30 de julho de 2014

Carta da mãe

Tela: Jules Being Dried by His Mother (1900), Mary Cassatt

Meu filho:
não vou criar caso.

Quero esses dias seus
que, a princípio,
se sucedem morosamente
sejam povoados de risos,
saltos, mergulhos,
cambalhotas,
olhares admirados
com as pocinhas
no chão da área,
o mosquitinho intruso,
o caminhão guardado
que peguei de volta,
o DVD a que tanto gosta
de assistir.

Não há tempo para mim.

Olho pros livros
e choro,
pras programações no jornal
e choro,
pra cama estirada e prazenteira
e choro.

Não há tempo para mim.

Ele é seu,
dos seus interesses banais,
da sua necessidade de amor,
do caderno que me estende:
"Desenha uma bandeira
de Minas Gerais, mamãe" -
quando eu só quero escrever.

Letras que você
não conhece,
palavras que você
não identifica,
mas tão cheias
de sentido pra mim,
como estas:
Tu sabes que te amo.
Tu sabes que te amo.
Tu sabes que te amo.


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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