afinal, a palavra tem poder: de construir ou de destruir.

Conheço outra história.

Photo by Chalmers Butterfield

Sabe aqueles idosos que moram na casa de um dos filhos? A filha é casada, deu-lhe netos que ela ajudou a criar... Trata-se de uma idosa que literalmente faz parte da família. Pois então. Noutro dia, houve um quiproquó naquele núcleo familiar - um desentendimento. Em vez de contemplar filha, genro e netos com uma palavra de sabedoria para acalmar os ânimos, ela decidiu ficar calada, muda, quieta no seu canto, com a desculpa de "não se intrometer".

Ao saber do ocorrido e da falta de atitude da mãe, sua outra filha, que reside em outra casa, a questionou: "Ué, mãe, a senhora podia ter feito alguma coisa! Não querer se intrometer não é desculpa! Pra mim, você se acomodou e se acovardou. Por acaso quer passar aqui na Terra sem contribuir, sem deixar rastos?". Adorei a ponderação dessa segunda filha. Tem idoso que peca por envolver-se demais. Outros pecam pela omissão. Não ajudam. Arranjam uma justificativa qualquer para manterem os braços cruzados.

Para encerrar este Post d'A Católica, há o caso dos idosos que acham que os cabelos brancos, por si só, "inspiram respeito". E ai de quem contrariá-los. Eles não dão amor, nem carinho, nem atenção, nem mesmo bons modos, todavia exigem tudo isso (e mais um pouco) dos mais novos, murmurando aos quatro ventos se não o recebem. Pois bem. Tenho um recado para eles: respeito não se impõe. Não é condição sine qua non da velhice. Respeito se conquista. E se conquista sobretudo pelo exemplo.

Assim, uma idosa que não faz a sua parte, que não age com educação nem consideração para com outrem, não tem moral nenhuma de reclamar um tratamento gentil, condescendente, de quem quer que seja. Se é ranzinza, rancorosa e mal-educada não tem por quê se queixar de os outros a desprezarem, não darem bola para ela (como dizemos aqui no Brasil). A solução? Cristo a deu e está no Evangelho de São Lucas:

"O que quereis que os homens vos façam, fazei-o também a eles" (Lc 6, 31).

Por que algo tão simples é tão difícil de ser aplicado?

Enfim, internauta: o que me espanta neste mundo de meu Deus, mais do que as "loucuras" da juventude, são os idosos que cometem a irresponsabilidade de negligenciarem o próprio crescimento, a própria evolução como seres humanos - especialmente se eles se dizem religiosos. Eis a maior calamidade que poderia me ocorrer: tornar-me uma velha tão infantilizada e atrasada, quanto os exemplos que relatei neste Post. Saúde e Paz!!

Como despedida, convido você a rezar comigo a prece a seguir.

Fotografia de Mbjerke

Oração do Jovem
(Orações de todos os tempos da Igreja, Cléofas)

Aqui estou, Senhor, cheio de juventude e esperança. Sinto em meu corpo e em meu íntimo as forças da vida que me impulsionam para o crescimento e para a plenitude da idade adulta.

Sois Vós, ó Pai, que me chamastes à existência e me dais uma missão a cumprir neste mundo.

Sois Vós que me concedeis a graça da fé e alimentais em mim a esperança da salvação.

Sois Vós que me ofereceis o Vosso amor e pedis que eu Vos ame, amando a meus irmãos deste mundo.

Ajudai-me, Senhor, para que eu desenvolva e empregue para o bem as energias que tenho em mim. Que eu seja capaz de colaborar para uma sociedade mais fraterna, mais verdadeira e mais justa. Que eu não desanime em minhas falhas, não me deixe arrastar pelos maus exemplos e não perca o ânimo nas decepções.

Concedei que a minha presença e as minhas atitudes façam renascer a esperança dos mais velhos e contribuam para levantar os que fracassaram. Que eu conserve a coragem de ajudar e não caia nunca nas garras do egoísmo.

Que o amor que eu sinto nascer em mim não se apague, que o meu coração esteja sempre aberto para Vós e para todos.

Iluminai-me com Vossa sabedoria para que eu saiba distinguir entre o bem e o mal, a verdade e o erro, o que edifica e o que destrói. Dai-me docilidade para respeitar e ouvir os que têm mais experiência, principalmente meus pais e aqueles que são responsáveis pela minha formação.

Que estes chamados para a verdade e para a justiça que ressoam em meu interior se concretizem pela adesão consciente à Igreja.

Dai-me o Espírito Santo para que, com os outros jovens, e a exemplo de Jesus Cristo, eu me transforme em sangue novo a perpetuar a salvação. Assim seja.


P.S.*Para saber sobre os Juízos Particular e Final, mencionados no início deste Post d'A Católica, acesse estes textos do site da editora Cléofas: O que é o juízo particular? e O que a Igreja ensina sobre o Juízo Final?.

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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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