Tenho 35 anos de idade e um doce orgulho...
... O de haver aprendido tantas coisas e ter outros zilhões delas a aprender. Minto. São dois doces orgulhos: o segundo é o de estar disposta a aprender. Porém, reconheço: adquirir conhecimento é fácil. Difícil é colocá-lo em prática. Por isso, neste primeiro Post de 2012, divido com você o meu mais recente aprendizado: não adianta falar.
Sempre fui faladeira. Desde bebê. E dessas crianças que, apesar de ser boa aluna, a professora se via obrigada a colocar lá na frente da classe, longe dos outros alunos, a fim de "fechar a matraca" e não atrapalhar ninguém a prestar a atenção na aula. Até hoje, pessoas próximas se queixam comigo: "Cale a boca, Ana Paula! Você fala demais!...".
Confesso: é um prazer organizar ideias, articular sons, expressar argumentos. Falar.
Todavia, neste 1º dia de janeiro de 2012, fui brindada com provas cabais de que é uma perda de ar, de saliva e de tempo tentar convencer alguém daquilo que só você experienciou. Muito pouca gente está disposta a abrir os ouvidos, inclinar o corpo em sua direção e desprender-se de suas convicções para tentar apreender (ou seja: captar) o que você diz.
Saio das conversas com pessoas "fechadas" completamente exausta e triste.
Não que eu tenha querido impor a qualquer uma delas o meu ponto de vista. Minha frustração reside em que nenhuma esteve disposta a me ouvir, a me entender. Eu digo: "O lápis sobre a mesa, de onde eu estou, me parece vermelho". Sem nem ao menos virar a cabeça para dar uma olhadela no móvel, meu interlocutor afirma: "Não. É verde".
E quando o interlocutor é uma pessoa bem mais velha?
Nesse caso, minha consternação triplica. Verdade. Porque é desconcertante alguém de mais de 60 anos de idade não saber ouvir, não ter a humildade de reconhecer que a perspectiva do outro pode sim ser interessante, bonita e reveladora. Alguém mais velho que se fecha nas suas "verdades eternas" é, no mínimo, muito desagradável de se estar junto, de se conviver.
Vai ver que é por isso que muitos jovens têm horror de gastar alguns minutos de seu tempo ao lado de seus tios ou avós. Ou mesmo de seus pais. Eles - os jovens - querem consideração, atenção, respeito. Os "adultos metidos a besta" não se dispõem a dar-lhes isso e depois se queixam de que estão "abandonados", de que ninguém conversa ou dá bola (como dizemos aqui no Brasil) para eles.
Hoje, 2 de janeiro de 2012, cheguei à conclusão de que não quero me tornar uma senhora chata e repulsiva, que grita e quer enfiar na cabeça do interlocutor suas crenças datadas. Quero namorar o silêncio.
Cartaz de 1941-1945 - Autor Desconhecido - Fonte: U.S. National Archives and Records Administration |
Sim, eu sei.
Se você me conhece pessoalmente, não apenas pelo Blog A Católica, deve estar "morrendo de rir" dessa minha decisão dificílima (eu, tagarela notória que sou). Uma Resolução de Ano Novo mais árdua do que parar de fumar ou emagrecer 60 quilos até dezembro. Sim, é um desejo estapafúrdio. Uma quimera. Mas, não custa sonhar e... Tentar.
No jardim desta minha vida de balzaquiana, quero cultivar a rosa do silêncio. Já existe muito alarido no mundo. Minha voz não faz a menor diferença em meio a tanta algazarra e ruído. É tempo de me calar. E de me afastar de gente barulhenta. De descansar a garganta, a cabeça e a vontade imensa de convencer os outros de que estou certa. Quem disse - quem disse, Meu Deus - que eu estou?