5 de julho de 2013

Valeu pela HONESTIDADE, São Tomé!


Conhecido (injustamente) como o apóstolo do ver pra crer,

Tomé é exemplo de cristão que NÃO usa máscaras e
NÃO tem medo de assumir as suas dúvidas

(Imagem de George Hodan)

São Tomé é daquele tipo de gente que não usa máscaras. Ele é o que é. Fala o que pensa. Não tem medo de se passar por ridículo, de ser desmentido pelos fatos nem de (aparentemente) morrer. E pensar que, desde os tempos de catecismo, "aprendemos" que ele é apenas aquele apóstolo que duvidou da ressurreição de Jesus. Que disse que só acreditaria que Nosso Senhor ressurgiu da mansão dos mortos vendo, tocando, sentindo:

Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Os outros discípulos disseram-lhe: "Vimos o Senhor". Mas ele replicou-lhes: "Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei!".

Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: "A paz esteja convosco!". Depois disse a Tomé: "Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé".

Respondeu-lhe Tomé: "Meu Senhor e meu Deus!". Disse-lhe Jesus: "Creste, porque me viste. Felizes aqueles que creem sem ter visto!" (Jo 20, 24-29).

Pois bem.

Tomé me representa. E pode representar você também.

Todos nós, de um jeito ou de outro, queremos e pedimos provas que reaqueçam a nossa fé. Sem elas, esmorecemos, vacilamos, abandonamos. Podemos não ter tido o privilégio do santo "incrédulo" de ver, tocar e sentir as feridas causadas pela crucificação de Jesus Cristo. Porém, em muitos momentos da nossa vida, também solicitamos confirmações de que o Filho de Deus é real. De que Ele existe.

É ou não é?

The Incredulity of St Thomas (1634), Rembrandt

Tem gente que reza assim:
- "Meu Senhor, se Você existe, mande chuva pra regar minha hortinha...";
- "Deus, se Você é Pai mesmo, salve a vida do meu tio, que está na UTI";
- "Faça o meu time ganhar, então vou acreditar 'mais' em Você..."; e por aí vai.

Muitos de nós, quando oramos, colocamos a condição de os Céus atenderem a nossas preces como A PROVA de que Jesus esteve por aqui há mais de 2.000 anos, caminhou entre os nossos, ressuscitou e está "sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso" - como recitamos no Credo, também chamado de Símbolo dos Apóstolos.

São Tomé é gente como a gente...

... Ou como alguns de nós.

Porque há aqueles que duvidam, que têm a fé titubeante, entretanto não admitem.

Dizem que creem, comportam-se como se acreditassem, até são assíduos frequentadores da Santa Missa ou de outros templos ou centros cristãos, porém, não agem como tal. Não pensam como tal. Não falam como tal. São São Tomé às avessas: "Eu até creio, mas... Melhor eu fazer esta fofoca aqui; melhor eu falar mal da minha sobrinha ali; melhor eu dar o troco errado acolá; melhor eu dizer pr'o meu irmão que a despesa com o almoço ficou em tantos reais... E pegar 'a sobra do dinheiro' pra mim...".

Quando procedemos desse jeito, quando o nosso pensar, falar e agir desmentem a nossa fé, somos piores do que São Tomé o foi naquele dia que se sucedeu à ressurreição de Cristo: o apóstolo pelo menos proclamou a sua incapacidade de acreditar que Jesus está vivo...

... Enquanto muitos de nós nos escondemos sob a máscara de bons católicos, bons espíritas, bons evangélicos, que acreditam sem precisar tocar nas feridas de Nosso Senhor, e praticamos coisas que, se as paredes contassem, morreríamos de vergonha. Rezaríamos na hora para virarmos avestruzes, a fim de encontrar um buraco quente e fofo na grama verde, onde esconder a nossa cara vermelha e a consciência pesada feito chumbo.

Grazing ostrich (Struthio camelus australis) -
Fotografia de Adamantios

Voltemos a São Tomé.

No livro Os Cinco Minutos dos Santos (Editora Ave-Maria, 2006), J. Alves relata: "São Gregório Magno [540-604] (...) afirma que a incredulidade de Tomé foi mais proveitosa para a nossa fé do que a fé dos discípulos que acreditaram logo". Espere aí: "acreditaram logo"?

Pode-se ter a impressão, lendo o Evangelho de São João, Capítulo 20, que os outros apóstolos eram "melhores do que Tomé", porque creram. Ora, eles creram, porque viram: "Vimos o Senhor" (Jo 20, 25). Além disso, mesmo vendo, todos eles hesitaram. É o que nos narra São Lucas:

Enquanto ainda falavam dessas coisas, Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: "A paz esteja convosco!". Perturbados e espantados, pensaram estar vendo um espírito. Mas ele lhes disse: "Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas nos vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que tenho".

E, dizendo isso, mostrou-lhes as mãos e os pés. Mas, vacilando eles ainda e estando transportados de alegria, perguntou: "Tendes aqui alguma coisa para comer?". Então ofereceram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele tomou e comeu à vista deles
(Lc 24, 36-43).

Não obstante, é somente a Tomé que a história reservou "a injustiça de ser chamado de incrédulo". Assim, e de acordo com a obra Guia Visual da História da Bíblia (National Geographic, 2008), o apóstolo "tem papel central na história da Páscoa, em que ele preenche o papel arquetípico do desconfiado e cético".

Conforme visto (ou lido) no início deste Post do Blog A Católica, depois de 8 dias, após haver aparecido à Maria Madelena e aos demais apóstolos, Jesus reaparece e diz a Tomé: "Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé" (Jo 20, 27). Ao que o apóstolo responde, "com um breve e alto grito de fé": "Meu Senhor e meu Deus!" (Jo 20, 28).

The Incredulity of Saint Thomas (circa 1601-1602), Caravaggio

Incredulità di San Tommaso (ingrandimento) - circa 1601-1602 - Caravaggio

Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini, em Um Santo para Cada Dia (Paulus, 1996), analisam:

Ninguém até aquele momento, nem mesmo Pedro e João, havia pronunciado a palavra Deus dirigindo-se a Jesus. Ao titubeante e sofredor Tomé e a sua necessidade interior de clareza devemos as confortáveis palavras de Cristo, epílogo do Evangelho e ponto de força para os futuros crentes: "Porque me viste, Tomé, creste. Felizes os que não viram e creram".

Os autores continuam:

Tomé, que mais do que qualquer outro precisa da Páscoa para ter uma resposta definitiva as suas interrogações, provocou, com sua ausência da comunidade dos apóstolos visitada por Jesus ressuscitado, outro providencial incidente: (...) "Põe o teu dedo aqui e vê minhas mãos!... Não sejas incrédulo, acredita!".

Segundo nota da Bíblia Sagrada - Edição de Estudos (Editora Ave-Maria, 2011): "O que ocorreu a Tomé é o que sucede hoje a qualquer cristão. Se Jesus deixa-o tocar as chagas é porque os discípulos devem vê-lo, pois têm de ser testemunhas oculares da ressurreição, para dar testemunho aos outros. Cristãos posteriores a esses fatos, temos de crer na palavra e no testemunho da Igreja apostólica".

Fotografia de Petr Kratochvil

Enzo Lodi, em Os Santos do Calendário Romano (Paulus, 2007), fala-nos de outro "traço biográfico" do santo, qual seja, "o de certa coragem demonstrada por Tomé, por ocasião da ida de Jesus a Betânia, onde era procurado para ser morto: "Vamos também nós, para morrermos com ele" (Jo 11, 16).

O autor também indica um terceiro traço biográfico: seu "caráter racional".

Ainda conforme visto (ou lido) no início deste Post d'A Católica, Tomé não tem medo de se passar por ridículo. Ele é como aquele aluno que, na sala de aula, não pensa duas vezes antes de levantar o braço e fazer uma pergunta pertinente (ou não) à professora. Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini discorrem sobre o que ocorreu na Última Ceia:

Jesus tinha reunido os discípulos no cenáculo e preparava-os para os grandes acontecimentos de que seriam protagonistas. Suas palavras têm um tom de despedida: "Para onde eu vou vocês sabem e sabem também o caminho". Todos calam tomados pela emoção; só Tomé ousa objetar: "Senhor, nós não sabemos para onde vais, e como poderemos conhecer o caminho?" [Jo 14, 5].

A resposta de Jesus é outro presente, que introduz a Tomé e também a nós no âmago do mistério trinitário: "Jesus lhe respondeu: 'Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se vocês me conhecem, conhecerão também meu Pai. Desde este momento vocês o conhecem".

São Tomé, portanto, embora haja proposto aos colegas ir a Jerusalém morrer com Cristo, mas tenha "sumido" na Sexta-Feira Santa, ainda assim, é exemplo de honestidade pra mim. Espero que pra você que lê estas linhas também. Admitir "eu não sei" não é fácil. Fácil é pôr uma máscara de "bom cristão" de todo o tamanho e andar por aí como se estivesse confortável consigo mesmo, como se não tivesse dúvidas, como se a própria fé não fosse colocada à prova quando uma pessoa querida adoece, por exemplo.

Daí a importância daquela oração singela: "Senhor, eu creio... Mas, aumente a minha fé!".

E como cantar é rezar duas vezes, deixo você com o estupendo cantor Eugênio Jorge e a sua versão de Meu Senhor e Meu Deus:

Meu Senhor e meu Deus,
Meu Senhor e meu Deus,
Meu Senhor e meu Deus,

Eu creio, mas aumenta minha fé

Dá-me uma fé viva, dá-me uma fé nova

Traduzida na vida
Testemunhada...
... No amor pelos irmãos

Saúde e Paz!!


Fotografia de Petr Kratochvil


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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