15 de setembro de 2011

Eu queria ser um objeto

Ao visitar um local como o Museu do Ipiranga - ou Museu Paulista -,
a vontade que dá é a de sobreviver aos séculos 

e se espantar com o futuro...

(Fotografia de Ana Paula~A Católica - acatolica.com)

(Fotografia de Ana Paula~A Católica - acatolica.com)

Visitei o Museu do Ipiranga ou "Museu Paulista" dois dias depois da celebração da Independência do Brasil. Fiquei encantada com a conservação de todos os objetos expostos, a ponto de me perguntar diversas vezes: "Serão meras reproduções ou peças realmente originais, de época?".

Vi móveis que pertenceram a Santos Dumont e ao Padre Feijó, porcelanas chinesas e francesas, escarradeiras, vestidos, chapéus e até brinquedos. Tudo aparentemente novinho, lustrado. Conservado. Fui percorrendo as salas - divididas por temas: o café, as armas, o cotidiano... -, lendo as plaquinhas com as identificações e as datas, deixando-me envolver pela alusão à atmosfera dos séculos XVIII e XIX.

Num tempo não tão distante assim, tudo era feito à mão aqui no Brasil: quem quisesse algo mais sofisticado precisava de bastante dinheiro, a fim de adquirir mercadorias importadas - especialmente da França, Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha. Não havia tanta tecnologia. Não tinha televisão na sala de estar. As cadeiras (de madeira) eram dispostas de modo que uns olhassem para o rosto dos outros. A "estrela" não era o telejornal nem a telenovela, e sim a conversação.

Pensei nos donos daquelas cristaleiras, máquinas de escrever, ferramentas, luvas, lavabos de porcelana pintados de flores, daquela boneca sem vestido. Todos esses objetos sobreviveram a eles. Enquanto seus corpos descansam a sete palmos abaixo da terra ou tiveram as cinzas lançadas ao mar ou num jardim, seus objetos sobreviveram. Estão em ótimo estado. Reluzentes, palpáveis - não obstante o vidro que nos separa, a nós visitantes.

Nós nos admiramos com as fotografias de escravos, as armaduras do século XVI - uma delas, usada em uma procissão pela festa de São Jorge -, os grandes sinos de bronze, os leques de tecido e quadros como o magnífico e imponente Independência ou Morte (1888), de Pedro Américo, e fico imaginando que são eles, os objetos, que se espantam conosco.

Com a nossa cara de admiração, curiosidade ou tédio. Sim, tédio. Nem todo mundo tem paciência com o passado. Alguns percorrem as salas e soltam um bocejo. Outros, um suspiro. Alguém franze a testa. Vários passam direto, desestimulados pela parca luz e as muitas letrinhas das placas descritivas. Mamãe Gali e eu fizemos diferente: percorremos quase tudo, deixamos de ler quase nada.

Jardim do Museu do Ipiranga
Fotografia de Ana Paula~A Católica (acatolica.com)

Queríamos mergulhar naquela imensa piscina de concreto amarelo e piso multicolorido, numa tentativa aflita de nos embebedarmos de... História. Excitadas, chamávamos a toda hora: "Ana Paula, venha ver isto!"; "Mamãe, corra para ver aquilo!" - impacientes quando uma e outra se agarravam diante de algum objeto. Sim, os objetos - estrelas do Museu Paulista (que eu insisto em chamar de "Museu do Ipiranga").

Num dia - mais cedo ou oxalá bem mais tarde -, como todos os donos daquelas mercadorias, fotografias e quadros incríveis, também não estarei mais aqui. E sim, a sete palmos do chão. Quem se lembrará de que passou por esta terra maravilhosa, de "fontes murmurantes" e "palmeiras onde canta o sabiá", alguém como eu? Daí, o título deste Post d'A Católica: por mais que meu lugar seja o Céu e que lá eu queira morar, aqui é Bão Demais. Quisera ser um objeto para sobreviver aos séculos e também me espantar com os visitantes do futuro...

Ao fundo, o Museu do Ipiranga - Fotografia de Magali

Magali no jardim do Museu do Ipiranga
Fotografia de Ana Paula~A Católica (acatolica.com)

Serviço - Museu Paulista OU Museu do Ipiranga
Ingresso: R$ 6. Meia entrada, ou R$ 3, apenas para estudantes e professores; menores de 6 e maiores de 60 anos de idade não pagam. A entrada também é gratuita para todos no primeiro domingo de cada mês.
Horário: terça a domingo, das 9h às 17h.
Endereço: Parque da Independência, Sem Número, Bairro do Ipiranga, São Paulo/SP - BRASIL
Telefone: 11-6165-8000
Site: www.mp.usp.br
**Não é permitido usar o celular, filmar nem fotografar dentro do museu.**

Licença Creative Commons
Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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