31 de janeiro de 2024

Xô, Hipocrisia!

Tela: "Maldições contra os fariseus"
Ano: 1886-1894 - Artista: James Tissot

Evangelho Segundo São Mateus (Mt 23, 23-24)

Cresci rodeada de revistas femininas: tanto minha madrinha Suzana, irmã da minha mãe, quanto minha Tia Beth, irmã do meu pai, as assinavam. Nova, Elle, Cláudia... Eu as lia todas.

Numa delas, o psicoterapeuta Dr. Flávio Gikovate tinha uma coluna. Um de seus textos, provavelmente o que mais me marcou, dizia que liberdade é aliar vida e pensamento. Ou seja: liberdade é poder viver, pôr em prática, aquilo em que se acredita.

Na Bíblia, de acordo com o saudoso Padre Léo, o pecado que Jesus mais condenava era a hipocrisia. Hipócrita é aquele que não vive conforme o que pensa. Cristo acusa os fariseus - que pretendiam viver segundo os mandamentos, mas derrapavam na sua interpretação - de serem assim: hipócritas.

Sempre que leio a Bíblia e chego à parte em que Jesus, indignado, chama-os de "cegos", "insensatos", "sepulcros caiados", "serpentes", "raça de víboras"... Eu visto a carapuça. Não leio os evangelhos mantendo distância dos vilões, como se eu estivesse longe da possibilidade de errar como eles. Não me acho melhor.

Quando Cristo lhes diz: "Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade. Eis o que era preciso praticar em primeiro lugar sem, contudo, deixar o restante"; é para mim que Ele está pregando.

Porque, como o Dr. Gikovate observou, só somos livres se praticamos aquilo em que acreditamos. Não podemos parecer justos aos olhos dos outros, se por dentro estamos cheios de iniquidade.

Como cristãos, nos assemelhamos aos fariseus quando acreditamos na misericórdia, mas condenamos (por exemplo) os pobres, julgando que estão nessa situação porque "fazem corpo mole", "querem depender do Bolsa Família" etc...

... Esquecendo-nos de que vivemos num sistema capitalista que visa ao lucro, alimenta a competitividade e não proporciona emprego para todos.

Uma pessoa misericordiosa estenderia a mão ao pobre sem culpá-lo por ele estar nessa situação. Sendo ou não responsabilidade dele - e muitas vezes, acredite, não é -, nosso papel é seguir os passos de Jesus, que ajudava sem perguntar pelo passado da pessoa. Só assim aliamos o pensamento à vida e nos distanciamos de ser hipócritas.

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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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