Tela: The Silk Merchant, Japan (1892), Robert Frederick Blum |
O que guarda sob
esses panos?
Camadas
de mesuras, conveniências,
discrepâncias, desajuste.
Se seus nervos
estão à flor da pele,
imagine-os
sob os panos.
Ah, os panos.
Quantas retas,
lombadas, metros,
morros, declives
e poeira terei de
comer
até ver seus dedos
desabotoarem
essa camisa colorida?
Quantos silêncios
terei suportado?
Sou como o menino
que pula no lado de
fora,
tentando segurar
no ar
a vista do que vai
dentro.
Não sou beija-flor.
Cá no escuro,
onde não pode
me ver,
sua luz alcança
do topo do Itacolomi
à Mina de Chico Rei.
Me perco
nas coisas belas.
É pecado,
meu Deus,
barganhar com santo
pra ser notada?
Não sou cruel:
não arranco Jesus Cristinho
do colo de Fernando.
Mas beijo sua
tonsura
(que é dia dele)
e imploro:
"Traga-o pra mim!
Mesmo com nervos.
Mesmo cheio de panos!".