6 de junho de 2011

Conversa sobre a celebração do matrimônio

Os divórcios são tantos, que há gente que torce o nariz
para um novo casal que se forma.
Até padres (que tristeza!) fazem isso, alarmados pelas estatísticas

(Fotografia de Paata Vardanashvili from Tbilisi, Georgia)

(Fotografia de Joe Mabel)

Poucas vezes na vida vi um padre tão mal-humorado. Frio e seco. Mais seco do que um mandacaru. Ele ministrava a celebração de um casamento. Um pouco de alegria e um sorriso fariam bem. Mas, nada. Semanas depois, vi o mesmo sacerdote, que pertence à Arquidiocese de Belo Horizonte. Desta vez, ele estava à frente de uma missa de Bodas de Prata: os 25 anos de matrimônio de um casal da paróquia. Que diferença!

O mesmo padre, que era seco feito mandacaru, agora tornara-se um homem sorridente. Solícito. Até gracejos fez, durante a celebração. Na hora, pensei: "Será que tanta educação e simpatia é porque o casal é dizimista?". Como alguns de nós católicos sabemos, alguns padres dão tratamento diferenciado àqueles paroquianos que são dizimistas fiéis. (Não escrevo como crítica, e sim como constatação. Pura e simples.)

Certamente, aqueles dois diante do tal sacerdote eram dizimistas. Porém, a euforia do pároco não se devia apenas a isso. Como ele mesmo afirmou: "Sempre fico muito mais feliz em celebrar as Bodas de Prata, do que um casamento, porque os casamentos hoje em dia não duram nada!...". (!!!) Por mais próxima da verdade que a fala daquele padre estivesse, achei um absurdo. Um absurdo. Fiquei estupefacta.

Portrait photo of a wedding couple at Swindon, Wiltshire, England
in the 1920s or 30s - Fotografia de Fred C. Palmer

Porque alguns casais resolvem desfazer o compromisso de viverem juntos Até Que A Morte Os Separe, isso desqualifica a celebração do matrimônio? As estatísticas do divórcio - conforme reportagem da revista Época, entre 1998 e 2008, os divórcios e as separações cresceram 33% no Brasil - justificam um sacerdote celebrar um casamento com frieza, secura e desânimo, sem demonstrar felicidade pelo casal, nem animação?

Os párocos (alguns deles) adoram "puxar as nossas orelhas", devido a nossa (suposta) pressa em "cair fora" da Santa Missa ou em não sermos fiéis no pagamento do dízimo. Seria ótimo se todos os paroquianos fossem dizimistas. Seria maravilhoso também viver em um mundo no qual quem prometeu ficar casado Para Sempre respeitasse o que disse. Diante de testemunhas. Contudo, a realidade é bem diferente desses ideais.

O que não dá razão à má vontade de um padre diante de um novo casal que se forma. Um novo casal "não vale menos" do que um que está junto há 25 ou 50 anos - as chamadas Bodas de Ouro. O comportamento daquele sacerdote da Arquidiocese de BH, ao qual me refiro neste Post, foi um balde de água fria nos convidados que assistiam à cerimônia - imagine no próprio casal, ansioso em começar uma nova vida juntos.

Fotografia de Mila Zinkova

Pois este Post d'A Católica, internauta, é dedicado a um dos meus primos mais amados e admirados: Christian Marcellus. Internauta fiel do Blog, na manhã desse primeiro domingo de junho, tive a ventura de receber em mãos o convite de seu casamento. Nas cores cinza e branco. Tamanho A4. Grande. Como meu primo. Como o evento que ocorrerá em uma das tradicionais igrejas da minha cidade, aqui no Brasil.

Estou radiante, como se eu fosse a própria mãe do noivo ou a sua dama-de-honra. A alegria do meu primo será a minha própria alegria. Os casamentos, particularmente aqueles celebrados na Igreja Católica, são pra lá de especiais, de importantes, de sublimes. Merecem aplausos, confetes, champanhe, chuvas de arroz e nossos melhores pensamentos e sentimentos - tudo a que um novo casal que se forma tem direito.

Por isso, Chris, SE, por um acaso, o pároco que ministrar a celebração do seu matrimônio com a doce Giselle agir como aquele a que me referi neste Post d'A Católica, saiba que ele não terá razão: o Sim que você e a sua amada dizerem um para o outro será o Começo Do Resto De Suas Vidas. Respeitarei vocês dois do mesmo jeito que respeito um casal que esteja junto há 50 ou 75 anos - as (quase) inalcansáveis Bodas de Diamante. Todos os casais são Uma Só Carne. Diante de Deus.

Fotografia de Cyrille (Suleiman) Romier - Roumir - Ar Dialt

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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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