Tela: Arrival of the Normandy Train, Gare Saint-Lazare (1877), Claude Monet |
As coisas não morrem
de repente.
Às vezes, nem as pessoas.
Acompanhei a saga
do meu avô-poeta
no Box 16 de uma UTI
e vi
que a morte faz hora.
Sua falta de pressa
até engana:
cheguei mesmo a pensar
que ele sairia andando.
Falemos das coisas.
A partida foi anunciada,
mas se demoram na estação.
Abraços forçados,
discursos vazios,
lágrimas que evaporam
(antes de nascer)
tomam lugar
do que já foi concebido
e quer chegar.
Mas as coisas quase
mortas
se impõem
como árvores velhas,
frondosas,
cujo visgo e lodo
cheiram ácido,
mas amaciam.
A gente chega a blasfemar:
Trem Bão Demais.
Não é.
Tudo tem um limite.
Até as sequoias.
Como pessoas,
coisas também morrem.
E por mais que se
arraste
e traga aflição,
hei de ver este engodo
sumir da borda da estação.
Tela: Rain, Steam and Speed – The Great Western Railway (1844), Joseph Mallord William Turner |