6 de abril de 2013

Meu coração é de pedra

Fotografia de Andrea Schafthuizen

Triste constatação: meu coração é de pedra. Ninguém quer ter um coração assim. Só que... Aconteceu. Não foi fácil me dar conta disso. Percebi aos poucos, pelas coisas que pensava, pelas coisas que dizia. Se a boca fala aquilo de que o coração está cheio, então estou lascada.

Eu não era assim.

Pelas cartas e bilhetes que recebi num passado distante de amigos e colegas de classe, pareço ter sido a mais amorosa das criaturas. Aonde foi parar tanta doçura? Retrocedo e constato que tudo começou quando entrei na universidade. A dureza de tudo: do comportamento dos professores, dos colegas... Uma - até então incompreensível - competitividade começou a se instalar no meu mundo, quando tudo o que eu conhecia era uma torcida para que tudo corresse bem. Para que todos se dessem bem.

Eu acreditava que todo mundo era bom. Sério. Achava que parentes, tios, primos, etc., que todos quisessem e torcessem para que todos e cada um fossem felizes.

Aí, ano após ano, enquanto eu crescia (quem me dera que tivesse sido em "sabedoria e graça"), bem, fui vendo que não é bem assim. Que há ressentimento. Principalmente inveja. Com que gosto falamos das mazelas e tropeções alheios!... Não me canso de me surpreender com a nossa incapacidade de vibrar e comemorar as vitórias alheias! No fundo - e na superfície - preferimos que ninguém chegue lá.

Fotografia de Vera Kratochvil

As pedras que hoje formam o meu coração foram se juntando. (Aliás, ainda estão...) É triste, mas já não sei como quebrá-las. Aliás, sei, mas estou fraca demais para pôr a demolição em ação. Um comodismo se apoderou de mim. Pareço não ter mais a disposição do esforço de me mover em direção ao outro e tentar quebrar o círculo da indiferença, da mágoa. Parece mais prático deixar tudo como está.

Assim, não dirijo um elogio a quem espera uma palavra minha. Não supero a distração (proposital?) de quem não me disse "Feliz Aniversário". Em troca, não digo a essa pessoa "Feliz Aniversário" também. Vou devolvendo no mesmo nível o tratamento que recebo, em vez de pagar ódio (ou indiferença) com amor - como Jesus Cristo ensina. Meu orgulho próprio está nas alturas. E daí se me tratam como se eu não existisse? Deus sabe que estou aqui. Isso é que importa.

Pacientemente, vou convivendo e carregando este coração de pedra.

Não peço nem espero a compreensão de ninguém, porque estou errada. Porém, é difícil mudar o hábito da frieza, que está se arraigando em mim. Talvez, apenas talvez, seria mais fácil me assentar com cada pessoa que me magoou e explicar a ela por que não consigo tratá-la com o calor de antigamente. Contudo, sei que seria loucura. O problema não está nos outros, e sim, em mim.

Nosso comportamento não deve depender de como os outros nos trataram ou tratam. Como a Bíblia ensina, nossas atitudes e sentimentos devem reproduzir o exemplo de Nosso Senhor. Que pagava ódio (ou indiferença) com amor. Engraçado. Recentemente assisti ao filme São Filipe Néri - Prefiro o Paraíso e, em uma das cenas, um jovem pergunta ao santo italiano: "Por que é tão difícil pôr em prática os ensinamentos de Jesus?". Filipe Néri, sucintamente, responde: "Porque é simples".

Fotografia de Petr Kratochvil


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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