14 de novembro de 2014

Persistente

Tela: Тачыльшчык (1928), Siarhiej Kaŭroŭski

O que dá regularidade
à vida
são as coisas.

As páginas mudam,
ficamos diferentes:
o filho e pai vira avô
a filha e neta, mãe
e quem nem existia
surge na história filho.

Não nos reconheceríamos,
se não fossem
as coisas.

Como a pedra de amolar
que revi hoje.

Redondinha
com furo no meio -
páginas atrás -
era um volante
ou o anel
de um dedo imenso.

Depois descobri:
cinza e dura,
só servia pra apurar
o corte
das facas cegas da mamãe.

Partida ao meio, dois meio-
círculos:
eis como a encontro
na página deste dia.

Confortei-me em saber
que a pedra dura
ainda está por aqui.


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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