Enquanto não despertarmos do nosso sono, o Reino dos Céus continuará como um filme bonito, numa tela de cinema. Distante da realidade e de todos nós. (Imagem: Reprodução-Internet) |
Não tem nada demais. Alguns cenários, dois personagens principais e uns cinco coadjuvantes, que falam pouco mais do que algumas frases. Mas há o roteiro brilhante, a trilha sonora maravilhosa de Francis Lai - ganhadora do Oscar - e as atuações realistas e contagiantes dos atores Ali MacGraw e Ryan O'Neal. Com pouca firula e bastante intensidade, Love Story (Estados Unidos, 1970), dirigido por Arthur Hiller, cativa desde os corações mais duros até os amantes dos efeitos especiais, que "torcem o nariz" para uma história simples, contada na tela sem muitos recursos de tecnologia.
Como bem observou meu marido Farney, Love Story é um drama.
Mamãe Gali o assistiu no cinema. Disse-me que todo mundo (todo mundo mesmo) saiu da sala escura de projeção "fungando o nariz", ou seja, emocionadíssimo. Realmente, o final do enredo, depois que você acompanha o desenrolar do destino das personagens Jennifer Cavalleri e Oliver Barrett IV, é de "cortar o coração". Poucas vezes na vida - e olhe que já vi muito filme em mais de 30 anos - assisti a uma história de amor tão bonita, sincera, profunda e bem-humorada. Bem-humorada também. Eis o diálogo que Jenny e Oliver travam, logo que se conhecem:
Jennifer Cavalleri: Você parece estúpido e rico.
Oliver Barrett IV: E se eu disser que sou inteligente e pobre?
Jennifer Cavalleri: Eu sou inteligente e pobre.
Oliver Barrett IV: E o que faz você tão inteligente?
Jennifer Cavalleri: Eu não sairia para tomar um café com você. Eis o que me torna inteligente.
Oliver Barrett IV: E se eu disser que nunca chamaria você para tomar um café comigo?
Jennifer Cavalleri: Bem, é isso que o torna estúpido.
Claro que, na cena seguinte... Eles aparecem na cafeteria!
(Imagem: Reprodução-Internet) |
A força de Love Story está em nos fazer acreditar - nós, espectadores - que uma relação como a de Jenny (Ali MacGraw) e Oliver (Ryan O'Neal) existe. É possível. Uma conexão honesta, na qual não há espaço para "máscaras" (fingimento ou traição) nem superficialidade. Independentemente da opção religiosa que fazem (ou da falta dela), Jenny e Oliver representam o ideal de todo relacionamento: uma ligação profunda, porque fundada na verdade, no amor e, como visto acima, no humor. Acontece que isso... É uma quimera. Uma ilusão.
Como bem observou a própria Ali MacGraw, hoje aos 72 anos de idade, em conversa recente com a apresentadora de TV Oprah Winfrey, Love Story trata do sonho do amor romântico. Na vida real, a história de Jenny e de Oliver é simplesmente inalcansável, ainda que, ao assisti-la, sejamos convencidos da sua possibilidade. O filme imortalizou a frase: "Amar é jamais ter que pedir perdão". Aos risos, Oprah Winfrey afirmou: "É justamente o contrário! Quem ama tem que pedir perdão. Sempre".
E por que escrevi tudo isso até agora, internauta d'A Católica?
Porque estive pensando... Em Jesus, na Sua mensagem, e em nós, cristãos. Afinal, o que é o Reino de Deus, senão um sonho de Cristo para nós?
Nele, os que têm fome serão fartos; os que choram se alegrarão; os que são odiados, expulsos, ultrajados e que têm o nome repelido como infame "por causa do Filho do homem" terão um grande "galardão no céu" (Lc 6, 20-23). O sonho de Nosso Senhor para nós, diferentemente do que parece ser Love Story, é possível. Contudo, está tão distante quanto a ilusão criada na grande tela branca do cinema.
The Sermon of the Beatitudes (1886-96), by James Tissot |
Quando olhamos para o mundo lá fora (corrupção de alguns políticos e de síndicos de prédios; violência no trânsito; miséria nas periferias) e, também, para nós mesmos (nossas mesquinharias, nosso egoísmo) dá um desânimo... Difícil crer que o Reino de Deus possa, num dia, acontecer em nós. Entretanto, é tão bom sonhar com ele!...
Sonhar com o dia em que manteremos a nossa língua grande dentro da boca antes de xingar ou falar mal de alguém. Sonhar com o dia em que pais, patrões, governantes, síndicos, delegados, policiais e juízes não abusarão de sua autoridade para oprimir os que lhes obedecem. Sonhar com o dia em que parentes vão parar de criticar e invejar uns aos outros e (o que é pior) de fingir que estimam quem, pelas costas, desprezam.
Sonhar com o dia em que sogras ou cunhadas amadurecerão. Dia em que, finalmente, reconhecerão que seus filhos ou irmãos se casaram e, agora, devem fidelidade e lealdade em primeiríssimo lugar à mulher que escolheram e desposaram.
Sonhar com o dia em que católicos despertarão de seu sono. A fim de finalmente entenderem que o bom cristão não é quem assiste à Santa Missa em latim; bota o filho no catecismo aos quatro anos de idade; não falta a um evento na paróquia; só veste blusa com gola até o pescoço e saia que cobre, no mínimo, os joelhos; nem quem recrimina os irmãos que seguem outras crenças, chamando-os de "Perdidos em outras religiões", como ouvi certa vez.
Infelizmente, eu assevero a você: praticamente (eu disse "praticamente", porque há exceção) nenhum católico que conheço foi testemunho forte e bonito o suficiente para eu retornar à Igreja. Voltei, porque através da TV Canção Nova fui conhecendo a Doutrina Católica. Fui me dando conta da sua imensa beleza. E de como quase ninguém a coloca em prática.
CLICK na imagem para conhecer. (Reprodução-Internet) |
A propósito, nós somos péssimos exemplos uns para os outros.
Cansei de ver "de camarote" católico dando valor a futilidades como um sofá de R$ 7 mil ou a outros bens materiais, como utensílios de lojas caras. Por outro lado, eu mesma, noutro dia, dei um chilique tão grande, perdi a paciência por uma coisa tão tola, tão pouca, que meu primo Flávio Augusto (que até onde sei é espírita kardecista) deve ter pensado: "Se a Ana Paula, que é católica 'fervorosa', age desse jeito, eu é quem vou continuar espírita mesmo...".
Enquanto insistirmos em praticar, pensar e falar O CONTRÁRIO do que Cristo prega - o verbo aparece no tempo presente, porque Ele está conosco "todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28, 20) -, deixaremos o Seu Reino no mesmíssimo nível da história romântica de Love Story: um sonho bonito e distante numa tela de cinema. Uma quimera da qual nos esquecemos assim que as luzes se acendem e deixamos a sala de projeção: tudo o que temos são olhos marejados. E só.