21 de maio de 2014

Dias Ocres

Tela: Landscape (cerca de 1840-50), J. M. William Turner

Está nascendo!
Está nascendo!
Por favor:
não interrompa.
As cascas caem
finas como escamas
e ao baterem
no chão
levantam poeira.

Como num jogo
de tênis,
danço o pescoço
pra esquerda e
pra direita,
tentando antecipar
a cara da gema.

Comprei um manual
e nele vem escrito:
Pise em Ovos.
É o que faço.
Cada palavra que
escolho é como
um fio que rompo
pra desativar
o que vai pôr tudo
a perder.

Perdeu. Perdi.
Não ouvi estrondo,
mas voou pelos ares
a gema e a clara
escorreu em mim.

Chorei.
(Quem perde sorrindo?)

Voltei pro silêncio
que antecedia
as cascas trincando.
Voltei pro desassombro,
pros dias ocres.
Pro feijão duro.
No espelho,
uma feição triste
me diz Bem-vinda
outra vez.

Tela: Inverary Pier, Loch Fyne - Morning (1845),
Joseph Mallord William Turner


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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